Rui Damião em 2022-3-11
Nunca existiu tanta capacidade de computação, de armazenamento e conetividade, mas o centro de dados tem ainda um longo caminho a percorrer em termos de resiliência, sustentabilidade, segurança e automação
Os data centers são dos pontos mais importantes das organizações que têm uma presença - direta ou indireta – online. Qualquer empresa que tenha um simples ficheiro alojado na cloud precisa de um data center. Cisco, HPE, Maxiglobal, Microsoft, NetApp e Schneider Electric partilham a sua visão sobre as oportunidades e desafios do mercado de data center. Os tempos mudaram e a necessidade de informação é enorme. Há alguns anos, as comunicações eram simples e o correio tradicional era mais do que aceitável para grande parte das comunicações entre empresas. Atualmente, o mundo já não é assim. Depois da democratização da Internet e dos smartphones, grande parte do tempo é passado online. Seja na vida profissional ou pessoal, a Internet tem um papel enorme na vida dos cidadãos. É aí que entra o data center, as ‘instalações’ onde se recolhem, armazenam, processam e se distribuem grandes quantidades de dados. Os data centers são tão antigos quanto a era da computação moderna. A pandemia não foi inicialmente benévola para o mercado de data center. De acordo com a Gartner, 2021 voltou ao crescimento mesmo no EMEA. Como é que o mercado nacional está a acompanhar este crescimento global? Luís Rilhó, Solution Business Manager, HPE: “No momento em que se decidiu ir para casa, por causa da pandemia, houve um impacto. O mercado parou e começou a recuperar paulatinamente ao longo de 2020. Em 2021, já recuperámos e voltámos ao crescimento. Em 2022, estamos a exceder os nossos objetivos e a aumentar o nosso negócio em Portugal. As empresas fazem investimento e tentam renovar as suas infraestruturas tirando benefício das novas tendências”
Ricardo Antunes da Silva, Technical Solutions Architect, Cisco: “Do ponto de vista de IT – incluindo data center – em Portugal, 2020 e 2021 foram positivos, de crescimento. A perceção de que o IT era relevante para a continuidade dos negócios foi, realmente, importante e isso trouxe uma dinâmica relevante. O que vemos agora é a transformação das localizações onde as cargas e as aplicações funcionam, mas, também, uma ideia de simplicidade de como se vão gerir essas cargas” A computação edge é cada vez mais relevante e a pandemia reforçou ainda mais infraestrutura de IT distribuída. Quais são as tendências tecnológicas neste mercado? Qual o impacto que o 5G pode trazer ao edge? Ana Carolina Cardoso, Iberia IT Channel Director, Schneider Electric: “Edge já não é uma tendência; é uma realidade. Vemos o desenvolvimento dos sites distribuídos e o 5G é o grande edge. O que vemos é um grande impacto nesses sites distribuídos na questão da gestão, disponibilidade e eficiência. O risco que temos é que se o edge não for bem estabelecido, o risco de resiliência é muito grande e vemos que não há a mesma preocupação em termos de eficiência e resiliência nestes locais”
Ricardo Antunes da Silva, Technical Solutions Architect, Cisco: “A capacidade e a necessidade de tratar o volume de dados que estão a ser gerados do edge obriga a começar a adotar essa capacidade. A vantagem é que temos forma de dotar as soluções edge de resiliência, de capacidade de processamento e, mais do que tudo, de a gerir de uma forma central desde o momento zero, configurando remotamente a máquina e, depois, fazer a operação, manutenção e suporte de forma remota e central” Luís Rilhó, Solution Business Manager, HPE: “O 5G tem um impacto muito relevante nestas tecnologias. Desenvolvemos um conjunto de tecnologias específicas para estas áreas porque o edge tem desafios importantes; muitas vezes não estamos perante o mesmo tipo de condições de um data center e desenvolvemos um conjunto de tecnologias que nos permitem ser mais resiliente a temas como pó, calor, vibração que, num contexto de edge, são ambientes mais sujos” A energia e sustentabilidade estão a ganhar uma relevância critica nas decisões. Não só por otimização de custos e compliance regulatório, a própria opinião pública começa a questionar o impacto. O PUE médio tem só marginalmente melhorado nos últimos anos. Que evolução da tecnologia pode ajudar a mitigar estes impactos? Ivan Couras, Chief Sales Officer, Maxiglobal: “As empresas devem conhecer o PUE do seu data center e da instalação que têm e isso nem sempre acontece. É preciso implementar tecnologia para medir, monitorizar e atuar. Como sabemos, o consumo de energia em data center está a aumentar e estima-se que continuará a aumentar com a natural inovação da transformação digital. Isso obriga a que os data centers têm de ser mais eficientes e com um PUE mais baixo” Ana Carolina Cardoso, Iberia IT Channel Director, Schneider Electric: “Os data centers são o core da transformação digital e requerem uma revisão na parte de infraestrutura. A sustentabilidade, hoje, já não é uma opção. As empresas estão a seguir esse caminho, seja por uma questão de pressão pública, por pressão regulatória ou pela responsabilidade. Muitos clientes estão a filtrar os seus fornecedores – incluindo Parceiros – para saber quais são as suas responsabilidades” Qual é a importância de o data center ser uma plataforma pensada para tirar o máximo partido da cloud híbrida? Francisco Teixeira, Partner Tech Manager, Microsoft: “A resposta simples: é crítico. Uma empresa que não consiga ter uma oferta de valor onde o híbrido também é possível abdica de uma fatia de mercado que se torna impossível de endereçar de outra forma. Há questões regulatórias, de soberania de dados e de sustentabilidade e é complicado dimensionar um data center para uma realidade não tão futura. Expandir para a cloud acaba por ser um caminho óbvio”
Tiago Andrade, Sales Representative, NetApp: “Advogamos uma lógica de cloud híbrida a todo o nosso ecossistema de Parceiros e clientes. Existe um tema na cloud híbrida que é importante endereçar que é, muitas vezes, as empresas não estão preparadas para picos de processamento ou workloads que, com uma cloud híbrida, é possível responder. Se tenho um pico transacional ou de utilização, uma arquitetura de cloud híbrida permite-me responder a esse pico” Os riscos nunca foram tão altos quando se trata de prevenção de downtime. A crescente interdependência aplicacional entre vários data centers tem, de acordo com o Uptime Institute, levado a interrupções mais graves de serviço apesar de terem existido melhorias significativas do uptime individual no data center. Como se pode continuar a melhorar a resiliência? Quais os pontos fracos? Tiago Andrade, Sales Representative, NetApp: “Existem uma série de realidades a que temos de assistir, mas desde o início da nossa empresa que desenvolvemos tecnologia que, quando existe algum componente num data center que não está a ser devidamente replicado, fazemos um failover transparente sobre uma carga de aplicações de um lado para o outro, sempre gerida pela cliente que tem a capacidade para correr isso smoothly e sem qualquer interrupção”
Ivan Couras, Chief Sales Officer, Maxiglobal: “Muitas vezes, os pontos de falha estão em sistemas não redundantes e não basta ter só uma UPS ou ter uns sensores ligados. Olhando para uma IT room, toda a cabelagem e a infraestrutura em si, hoje, já é pensado de uma forma totalmente redundante e o cliente tem dois data centers em pontos opostos onde um replica o outro, com fibra redundante e instalações elétricas eventualmente diferentes, também” A segurança – seja ela cibernética ou física – é um elemento crucial de qualquer data center. Como é que a tecnologia ajuda a gerir a resiliência da organização, da sua rede e dos seus dados? Ricardo Antunes da Silva, Technical Solutions Architect, Cisco: “A preponderância dos sistemas de IT aumentou muito. Isso ajuda a perceber mais contextos para garantir a segurança dos data centers. Isso começa logo na aplicação e percebermos que riscos temos nas componentes da aplicação, as vulnerabilidades que existem e como podemos proteger e, descendo nos níveis, olhar para as redes e microsegmentar as mesmas e prevenir que um ataque se espalhe pela organização”
Francisco Teixeira, Partner Tech Manager, Microsoft: “A segurança já não é só ao nível do data center, é também ao nível da identidade. Não só a cloud ou o híbrido, mas o próprio trabalho remoto faz com que, hoje, tenha de proteger a minha infraestrutura onde quer que ela se localize. Todo esse tipo de direção que o mercado tem tomado acaba por ser importante para a forma como as empresas querem lidar com a proteção daquilo que é a sua propriedade intelectual” Como é que os Parceiros podem aproveitar ao máximo as oportunidades do mercado de data center?
Luís Rilhó, Solution Business Manager, HPE: “As tecnologias são muito complexas. Há poucas organizações no mercado com know-how e capacidade de implementação destas tecnologias num data center. Os clientes precisam de ajuda para ter a melhor tecnologia para os seus problemas e de quem conheça as várias tecnologias do mercado e lhes implemente a melhor solução e os ajude a gerir as suas infraestruturas de IT, quer seja física ou software” Ivan Couras, Chief Sales Officer, Maxiglobal: “O papel do Parceiro será aconselhar soluções cada vez mais sustentáveis, eficientes, modulares – que permitam escalabilidade do equipamento – e redundantes – que permitam dar resposta ao negócio de curto prazo e evoluir de forma otimizada. Terá de apostar em soluções cada vez mais pré-configuradas – como micro data center – que, com a evolução do edge, terão um tempo de implementação mais rápido” Francisco Teixeira, Partner Tech Manager, Microsoft: “Para o contexto atual, há quatro pontos que destaco: a construção de soluções resilientes na cloud, que é necessário assumir como fundamental; os modelos de governo que é necessário definir claramente quais são os modelos de governo e as personas que vão interagir com o sistema; a segurança, que é um tema muito relevante continuar a posicionar; e, por último, a sustentabilidade porque ainda há muito trabalho a ser feito” Tiago Andrade, Sales Representative, NetApp: “A jornada para a cloud é real, está a acontecer e é agora. Tudo o que estávamos a advogar há uns anos está a acontecer agora e com mais incidência no espetro mais alargada de instituições e empresas. Depois, todas as organizações vão ter de otimizar os seus investimentos on-prem, reduzir, tornar mais eficientes, mais capazes e mais resilientes com segurança e uma lógica diferente da que tem sido seguida até agora” Ana Carolina Cardoso, Iberia IT Channel Director, Schneider Electric: “A minha mensagem principal é que os Parceiros aproveitem esta boa oportunidade da energia para colocarem a questão junto dos clientes. Muitos CIO estão com a conta de energia em cima da mesa e procuram eficiência. Isso pela por rever a eficiência do produto, de desenho, a questão de segurança e, quem sabe, chega à parte de sustentabilidade. Temos ferramentas que avaliem e que pesam, por exemplo, uma mudança de produto” |
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