Rui Damião em 2023-10-12
As tecnologias, como é o caso do IoT, contribuem para que hoje as cidades e os edifícios possam ser mais inteligentes e autónomos. Divultec, Eaton, Forescout Technologies, HPE Aruba Networking e Schneider Electric partilham a sua visão sobre o mercado de Smart, IoT e Edge e as oportunidades e desafios para os Parceiros
Como tem evoluído o mercado de smart, IoT e ede em Portugal?
Luís Correia, Business Developer Manager, Divultec: “Constatamos uma tendência crescente na procura por estas soluções. Tipicamente, os clientes que querem estas soluções são clientes que alavancam processos internos para se manterem competitivos, para encontrar novos mercados onde sabem que têm de ser diferenciadores daquilo que a concorrência faz. Há um conjunto de clientes que aposta muito neste tipo de projetos. Na área da indústria, por exemplo, querem ter um controlo mais assertivo e granular da produção; na saúde querem melhorar a experiência que têm com os seus clientes” Pedro Lourenço, Systems Engineer, HPE Aruba Networking: “Nos últimos anos, os clientes vinham pedir soluções de conectividade pura e, neste momento, vêm com o trabalho de casa feito; quando aparecem com um pedido de conectividade já querem perceber como podem tirar partido da integração de tecnologias, como IoT, para obter telemetria, obter analítica que lhes permita otimizar estes processos. Há grandes espaços públicos que estão a tentar perceber como podem trabalhar com estas novas tecnologias e estamos a chegar a um ponto de maturidade novo” André Ribeiro, Data Center Services Sales Engineer, Schneider Electric: “Além de todos os benefícios já estarem bem consciencializados pelos tomadores de decisão dentro das empresas, parece que ainda está difícil de escoar essa adoção para uma computação de proximidade, talvez por falta de capitalização das empresas; pode ser um fator que está a comprometer este escoamento desta evolução do mercado. Acreditamos que o mercado tem potencial para crescer, mas existe uma resistência – até pelas prioridades estabelecidas – que teimam em tomar esta decisão, mas o mercado tem potencial para crescer” O movimento da cloud para o edge, do centro para a periferia, continua? Quais são as principais tendências tecnológicas e como orquestrar e automatizar a gestão de ambientes mais complexos e híbridos? Tiago Caneiras, Data Center Segment Sales Manager, Eaton: “Estamos a falar de um crescimento grande no edge – até 2025, cerca de 50% dos dados já começam a ser geridos no edge. Estamos a dar esse passo que não há volta a dar. O grande desafio – e é uma tendência tecnológica – é, no fundo, orquestrar isto tudo; com software, fazer uma total integração das plataformas. O que tentamos sempre é algo que consiga comunicar tanto no edge como na cloud, até para o caso de acontecer alguma coisa no edge. Esse desafio pode ser resolvido com automatização e gestão global das duas soluções e em Parceria” Fabrício Brasileiro, Global Alliances Director, GSI & MSP, Forescout Technologies: “As tendências de mercado é que o edge está em ascensão perante esta mudança de paradigma como um todo. O investimento neste tipo de infraestrutura cresceu numa taxa média de, pelo menos, 22% ao ano em todo o mundo – em Portugal está na faixa dos 17% –, mas as empresas procuram processar os dados junto da fonte de geração e reduzir latência, o que traz benefícios para quem está a produzir dados e para o cliente final. Esta migração de cloud para o edge continua a ser uma tendência dominante no mercado tecnológico” O 5G e o Wi-Fi 6 e 6E vão potencias a utilização de dispositivos IoT e outros dispositios, pela disponibilidade e velocidade. Quais são as tendências das novas redes e como se podem tornar as mesmas mais flexíveis, escaláveis e robustas? Pedro Lourenço, HPE Aruba Networking: “Uma tendência que temos vindo a ver desde há algum tempo é na consolidação das tecnologias de IoT e de comunicação no mesmo equipamento de Wi-Fi. Um access point já não é só um access point de Wi-Fi; funciona também como gateway onde se consegue integrar outros rádios deste elemento, ou mesmo só ter um conector que permite expandir para outro tipo de protocolos, e isto vai permitir que seja feita uma otimização da infraestrutura que é colocada nas organizações, não sendo necessária criar uma rede paralela”
André Ribeiro, Schneider Electric: “A tendência das novas redes é sempre mais velocidade, menor latência, ter em tempo real uma maior disponibilização de dados para tomadas de decisão. Consideramos que é necessária uma camada de digitalização para conectar toda a infraestrutura através de software e é a partir desse software que consegue disponibilizar dados para tornar a infraestrutura mais flexível para uma melhor tomada de decisão no caso da infraestrutura precisar de agilidade. Esses dados também vão ser utilizados para escalar quando assim for necessário” Fabrício Brasileiro, Forescout Technologies: “Uma nova tendência de novas redes é o acrónimo SDN. A inteligência de software permite que as redes se tornem capazes de comunicarem e fazer uma adequação de ‘n’ redes diferentes, trazendo a escalabilidade, melhores velocidades e adequação da rede existente. Estes softwares de rede permitem a definição da rede centralizada e programada, o que facilita a gestão de redes flexíveis para, por exemplo, otimização de tráfego e de dispositivos, principalmente IoT e OT, e a entrega de serviços de forma muito ágil” Luís Correia, Divultec: “Qualquer projeto de conectividade que nos seja pedido já é definido, por base, com access points que têm esta funcionalidade de ser uma gateway de IoT. Há essa preocupação em explicar ao cliente que faz sentido colocar estas soluções para termos a possibilidade de criar um backbone que vá receber toda a informação de sensores e encaminhá-la para a camada de software. Em Portugal, o 5G ainda está muito agarrado aos operadores, até porque o país e o mercado são mais pequenos” Quais são os desafios da transformação digital na indústria e como é que o IoT e o edge podem ser os enablers da produtividade? André Ribeiro, Schneider Electric: “O principal desafio na indústria – que tem um ecossistema muito peculiar – é a necessidade de toda a camada de OT que precisa de ser integrada com a tecnologia de informação. É preciso dar o salto de integração entre os SCADA e os ERP, e outros, onde se começam a extrair os dados em âmbito industrial e onde são transformados em informação. É através de informação que se tomam melhores decisões e que as empresas conseguem ser mais competitivas. Aqui está o grande desafio: conjugar a parte do controlo com a parte dos dados”
Fabrício Brasileiro, Forescout Technologies: “Acredito que um ponto importante do IoT e do edge é a integração de sistemas legados. Muitas indústrias, hoje, possuem sistemas legados que terão dificuldades em ser integrados com novas soluções digitais e tecnologias. Os fabricantes têm uma responsabilidade e um desafio de criar soluções para fazer a integração desses sistemas legados que não são facilmente atualizados e que passam por um período de transição e funcionamento híbrido. Essa lacuna é a mais importante que nós – fornecedores de serviços – podemos procurar resolver para o mercado” Luís Correia, Divultec: “A indústria tem coisas muito antigas que não são facilmente integráveis com IoT. Cada caso é um caso, mas sim, é um problema. Muitas vezes, o volume que é gerado quando se instala uma rede IoT é enorme e as empresas – por constrangimentos financeiros – não querem apostar muito no processamento no edge, ter computação perto que vá prestar informação; isso torna-se numa dor de cabeça porque, para darem insights e serem um apoio à decisão, têm de ser corretamente analisados” Tiago Caneiras, Eaton: “Costumo dizer aos clientes que, quanto mais entrada de dados e mais dados obtiverem de cada ponto, aumenta a sua saída e a sua produtividade. Todo o tipo de equipamentos que disponibilizamos conseguem fornecer o máximo de dados aos clientes. Isso é importante porque todos os clientes que invistam nesta área aumenta a sua produtividade e vai ter um retorno desse investimento; não deve ser visto como um custo. Estamos a falar de aumentar a receita entre os 20% ao longo de quatro anos versus aquela indústria que não acreditou e não quis fazer a mudança” A cibersegurança é naturalmente um tema importante. Com um número infindável de potenciais dispositivos ligados às redes corporativas e públicas, a enviar informação, como é que se pode proteger e gerir todos os dispositivos e a rede? Fabrício Brasileiro, Forescout Technologies: “A cibersegurança, em geral e não só nos aspetos de IoT e edge, já se tornou, a nível de importância, num top 2 ou 3 em qualquer tipo de negócio. Hoje, existem boards de cibersegurança dentro de todas as maiores empresas, sendo isso um assunto muito importante. Todo o cibercrime tem uma faturação média próxima dos três biliões de dólares. A cibersegurança é um tema crítico particularmente onde há um grande número de dispositivos conectados. Todos os dispositivos, para além de produtividade, trazem vários riscos que, naturalmente, são infindáveis”
Tiago Caneiras, Eaton: “Todos os desafios que existem agora na rede são uma grande preocupação e trazem um risco adicional. Há uma forma mais rápida e clara de nos proteger: através da certificação. Há muita coisa no mercado e a certificação em cibersegurança dos dispositivos – sejam normas europeias ou norte-americanas – é importante. Pode-se pensar que não há mal comprar uma qualquer placa de rede e instalá-la, mas os ataques passam na rede. É possível parar uma empresa através da rede informática” Luís Correia, Divultec: “Estes dispositivos ligados todos à rede aumentam a superfície de ataque e a exposição e, naturalmente, o risco. Tudo isto tem de ser pensado. Quando são os dispositivos são colocados no mercado, os fabricantes não têm normalmente a preocupação de security by design para os produzir. Há fabricantes que têm a preocupação de ter certificação de segurança nos seus dispositivos, mas a maioria não tem. Temos de abordar isto de uma forma completamente nova, onde precisamos de ter uma visibilidade total sobre o que está ligado à rede, assim como uma análise e controlo do que está a acontecer” Pedro Lourenço, HPE Aruba Networking: “Costumo dizer que a segurança se mede em níveis de paranoia e vou tentar assegurar-me em função do quão preocupado estou com estas coisas. As notícias que vão aparecendo fazem com que as pessoas tenham uma mudança de consciência para quando é que vão ser atacados, quais são os mecanismos de contenção e reagir para resolver o problema. Nos equipamentos, os fabricantes de IoT não tinham qualquer preocupação com a segurança; o mercado sempre foi visto como sendo de escala, de otimização de custos, e estes dispositivos tinham como objetivo fazer uma determinada função e não a segurança” O tema da sustentabilidade é cada vez mais importante para as organizações. O preço da energia veio colocar mais pressão para soluções sustentáveis. Como estão a evoluir as soluções nesta área? André Ribeiro, Schneider Electric: “A sustentabilidade é muito importante e um dos [temas] que mais privilegiamos. Na ótica do fabricante, é preciso utilizar as melhores práticas no design do produto para que, no cliente final, se traduza em mais eficiência – também energética – e eficácia onde vai operar. A Schneider Electric tem feito uma forte aposta na área com soluções mais eficientes energeticamente – tanto a nível de UPS como de arrefecimento – e criou uma eco label de cada produto para os clientes terem conhecimento da sua pegada ecológica”
Pedro Lourenço, HPE Aruba Networking: “A sustentabilidade pode ser vista de vários pontos de vista. Se virmos do lado da infraestrutura em si, já de há uns anos para cá que todos os equipamentos começam a implementar protocolos de otimização de utilização de energia. Falando das redes, um access point que não tem gente à volta se calhar não faz sentido estar a irradiar com energia máxima quando pode fazer uma otimização. Isto, na verdade, não é IoT, mas sim telemetria, mas é preciso perceber o que está a acontecer à volta e atuar sobre o que acontece. Há esta preocupação” Tiago Caneiras, Eaton: “A energia é um dos grandes custos nas infraestruturas dos clientes e temos de pensar que, com o aparecimento da necessidade de ligar tanta coisa à rede informática e à rede elétrica, cada vez mais temos de ter essa noção e perceber que, nos próximos anos – fala-se até 2050 –, vai crescer 57% a necessidade de energia elétrica. É preciso perceber que vamos ter este problema e como o conseguimos enfrentar, também associado à descarbonização” Quais são os desafios e as oportunidades para os Parceiros de Canal neste mercado? Pedro Lourenço, HPE Aruba Networking: “Os desafios e as oportunidades, muitas vezes, são a mesma coisa. A oportunidade é exatamente o facto de as organizações estarem a pedir esta tecnologia; percebem que está a amadurecer. Durante algum tempo, o IoT era algo muito desagregado, era difícil ter uma visão consolidada das coisas e havia situações pontuais onde era aplicável. Hoje já não é assim; é aplicável, praticamente democratizada, e já existem mecanismos de visibilidade que permitem às organizações apresentarem desafios” Fabrício Brasileiro, Forescout Technologies: “Os Parceiros de Canal desempenham um papel vital na entrega de soluções de IoT e edge, como consultoria estratégica, integração de sistemas altamente personalizados e, muito mais importante, o suporte contínuo de toda a integração do produto ou serviço que, por sua vez, vai ser implementado. O negócio é muito específico de cada empresa; o negócio das empresas não é produzir integração de redes. Essas oportunidades são inerentes a quem são especialistas em produzir este tipo de negócio” Tiago Caneiras, Eaton: “O Canal é o veículo correto para chegar ao cliente. Na Eaton olhamos sempre por duas vertentes que trabalhamos: o Canal do IT e o Canal elétrico e, dessa forma, temos um Programa de Canal específico para cada um dos nossos clientes e Parceiros. Olhamos sempre para o cliente final e trabalhamos as soluções e produtos a pensar no cliente final, qual a sua necessidade específica, e depois começamos a subir para o Parceiro e para o Canal” André Ribeiro, Schneider Electric: “Damos extrema relevância ao Canal de Parceiros, tanto que os privilegiamos no contacto com o cliente final. Os desafios que esta realidade traz é a complexidade de tentar passar este conhecimento especializado aos Parceiros. Para passar este conhecimento, estabelecemos este ano um Programa de certificação em edge para dotar os Parceiros de conhecimento para, depois, abordar o mercado e fazer as melhores recomendações de infraestrutura” Luís Correia, Divultec: “Nos desafios, há alguma complexidade tecnológica. Como existem tantos fabricantes de IoT, por exemplo, nem sempre é fácil integrar nas situações que os clientes nos pedem, nem sempre é simples consolidar tudo. Depois, a cibersegurança e a privacidade é um tema que está sempre presente por causa das normas e compliance com privacidade de dados, que vai ser cada vez mais exigente |