Margarida Bento em 2020-6-17

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Enterprise Networking: o novo paradigma

O mundo mudou nos últimos meses; a forma como as empresas operam e como as pessoas trabalham sofreram alterações radicais e, com elas, mudaram também as suas necessidades de networking. A perspetiva que o mercado tinha no início do ano é muito diferente do que se verifica atualmente

Enterprise Networking: o novo paradigma

A forma como trabalhamos está a mudar – ou, mais precisamente, a mudança que se estava a verificar acelerou de tal modo que, como muitas outras tendências tecnológicas, deu um salto de anos numa questão de semanas.

Muitas empresas que anteriormente já se estavam a debater com as exigências de conetividade para suportar a sua transformação digital – que estavam a realizar de forma voluntária consoante as suas capacidades – foram obrigadas, de um dia para o outro, a fornecer conectividade remota à grande maioria da sua força laboral e, em muitos casos, a mudar a forma como oferecem os seus serviços. Isto significa que recursos que já de si constituíam um desafio são postos sob uma enorme pressão para responder a estas novas necessidades.

E não se trata apenas de uma questão de intensidade – o tipo de soluções necessárias evoluiu significativamente nos últimos meses. A explosão do teletrabalho transformou o que antes eram perímetros LAN bem definidos e securizados em redes complexas e dispersas, criando necessidades muito diferentes do que eram há alguns meses atrás.

Por outro lado, a disrupção económica fez com que muitas empresas se tornassem reticentes em fazer investimentos significativos, criando novas dinâmicas de mercado.

“Todos os analistas referem que o mercado de networking caiu entre 10 e 12% na EMEA, pelo que podemos esperar alguma mudança nas nossas expetativas”, comenta Pablo Collantes, Southern Europe Channel Regional Manager da Aruba, acrescentando, contudo, que estão também a ser criadas muitas oportunidades no mercado: “Para nós, o edge verificou crescimento, e há grandes oportunidades na segurança – o perímetro de segurança das empresas aumentou dez, cem mil vezes, dependendo do número de colaboradores. O teletrabalho é uma enorme oportunidade para os Parceiros”.

Ao mesmo tempo, Antonio Navarro, Country Manager D-Link Espanha e Portugal, relata “uma desaceleração radical do mercado em termos de projetos de networking empresarial”, prevendo, contudo, que muitos desses projetos sejam retomados com o regresso à normalidade.

“Muitas empresas começam a aperceber-se da necessidade crítica de dispor de uma infraestrutura de rede poderosa, flexível e segura para que possam continuar a oferecer serviços de forma remota como se estivessem no escritório, pelo que muitas deverão investir em switching, VPN, wireless, etc., e isto possivelmente servirá de catalisador para um salto definitivo para a cloud”, refere, acrescentando que “veremos uma aposta crescente na gestão centralizada das redes, tanto no wireless como em switching, soluções software-defined e cloud pura”.

Software defined-networking 

Durante as últimas décadas, o hardware foi a estrela do enterprise networking. Contudo, estas novas necessidades das empresas exigem uma abordagem de networking que possibilite uma maior agilidade, eficiência e segurança, com base na gestão centralizada e remota das redes. Como tal, o software-defined networking (SDN), em particular SD-WAN, constitui uma grande oportunidade para os Parceiros.

O suporte de SDN a nível empresarial é cada vez mais necessário, sobretudo, sublinha Antonio Navarro, “em projetos de muita alta densidade de porte nos quais se procure redução de custos, gestão unificada multiplataforma, maior fiabilidade e menor tempo de inatividade e um nível alto de personalização”.

Redes intent-based permitem um uso mais eficiente da largura de banda das redes WAN, permitindo topologias de rede resilientes e alinhando, mais que nunca, a conectividade com as necessidades do negócio. Ao permitir acesso a novos serviços e aplicações com base na cloud, as redes SD-WAN reduzem o tempo de implementação de serviços, criam resiliência no acesso às aplicações e oferecem uma arquitetura de segurança robusta – capacidades de que muitas empresas necessitam urgentemente.

“As redes SD-WAN são uma solução facilmente vendida as-a-Service, permitindo alargar o portfólio dos Parceiros numa área na qual, no passado, apenas fornecedores de serviços o podiam fazer”, acrescenta Pablo Collantes.

Networking as-a-Service

Outra consequência da pandemia fortemente sentida pelo Canal é a reticência das empresas em fazer grandes investimentos a curto prazo, face à disrupção económica que se está a fazer sentir. Em conjunto com a necessidade de tecnologia que suporte as suas novas necessidades de networking, os modelos as-a-Service surgem como solução ideal.

Este será, garante Antonio Navarro, um dos setores tecnológicos com maior crescimento previsto para os próximos anos.

“Plataformas que permitam a gestão remota e a venda de serviços em modelos multi-tenant, multi-layer e multi-site serão um dos pilares tecnológicos mais importantes”.

“As empresas vão exigir mais flexibilidade nos seus investimentos, pelo que a transição do CapEx para OpEx vai ser uma tendência”, garante Pablo Collantes. “Isto é uma realidade no mercado de software, e no mercado de hardware também o será”.

Como tal, os Parceiros vão seguir esta tendência, e os mais inovadores já estão de momento a evoluir para Managed Service Providers e as suas ofertas vão mudar de acordo com isto, garante o responsável.

Segurança 

A segurança é um tema muito debatido no contexto da proliferação do teletrabalho. De um dia para o outro, empresas que até ao momento tinham implementado medidas de segurança a pensar apenas na proteção de um perímetro fechado e geograficamente restrito tiveram de fornecer a dezenas, centenas ou mesmo milhares de colaboradores acesso às aplicações que usavam para trabalhar no escritório.

Inicialmente, a prioridade foi a continuidade do negócio – ignorando o facto que fornecer acesso às aplicações significa fornecer acesso à rede corporativa, sem nenhumas das medidas que anteriormente garantiam a sua segurança. Isto causou, e continua a causar, um grande número de vulnerabilidades com as quais a maioria das empresas não tem a capacidade de lidar apenas com as soluções de networking que dispunham originalmente e que, até agora, se mantiveram adequadas.

“Esta nova realidade trará uma maior consciência, tanto ao Canal como às empresas, da necessidade de conectividade ilimitada e segura com a possibilidade de gestão remota da rede sem necessidade de deslocamento de técnicos, pelo que veremos um maior investimento em soluções de segurança”, refere Antonio Navarro.

Nesta fase inicial, denota Pablo Collantes, todas as empresas adotaram soluções temporárias, mas vão ter de começar a pensar no longo prazo para estabelecer soluções estáveis e a segurança será um fator chave a ter em consideração.

“Todas as políticas de privacidade implementadas pelas empresas nas suas sedes têm agora de ser expandidas para as casas dos seus colaboradores, ou pelo menos de parte deles”.

Para isto acontecer, acrescenta Antonio Navarro, o Canal será “essencial como motor de implementação destas políticas e da adoção de novas tecnologias”.

Impacto no Canal

As previsões feitas pelo mercado no início deste ano, em grande parte, deixaram de ser aplicáveis à realidade em que vivemos agora, e o Canal terá de se adaptar.

Todas as áreas que possam oferecer valor aos negócios verificarão crescimento, prevê Pablo Collantes: “serviços de localização, soluções de visibilidade, analítica – no fundo, todas as infraestruturas de networking que ofereçam dados importantes aos decisores das empresas”.

Independentemente das áreas e soluções de networking que ganharem primazia no mercado, os modelos de negócio, por muito que tenham sido no passado adequados, terão também de acompanhar a mudança.

Antonio Navarro prevê que, mais do que áreas, o principal fator de sucesso será o tipo de proposta que os fabricantes podem trazer ao mercado.

“Fabricantes que possam transmitir uma mensagem de solução global, com um preço atrativo, uma margem interessante para o canal e um bom suporte pré e pós-venda, destacar-se-ão na hora de começar um novo projeto de networking”, refere.

Relativamente aos Parceiros, prevê que haja uma redução da abrangência, sobretudo nos pequenos parceiros. Ainda assim, isto virá a fortalecer os parceiros que tenham apostado na formação e em desenvolver um portfólio e modelo de negócio que tragam valor acrescido aos seus clientes.

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