Marta Quaresma Ferreira em 2023-12-13
A cloud híbrida e a multicloud permitem às organizações usufruírem do melhor de dois mundos. No entanto, é necessário definir uma estratégia clara, que tenha em atenção não só as necessidades do negócio, mas também a implementação de tecnologia que acrescente valor à operação das empresas. Cisco, IP Telecom e TotalStor, a RICOH Company debatem os desafios da cloud híbrida e multicloud e as oportunidades para os Parceiros
O crescimento da adoção da cloud híbrida e multicloud é notável, mesmo em períodos econimicamente menos favoráveis. Pode afirmar-se que este modelo de infraestrutura é a opção principal para a maioria das organizações portuguesas?
Rui Antunes, Cybersecurity Sales Specialist, Cisco: “Nós temos visto a adoção de cloud e multicloud. Mesmo neste contexto económico menos favorável, mesmo aí, a adoção de cloud pública pode trazer vantagens pelo seu modelo de consumo, baseado em OpEx e não em CapEx. E esse é um modelo que é bastante interessante, principalmente para projetos que estão a começar, quer se sejam pequenas startups, quer sejam novas iniciativas que nascem dentro de organizações que já estão consolidadas” Hugo Silva, Cloud Leader, TotalStor, a RICOH Company: “Num estudo recente da Gartner, que se intitula ‘The Future of Cloud Computing’, em 2027, ‘From Technology to Business Innovation’, a maioria das empresas vê hoje a cloud como um disruptor tecnológico. As clouds públicas, por exemplo, permitem-nos ter novas tecnologias e acesso a elas de uma forma mais rápida. Mas o que está projetado para 2027 é que a maioria das empresas já verá a cloud como um disruptor de negócio e um facilitador da inovação. Isto é, uma forma muito mais rápida de conseguir chegar a soluções inovadoras” As empresas estão a procurar maneiras de integrar as suas infraestruturas locais (on-premises) com soluções em cloud de maneira mais eficiente. Isso inclui a implementação de ferramentas e tecnologias para facilitar a comunicação e integração. Qual o estado da arte neste domínio? Filipe Frasquilho, Diretor de Negócio Datacenter & Cloud, IP Telecom: “Já existe um conjunto de ferramentas disponíveis, globalmente nas entidades, que permitem que as entidades consigam fazer esse caminho de passar alguns workloads da parte do on-prem – e estou a falar do on-prem, não private cloud – para modelos private cloud ou cloud pública. No entanto, aquilo que é mais fundamental e que é importante as empresas terem é claramente uma estratégia de migração para a cloud. Muitas já o têm, mas uma boa parte das empresas ainda não o fez” Rui Antunes, Cisco: “As infraestruturas locais e as clouds públicas são tradicionalmente abordadas de forma quase separada e isso traz, de facto, complexidade na comunicação e na integração entre esses dois ambientes. E aqui a estratégia da Cisco passa por ter uma solução de comunicação e de segurança que é transversal às várias clouds públicas e à cloud privada” A decisão de manter parte dos workloads on-premises é uma estratégia já consolidada, por vezes resultando num moimento pendular, de regresso à cloud privada. Quais são os fatores que influenciam os clientes a tomar essa decisão e de que forma é que isso se alinha com as suas metas de negócios? Hugo Silva, TotalStor, a RICOH Company: “Há aqui essencialmente dois grandes fatores para isto estar a acontecer: O primeiro deles tem a ver com a soberania dos dados, ou seja, a organização ter a certeza de que os dados que está a armazenar, seja onde for, mais ninguém consegue aceder aos mesmos; e o segundo ponto tem a ver com alguma má experiência que tenha ocorrido no passado” Filipe Frasquilho, IP Telecom: “É muito importante perceber e tentar ajudar as entidades que querem fazer o caminho para a cloud a fazê-lo numa ótica de ter as coisas numa cloud privada, em que pode estar ou não, por exemplo, num data center do próprio cliente ou num data center alojado externo e depois, a partir daí, fazer uma ligação. Nós poderemos fazer isso e temos feito isso com alguns clientes: ajudá-los a fazer uma migração para a cloud de alguns workloads, tendo o cliente no mesmo local ou nos mesmos data centers a componente física e a componente cloud” Rui Antunes, Cisco: “Há aqui vários fatores em jogo nesta decisão da migração dos workloads para a cloud e do regresso a casa dessas workloads. E um deles é o fator regulatório. Há organizações que estão sujeitas a regulamentação muito restrita, relativamente ao local onde os dados são acedidos e armazenados. Por causa dessas exigências regulatórias, por vezes, a utilização de cloud pode não ser de todo viável ao exigir processos e tecnologias de tal forma exigentes que tornam a adoção de cloud demasiado complexa” A cibersegurança na cloud é crucial para a transformação digital das organizações. Como é que as empresas encaram esta componente e qual é o ponto de partido comum para investimentos nesta área? Rui Antunes, Cisco: “O ponto de partida da estratégia de cibersegurança é uma decisão estruturante de escolher entre utilizar as soluções de segurança de cada fornecedor de cloud, e que são diferentes entre si, e diferentes das soluções de segurança, tipicamente utilizadas na infraestrutura local ou, em alternativa, escolher uma solução de segurança que seja transversal, uma solução que se aplique de forma consolidada e transversal às políticas de segurança” Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Nós temos visto no conjunto alargado de clientes que temos maturidades completamente diferentes. Desde a maturidade que existem planos de segurança e que as entidades já utilizam ferramentas que são agnósticas à cloud onde estão algumas aplicações ou alguns workloads, é fundamental para conseguir ter um plano bem definido e conseguir medir – que é o objetivo principal –, perceber, para depois poder corrigir se houver algum problema”
Hugo Silva, TotalStor, a RICOH Company: “Há um investimento significativo e até há orçamentos dedicados às áreas de segurança nas várias organizações. O tema de segurança é um pilar de qualquer uma das organizações e ninguém quer ver os seus dados na Internet ou quer ficar sem operar ou laborar e ter muitos prejuízos associados a isso. Importa salientar que as entidades governativas, seja a nível nacional ou principalmente europeu, estão a trabalhar arduamente nestes temas, nomeadamente com a introdução do NIS 2” A flexibilidade é uma necessidade vital para as organizações e a remoção de barreiras na adoção de soluçoes cloud é essencial. Como é que a cloud híbrida e multicloud estão a ser moldadas para atender a esta necessidade de flexibilidade, considerando os diversos requisitos de negócios? Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Na grande maioria das entidades as áreas de IT já estão a trabalhar com o negócio para que consigam responder o mais rápido possível, e estamos a falar já com flexibilidade e agilidade interessante porque, caso contrário, se isso não acontecesse como já aconteceu anteriormente, digamos que a cloud seria um motor para o shadow IT muito maior. E atualmente já não é, principalmente pelas razões relacionadas com o compliance e com a segurança” A gestão eficiente dos custos em ambientes complexos de multicloud, o risco de lock-in e as questões relacionadas com a atualização ou descontinuidade de aplicações por parte dos fornecedores são desafios enfrentados pelos Parceiros. Que estratégias existem para simplificar esta gestão e otimizar os custos? Hugo Silva, TotalStor, a RICOH Company: “Esta gestão dos workloads, em si, entre as diferentes clouds, também pode ser automatizada. Além de dar a analítica, pode também, automaticamente, mover os workloads entre estas várias componentes, como seja mais eficiente. Algumas destas soluções, é importante realçar, têm a grande vantagem de se pagar elas próprias, ou seja, o custo de licenciamento corresponde a uma percentagem da otimização financeira que é conseguida ao longo do tempo”
Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Nós temos de tentar ajudar as empresas e aqui tentamos ajudar muitas vezes, mesmo que não seja na nossa cloud, em ter coisas que nós acreditamos que o modelo é híbrido e multicloud. Há coisas que têm de estar nas outras clouds, porque há funcionalidades que estão lá e que são melhores, não vale a pena. E, portanto, temos é de tentar ajudar os clientes a perceber se as vantagens são superiores às desvantagens e aí, claro, é uma decisão que o cliente tem de tomar” No mercado de cloud híbrida e multicloud, quais são os principais desafios e oportunidades que os Parceiros enfrentam na atualidade? Como é que se estão a adaptar para responder a estas dinâmicas em constante evolução? Rui Antunes, Cisco: “O primeiro desafio é a própria decisão de adotar ou não cloud. Os Parceiros podem ser um importante apoio em todo o processo de tomada de decisão, trazendo toda a sua experiência nos vários aspetos envolvidos: financeiros, processos, tecnologia, planeamento. Tomada essa decisão, penso que há um grande desafio que é esses ambientes envolverem potencialmente a utilização de um elevado número de tecnologias na infraestrutura local, em cada cloud, e nas várias áreas de comunicações, segurança, computação, armazenamento” Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Ninguém tem dúvidas de que o crescimento [da cloud] vai ser, na realidade, na ordem dos dois dígitos, anual. E, portanto, os Parceiros são fundamentais aqui para perceber e para ajudar a tirar proveito desse crescimento, que é algo que os clientes necessitam. Os clientes querem a maioria das suas soluções baseadas em serviços. Pago pelo que consumo. É muito mais fácil para o negócio, torna as coisas mais ágeis, dá a possibilidade de termos crescimentos e, principalmente, também ter a possibilidade de crescer” Hugo Silva, TotalStor, a RICOH Company: “Existem muitas oportunidades para os Parceiros, para os integradores de serviços, mas aqui para mim importa realçar o tema de focar-se claramente no que é que é pretendido e não dispersar para todo lado, ou fazemos tudo um pouco e fazemos todas as clouds públicas e clouds. Assim o resultado será muito complicado. É fundamental perceber que deve haver uma separação e um foco específico para a área de cloud, isso é um ponto essencial, diferente do que existe na área do data center tradicional” A revista digital IT Insight, a publicação “irmã” do IT Channel que se destina ao cliente final, decisores empresariais e públicos, realizou este mês um fórum sobre Hybrid Cloud e Multicloud. Veja o que os Parceiros e fabricantes disseram sobre a gestão de custos na cloud, o lock-in e as soluções de gestão multicloud. Nuno Brás, Solutions Engineer, Cisco: “Temos de usar a escalabilidade das ferramentas, que vão fazer este trabalho por nós, nomeadamente em termos dos custos, algo que facilmente se liga numa dada empresa, num dado ambiente, que se liga a qualquer uma, e que obtenha toda essa informação, que está disponível por API” Pedro Matos, Principal Business Development, Keepler: “Na gestão de recursos de cloud e multicloud há uma coisa que é fundamental: a gestão eficiente de recursos. Em qualquer cloud provider, qualquer vendor, quando estamos na cloud, têm ferramentas que permitem gerir os custos” Pedro Morgado, Head of CyberSecurity & Cloud Solutions, Redshift: “Importante é ter alguma preditividade sobre aquilo que são os custos na cloud. Para isso já existem realmente algumas plataformas que podem ser utilizadas para gestão de multicloud” André Ribeiro, Data Center Services Sales Engineer, Schneider Electric: “Cada organização é única e, portanto, cada abordagem para simplificar a gestão desta multicloud também pode variar, mas, ainda assim, passam sempre por aplicações baseadas agora atualmente por inteligência artificial e machine learning, que vão tomar depois as melhores decisões com base na informação” Miguel Barreiros, Sales & Marketing Director, Securnet: “Uma boa estratégia é ter uma solução integrada. Essa integração permite fazer uma gestão da complexidade multicloud que existe, otimizar recursos, ajudando-nos a reduzir as questões relacionadas com a segurança, através da criação de políticas muito restritivas” Vasco Sousa, Channel Account Manager, Arcserve: “Na componente de backup e de disaster recovery acabamos por ter aqui a vida um bocadinho mais facilitada. Obviamente temos conectores para clouds públicas para alojamento de backups, mas também temos as nossas próprias soluções cloud, e aqui a questão de podermos ter a temática de backup e disaster recovery dentro de um fabricante pode, de alguma forma, simplificar este tema” Nelson Fernandes, Datacenter & Hybrid Cloud Business Unit Manager, Logicalis: “Fazer aqui o enfoque ao serviço que hoje a Logicalis apresenta aos seus clientes – o Production Ready Cloud FinOps – que, na prática, providencia ao cliente todas estas questões através, naturalmente, de uma plataforma inteligente baseada em inteligência artificial e machine learning” |