Marta Quaresma Ferreira em 2023-10-13
A distribuição cresceu 16,3% em 2022 a preços correntes e 8,3% se descontarmos a inflação. O setor continua assim a crescer acima do PIB nacional em 1,6%
Saídos de um período pandémico que levou a um grande travão nos mais diversos setores, as esperanças de uma recuperação económica estavam reservadas para 2022. A guerra na Ucrânia trocou as voltas a esta equação, com os impactos a fazerem-se sentir fortemente no continente europeu, que tem vivido a ‘fazer contas à vida’ aos elevados valores de inflação. No panorama português, a taxa média anual de inflação fixou-se nos 7,8% (dados do Instituto Nacional de Estatística) em 2022, o valor mais elevado desde 1992. Tendo por base este valor de inflação, o IT Channel voltou a realizar este ano o TOP CHANNEL, o barómetro que avalia o mercado à luz dos resultados obtidos na distribuição, neste caso em 2022, organizados por volume de negócios de distribuidores Broadliner, VAD (Valued Added Distributors) e Especializados. No total, a edição deste ano conta com 23 empresas. A Parceria com a Informa D&B permite ao IT Channel recolher os dados através do depósito de contas gerado com a entrega da Informação Empresarial Simplificada (IES) por parte das empresas. As empresas com atividade em Portugal, mas cuja faturação é comunitária, fornecem os seus próprios dados de atividade comercial em Portugal de forma que os mesmos reflitam a real dimensão do negócio no nosso país. O fator inflaçãoTendo em conta apenas os dados constantes, a distribuição IT em Portugal cresceu 8,3% em 2022, 16,1% a preços correntes.
A distribuição volta uma vez mais a crescer mais do que o PIB, que foi de 6,7% em 2022. No total, a variação entre PIB e distribuição foi de 1,6% no mesmo período, um valor inferior ao registado em 2021 (3,5%).
Panorama da distribuição em PortugalPelo sétimo ano consecutivo, a TD SYNNEX posiciona-se no primeiro lugar da tabela do TOP CHANNEL, com um crescimento do volume de negócios de 11,8%, o que corresponde a 554,3 milhões de euros. À semelhança de 2021, o segundo lugar da tabela é ocupado pela CPCdi, com um crescimento de 5,3% em 2022 (271 milhões de euros). 2022 foi um ano de forte crescimento para a Arrow, que ocupa agora o terceiro lugar da tabela do TOP CHANNEL, com um aumento de 45,9% no volume de negócios, comparativamente ao aumento registado em 2021, na ordem dos 22,2%. O Grupo Esprinet, cujos dados apresentados constam do relatório e Contas do Grupo Esprinet (Milão) para Portugal, que consolida a Esprinet e a V-Valley, apresentava em 2021 o maior crescimento ao nível do volume de negócios (59,5%). Os dados deste ano refletem um crescimento mais modesto, na ordem dos 17,7%, correspondente a um volume de negócios na ordem dos 126,5 milhões de euros. A Crayon foi a empresa que registou o maior crescimento na edição deste ano do TOP CHANNEL. Em 2022, a empresa teve um crescimento de 179,1%, passando de 9,1 milhões de euros em 2021 para 25,4 milhões de euros no que ao volume de vendas diz respeito. Destaque ainda para a Westcon, com crescimento acima de 50% (57,8%), com um volume de negócios de aproximadamente 57,7 milhões de euros; para a Lusomatrix, com crescimento de 51,6% (7,4 milhões de euros); e para a Multimac Hito Innovation, com 8,6 milhões de euros, equivalente a um crescimento de 45,9% este ano. Os ausentesA tabela deste ano regista, contudo, duas grandes ausências: a ALSO Portugal, que ocupou o terceiro lugar, apresenta apenas dados referentes a um semestre (1 de julho a 31 de dezembro de 2022), nomeadamente 82,588 milhões de euros. Os dados do primeiro semestre teriam origem no grupo J.P. Sá Couto mas, no entanto, não foi possível obter estes dados desagregados apenas para a distribuição (jp.di) até 30 de junho de 2022. A extrapolação de um semestre dos resultados da ALSO Portugal para um ano inteiro, o que incluiria o semestre da jp.di, é um exercício que pode conter em si mesmo um erro devido à sazonalidade da distribuição. A Ingram Micro, que ocupou o quarto lugar da tabela do TOP CHANNEL na edição de 2022, com 113,4 milhões de euros, optou por não transmitir os dados da Ingram Micro Iberia para território português, pelo que não nos é possível publicá-los. Por último, a Exclusive Networks que tem por política não transmitir os dados de Portugal. Este ano, e até à data, não foi possível obtê-los pela entrega do IES. Num “ano de cão” a distribuição volta a provar vitalidadepor Jorge Bento No ano em que a economia portuguesa mais cresceu, recuperando da pandemia, o setor da distribuição, pese todas as vicissitudes, voltou a superar a variação do PIB e cresceu quase mais 2% on top da economia nacional. E as vicissitudes foram muitas, ainda parte do shortage em algumas linhas de produtos e dos excedentes em outras que encheram armazéns, de uma inflação que não era conhecida pelas gerações mais jovens, da subida de juros e pelo início em 24 de fevereiro desse atentado à Humanidade que é a guerra contra a Ucrânia. Foi verdadeiramente um “ano de cão” que vale por sete, com tantos acontecimentos disruptivos. 2022 teve nitidamente “duas caras”: um primeiro semestre forte e um segundo semestre que foi padrasto para o segmentos dos dispositivos, não fora isso teria crescido muito mais. No que é transacional, a segurança e as redes compensaram de alguma forma a queda do PC e de outros terminais. De forma geral os distribuidores mais dependentes da componente transacional pura e do mercado doméstico estagnaram ou cresceram menos, os distribuidores com uma maior camada de serviços, ou de valor acrescentado para o segmento público e empresarial cresceram muito mais. A distribuição continua em transformação, entre aquisições como no caso da Also, reorganização interna como no caso da TD Synnex ou relançamento no contexto nacional da Suprides. Procura-se manter a margem operacional e ir ao encontro de novas necessidades do mercado. O run rate pode não ser suficiente para manter a operação saudável e a área dos projetos dentro da distribuição ganha cada vez mais espaço, pese a imprevisibilidade que a própria atividade encerra. Esta imprevisibilidade ainda foi mais agravada quando muito do que se esperava do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) simplesmente não aconteceu. Este mês o Tribunal de Contas veio confirmar aquilo que todos já sabiam, mas que agora ficou quantificado: “a execução orçamental da despesa do PRR registada na Conta Geral do Estado de 2022 foi de 970 milhões, atingindo, em termos acumulados, os 1.042 milhões de euros (despesa consolidada), “significativamente inferior às estimativas apresentadas à União Europeia (5.428 milhões)”. Ou seja, executou-se 20% do projetado. É com todo este pano de fundo que temos de analisar o ano passado, e reconhecer a resiliência do setor da distribuição. É muito possível que dentro de um ano, ao analisar os resultados de 2023, o quadro se tenha alterado para tintas mais cinzentas. André Reis, CEO da Databox “Apesar de difícil e complexo, 2022 foi um ano de crescimento para a DATABOX. Em 2022, a Europa deparou-se com uma guerra e com um cenário geopolítico que trouxe novos desafios e muita imprevisibilidade aos mercados, ao mesmo tempo que a escassez de algumas matérias-primas face à pressão da procura de um mundo que se reerguia de uma – felizmente ultrapassada – pandemia, despoletou um surto inflacionista. Foi um ano difícil, que colocou à prova a resiliência e a capacidade de adaptação das pessoas a uma realidade diferente. Felizmente, a DATABOX é uma organização bem estruturada que detém um valiosíssimo ativo: a qualidade dos seus recursos humanos, que demonstraram estar à altura das exigentes e complexas condições do mercado. Apesar de todas as adversidades, a DATABOX continuou a investir na relação de proximidade com os seus Parceiros. Apoiar ainda mais o negócio dos nossos Clientes foi uma preocupação constante e o extraordinário suporte que sentimos dos Fabricantes com quem trabalhamos também foi imprescindível para o sucesso alcançado no ano passado. Com um importante aumento do volume de negócios e um incremento significativo no resultado líquido, 2022 foi um bom ano para a DATABOX.” Luís Pires, VP Portugal & EPS Director Iberia da TD Synnex “2022 foi um ano de transformação. Passámos a ser TD SYNNEX e transformámo- nos no maior distribuidor mundial de tecnologia. Em Portugal, consolidámos a nossa posição de liderança na distribuição. Num ano ainda marcado por problemas no supply chain das áreas de valor, sobretudo em networking, a forte procura de dispositivos, quer no Canal quer no consumo, permitiu-nos crescer em volume de vendas. O foco da nossa equipa para o sucesso dos Parceiros foi determinante para estes resultados. Isto é verdade porque estamos constantemente a trabalhar para oferecer especialização em soluções e serviços que ajudem os Parceiros a evoluir, crescer e transformar os seus negócios. Os desafios de 2022 foram um incentivo para continuar a acelerar os nossos esforços de transformação, com investimento em plataformas digitais, agregação de soluções e programas de capacitação de negócio que têm vindo a reforçar a relação com os Parceiros. 2023 será igualmente um ano desafiante, já em período pós-pandemia, estimulando o mercado e os diferentes players a soluções inovadoras, criativas e eficazes.” Fernando Santos, CEO da Ajoomal Asociados Portugal “Para a Ajoomal, sendo um VAD dedicado à cibersegurança o ano de 2022 foi um ano repleto de desaf ios. Acompanhar a exponencial demanda em soluções de cibersegurança, garantindo a mesma qualidade no apoio comercial e no suporte pré-venda e pós-venda, foi uma tarefa hercúlea, mas os nossos colaboradores e a rede de Parceiros conseguiram responder muito positivamente. Este ano de 2023, queremos consolidar esta trajetória de crescimento, reforçando a nossa proximidade com os Parceiros com ações “taylor made” e em assegurar a sua capacitação através da Ajoomal Academy, um ponto estratégico face à urgência que os nossos fabricantes exigem em resposta às novas tecnologias, sejam por desenvolvimento interno ou por aquisição.” Alessandro Cattani, CEO da Esprinet “Em 2022, superando os resultados do ano anterior, o Grupo registou uma nova melhoria nos lucros líquidos para 47,3 milhões de euros (+7%), com vendas inalteradas em cerca de 4,7 mil milhões de euros. O ano 2022 marca também um ponto de viragem fundamental na nossa história, confirmando a nossa transformação num distribuidor internacional de valor acrescentado. O Grupo Esprinet está agora presente em quatro países e dois continentes e o volume de negócios das atividades desenvolvidas nos mercados externos, aumentou para cerca de 40% do total, mas é ainda mais importante notar que o EBITDA gerado nestas geografias representa cerca de 45% do total.” Ficha Técnica Os dados recolhidos são baseado no IES (Informação Empresarial Simplificada) entregue pelas empresas e recolhida pela especialista em informação financeira Informa D&B. Foram consideradas todas as empresas que operam em Portugal cujo volume de negócios é maioritariamente a atividade de distribuição e superior a dois milhões de euros. Estes dados foram obtidos através do IES ou diretamente fornecidos pela própria empresa com exceções devidamente assinaladas na tabela. A Informa D&B não certifica os dados fornecidos diretamente ao IT Channel pelas próprias empresas que são da exclusiva responsabilidade de quem as comunicou. |