Maria Beatriz Fernandes em 2023-7-14
Enquanto componentes críticos, os servidores, o armazenamento e a virtualização desempenham um papel fundamental no suporte à operação de aplicações e serviços críticos para os negócios, e a crescente digitalização tem vindo a aumentar a sua importância. O IT Channel juntou a Arcserve, a Dell Technologies, a Huawei e a TBA Informática para discutir a infraestrutura de IT e compreender o complexo cenário de soluções baseadas na cloud e tecnologias de virtualização
Como caracterizam o mercado atual de servidores em Portugal e como é que evoluiu no último ano? José Rodrigues, Diretor Geral da TBA Informática: “O mercado de servidores tem evoluído no sentido de o preço unitário das configurações ser cada vez mais elevado, embora haja uma redução do número de unidades. No ano anterior, houve uma quebra relativamente a 2021, que provavelmente estará justificada pela forma como foram orientados os investimentos e pelas vendas nos anos anteriores. Curiosamente, este ano tem sido de grande recuperação” Vasco Sousa, Channel Account Manager da Arcserve: “O storage visa suprir a necessidade do crescimento dos dados; vemos que o ritmo continua a acelerar. Obviamente que não estamos sempre a falar do data center, tem muito a ver com a cloud. O grande desafio que se coloca aos diretores de IT é a estimativa de quais vão ser as suas necessidades a médio prazo. É cada vez mais difícil prever e há duas coisas que não queremos – estar subdimensionados ou sobredimensionados, é um desperdício de recursos” Rogério Gomes, Partner Account Manager da Dell Technologies: “No pós-pandemia temos sentido que o crescimento dos servidores tem acontecido, muito à custa de servidores de gama média e alta, e creio que esse crescimento está muito alavancado no edge computing e no 5G. Na prática, os clientes já estão a adotar esse modelo e também o da IA, que necessita de muito mais capacidade de computação e que leva a que os clientes precisem de máquinas com elevada performance” Rui Fialho, IT Solutions Architect da Huawei: “É indissociável falarmos de armazenamento sem falarmos de computação, de virtualização. Os servidores evoluíram muito para uma comodidade, e atualmente é mais difícil ser diferenciador no mercado de servidores do que no armazenamento. Um desafio é o green IT, esta preocupação com os consumos e a tecnologia que tem feito com que os fabricantes invistam. A segurança é a preocupação dos últimos dois anos, e a proteção dos dados. É, também, um grande desafio e uma oportunidade para ajudar a maximizar o retorno dos investimentos” A necessidade de tratar maiores volumes de dados está a levar à substituição dos equipamentos por parte das organizações? Que tipo de organizações é que estão a apostar em servidores on-premises? Rogério Gomes, Dell Technologies: “A aposta na renovação é transversal ao mercado, desde as PME às grandes empresas. Cada vez mais as empresas apostam no retorno do investimento, não só pelo volume de dados, mas por questões a ver com a segurança, e a proteção desses dados. Outra coisa é que, não só os clientes apostam em soluções on-premises como em soluções na cloud. Cada vez mais assistimos a um cair das fronteiras que são soluções na cloud, com muitos dos workloads a passarem entre um e outro”
José Rodrigues, TBA Informática: “Há organizações que não podem apostar sequer on cloud, aquelas que tenham necessidades mais específicas. Embora a cloud seja muito segura do ponto de vista de duplicação de dados e falha de hardware, há dados que são absolutamente essenciais e temos vindo a verificar que ou as organizações preferem tê-los numa cloud privada, ou on-premises, em vez de uma cloud pública, porque aí estão a dar exposição a qualquer intrusão de dados sensíveis para a sobrevivência da organização” Que inovações estão a chegar ao mercado de armazenamento em Portugal? Rui Fialho, Huawei: “A cloudificação é um processo pelo qual todas as organizações estão a passar, mas não significa apenas cloud pública, significa cloud híbrida e privada, e é aí que os servidores e o armazenamento têm um papel muito relevante. Quando falamos de dados, falamos da computação que os trata, mas devemos falar onde estão guardados. Aqui, as inovações estão muito relacionadas com a resiliência e segurança. O desempenho tem vindo a aumentar em conformidade com os requisitos, pelas novas fontes de dados e volumes, mas, neste momento, o foco tem a ver com a continuidade de negócio e a capacidade de recuperar de desastres”
Rogério Gomes, Dell Technologies: “Seguramente, nos próximos anos, vão existir mais desenvolvimentos nos algoritmos, ou seja, todo o software que incluímos dentro das soluções de storage e backup, e esses mesmo algoritmos vão trazer cada vez mais eficiência em relação ao espaço e ao consumo energético. Essa mesma melhoria vai acontecer sem prejudicar a performance das máquinas” José Rodrigues, TBA Informática: “Ultimamente, os sistemas de storage têm evoluído, por um lado, do ponto de vista de software e de aplicações, mas pelo outro, não tem havido uma evolução muito grande no hardware. O NVMe teve um impacto muito grande na redução de consumos, comparativamente aos discos rígidos, idealmente nas velocidades, mas se quisermos ter proteção contra as falhas nos NVMe, que soluções é que estão no mercado? Geralmente, são as startups norte-americanas que conseguem mais inovação neste setor” Vasco Sousa, Arcserve: “Há mais dados para gerir, e, não sabemos quando, vão ser mais dados para recuperar. Atualmente, a segurança dos dados tem de vir em primeiro lugar e a velocidade de recuperação é muito importante. O primeiro desafio é a segurança dos dados, com sistemas de imutabilidade. Depois, a catalogação e hierarquização dos dados. Temos de saber primeiro que dados temos para poder definir o que é mais importante. Sabendo isso, é fazer o tiering desses dados” O data center caminha para a virtualização total? Qual é o atual grau de maturidade das organizações portuguesas em termos de virtualização de redes e armazenamento? José Rodrigues, TBA Informática: “Atualmente, tudo evolui para a virtualização porque é uma forma de ter otimização dos recursos. Pela alocação dinâmica de CPU e de outros recursos da máquina, consegue-se melhor equilíbrio económico, térmico, consumo de energia, etc.. Há soluções open source que implementam uma solução quase tão boa como as soluções líder de mercado. Acho que caminhamos para a maturidade e que este problema se liga com a velocidade de acesso aos dados” Rui Fialho, Huawei: “Este processo de virtualização não é recente, e tem evoluído rapidamente. Atualmente, é quase inevitável e uma presença em qualquer organização. Acho que o mercado da virtualização em Portugal já está bastante maduro, na parte de computação e armazenamento há mais tempo, na parte de redes há menos tempo. O passo seguinte é a cloudificação, o as-a-Service, o garantir que conseguimos ter automatismos, orquestração e otimização. Obviamente que, aí, a IA garante uma contínua melhoria na forma como utilizamos os recursos” Rogério Gomes, Dell Technologies: “Temos assistido a uma evolução gradual da maturidade do mercado, principalmente nas pequenas e médias empresas, e temos visto especialmente nas soluções de hiperconvergência, que permitem a simplificação da gestão das próprias plataformas. Para além disso, vimos cada vez mais uma aposta na hiperconvergência na própria cloud” As cloud híbridas abrem a porta para que o mercado de servidores e armazenamento se mantenha relevante?
Vasco Sousa, Arcserve: “A questão da cloud híbrida é que implica a existência de um data center local. Mas a ideia é ser ao contrário. Acho que há aqui duas formas de olharmos para isto: a questão da performance, em que os workloads têm de ser balanceados consoante as necessidades, e do armazenamento dos dados não estruturados. Às vezes deparo-me com situações ao contrário. Quisemos tirar as coisas do data center para aplicações cloud, e agora estamos a fazer backups aos dados da cloud para dentro do data center. Parece-me que seria mais inteligente ter múltiplas clouds ou fazer sincronizações entre clouds diferentes” Rogério Gomes, Dell Technologies: “O volume da dados continua a crescer e os clientes cada vez mais pedem mais flexibilidade na colocação dos dados, quer on-premises, quer off-premises. Acreditamos que a cloud pública não é para todos os workloads, até por uma questão de custos, no entanto, acreditamos no modelo híbrido” Rui Fialho, Huawei: “Este novo desafio da cloud foi um caminho que muita gente seguiu de forma apressada, o que agora cria algum retrocesso, porque a cloud tem alguns custos que não são mensuráveis, pelo menos no momento zero. É também por isso que os modelos híbridos e on-premises continuam a ter a sua relevância, pelo volume de dados. A decisão dos modelos não tem a ver com o que está na moda, mas com as organizações fazerem análises efetivas de custos” A Comissão Europeia anunciou um investimento de 160 mil milhões de euros em áreas como o armazenamento, e o Plano de Recuperação e Resiliência continua em cima da mesa para as infraestruturas de IT. Como é que as políticas públicas estão a influenciar o mercado? Rui Fialho, Huawei: “Em Portugal, corremos grandes riscos de passar ao lado desta oportunidade, ou de retirar nem parte dos benefícios. Temos obrigação de apoiar e ajudar as várias instituições a maximizar o retorno que este dinheiro traz. Há que transformar todos estes projetos numa realidade, mas convém não tomar decisões apressadas. Assistimos a uma transformação de digitalização, e temos tudo o que é necessário para acelerar este processo. Aqui, o grande desafio é perceber como é que dentro dos deadlines conseguimos tirar o máximo da tecnologia” José Rodrigues, TBA Informática: “Influenciam bastante, principalmente no setor do Estado, que, após o período da pandemia, percebeu que tem de investir também nos sistemas centrais, e, infelizmente, corre-se o risco de não se dar a importância suficiente à infraestrutura para investir nela. Na prática, só quando há estas lufadas de ar fresco é que se investe, de resto, é o necessário para tapar os buracos do dia a dia. O impacto é grande e sentimo-lo em termos de vendas” Quais são os desafios e as oportunidades para os Parceiros de Canal? Vasco Sousa, Arcserve: “O crescimento de dados é avassalador. Em 2025, é esperado dados mundiais de 200 zetabytes. Se virmos que 80% são dados não estruturados, há seguramente oportunidades a nível da performance, mas também uma grande fatia de oportunidades na organização de dados. Se são ficheiros, precisamos de storage para armazenar, e não é necessário que seja a mais rápida. É necessário que seja segura, na perspetiva preventiva e reativa, é também muito importante que sejam escaláveis. Temos visto uma grande busca por este tipo de equipamentos em duas perspetivas: integridade de dados e armazenamento de dados, da última linha em termos de backups” Rogério Gomes, Dell Technologies: “A transformação digital está aí e os nossos clientes cada vez procuram mais flexibilidade e modelos de consumo completamente diferentes. Para nós, os Parceiros são peça-chave neste paradigma, por serem eles que conhecem melhor a realidade do negócio dos nossos clientes. A nível do desafio, com a constante alteração e a evolução rápida que tem vindo a acontecer desde a pandemia, os Parceiros têm de ter algum cuidado no que diz respeito ao acompanhamento dessas novas tendências”
Rui Fialho, Huawei: O maior desafio e maior oportunidade tem a ver com a forma como as organizações precisam de melhorar e maximizar o retorno dos investimentos que fazem. Desde sempre que ajudamos os nossos Parceiros, sabemos que são eles quem está mais próximo dos clientes e são os trusted advisors que ajudam os clientes nesta jornada. Obviamente, os novos grandes desafios das organizações – a segurança, a resiliência, o desempenho –, são chave, mas também sabemos que os orçamentos não são infinitos. Estes Parceiros têm de ajudar as empresas a serem inteligentes” José Rodrigues, TBA Informática: “As oportunidades para os Parceiros de Canal são múltiplas. O posicionamento da TBA sempre foi apoiar os Parceiros do ponto de vista tecnológico, prestar apoio técnico de uma forma gratuita, para que eles próprios percebam as subtilezas das tecnologias em que apostamos. É fundamental para conseguirmos dinamizar o Canal. É muito difícil convencer um cliente a mudar um servidor se sente que cumpre a sua função. Demonstrar as novas tecnologias é um passo importante, e se o Parceiro não tem essa capacidade, nós, em conjunto com ele, teremos certamente”. |