Margarida Bento em 2022-9-23

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Computer Vision - Muito para além do CCTV

Numa época de rápida evolução tecnológica, a analítica vem impulsionar cada vez mais o mercado de CCTV, seja para videovigilância, controlo de acessos, segurança ou simplesmente para impulsionar novas soluções operacionais

Computer Vision - Muito para além do CCTV

Apesar de o CCTV ter, há várias décadas, um papel central na segurança física, a evolução tecnológica veio potenciar em muito a sua proliferação, não só pela descida natural dos custos, mas também ao simplificar a sua integração e gestão.

Como em muitas outras áreas do IT durante a pandemia, a área da videovigilância veio beneficiar da súbita necessidade de assegurar a continuidade de negócio e das operações com o mínimo de pessoal mobilizado. Isto significa, por um lado, garantir a segurança física e proteção das infraestruturas e, por outro, a agilização operacional de processos que de outra forma dependeria da mobilização de recursos humanos – algo que não poderia ser feito sem o recurso à computação, desde a deteção de movimento anómalo até tecnologias avançadas de computer vision.

Vivemos uma época onde a evolução tecnológica é constante e rápida e neste momento os sistemas de videovigilância têm de ser cada vez mais capazes de auxiliar o operador na tomada de decisões suportados pela capacidade de analítica de vídeo em tempo real.

“Para além do campo da segurança física, a utilização de vídeo para a monitorização de processos industriais/fabris para facilitar a visualização de áreas ou locais de difícil acesso ou de elevado risco, tem sido uma área com franca expansão”, refere María Santafé, Segment Marketing Specialist Spain & Portugal na Axis.

Este crescimento, garante Norberto Barroca, Direção Comercial para a área de Building Technologies da Bosch Portugal, continuará a bom ritmo, apesar de Portugal se manter atrás do mercado mundial. “O mercado de CCTV e segurança física a nível mundial terá um crescimento acima dos 7% até 2025, sendo que as soluções de analítica de vídeo assumem um papel preponderante com um crescimento de 15%”, diz. “A nível nacional, a previsão é de que o mercado nacional irá crescer a um ritmo de 3% até ao ano de 2025, ou seja, bastante abaixo do crescimento mundial”.

Norberto Barroca aponta como principais causas o atraso no processo de transformação digital nas empresas, bem como a crescente dificuldade em contratar quadros qualificados. “A analítica de vídeo tem assumido um papel preponderante no mundo da segurança eletrónica. As contínuas evoluções tecnológicas da analítica de vídeo ao longo dos últimos 20 anos, e em especial nos últimos cinco anos com a introdução de redes neuronais, fazem com que as soluções atuais de facto tenham índices de fiabilidade acima dos 95%”, refere Norberto Barroca.

Atualmente, aponta o responsável, os três principais verticais para este tipo de solução são a gestão da segurança física e operacional dos edifícios, proteção perimétrica e inteligência rodoviária e de tráfego.

Mais do que simples câmaras

A introdução de novas tecnologias e sistemas altamente avançados de inteligência artificial abrem um novo leque de oportunidades que não existiam.

“Tipicamente, o CCTV IP é muito associado à gravação de imagens e à recolha de dados pessoais, essa abordagem não podia estar mais errada. Hoje, as câmaras devem ser vistas como qualquer outro sensor”, explica Norberto Barroca.

A título de exemplo, mesmo sem recolher imagens é possível analisar o tráfego e alterar um sinal luminoso num cruzamento. A gravação dos dados processados não é obrigatória e em situações como o controlo de tráfego, as imagens são necessárias apenas para o processamento: uma vez tomada uma decisão sobre as mesmas são apagadas, se forem sequer inicialmente guardadas. Esta é uma importante componente na utilização de computer vision em cidades inteligentes, ao abrigo da regulamentação da videovigilância em espaços públicos contemplada no RGPD.

Com a expansão da tecnologia de analítica de vídeo, começam a surgir várias aplicações com grande potencial, desde deteção de intrusão até ao controlo de acesso com deteção facial de pessoal autorizado, inclusivamente com várias pessoas em simultâneo.

“Com o aumento dos dados recolhidos por CCTV, apenas a analítica permite gerir as métricas de acesso, segurança, manutenções e correções mais precoces e tendências de utilização”, afirma Ivan Couras, diretor comercial da Maxiglobal. “Estamos perante sistemas de análise de vídeo que, em tempo real, podem cruzar informação com outros dispositivos de recolha ou registo de informação, como POS, linhas de montagem e produção industrial. Esta análise conjunta irá permitir otimizar tempos de produção, dimensionar recursos e minimizar perdas em toda e qualquer operação”.

Na segurança, o principal fator a impulsionar esta área é o erro humano: com a crescente cobertura de videovigilância, torna-se impraticável a vigilância preventiva com recurso à monitorização em tempo real por operadores humanos, tanto em instalações privadas como na via pública.

“Quando temos centros de controlo a monitorizar as imagens de um grande número de camaras CCTV, a atenção permanente requerida dos operadores origina frequentes situações de falha nesta deteção. Isto vem, na prática, desvirtuar o objetivo de incremento de segurança por deteção de toda e qualquer situação anómala, que normalmente está na origem da instalação das camaras CCTV”, refere o Engº João Paulo Fernandes, Diretor Geral da NEC em Portugal.

Assim, a analítica vem trazer a capacidade de deteção automática das situações de interesse, reduzindo a dependência da atenção humana para essa mesma deteção e, com isso, aumentando largamente a eficiência dos centros de controlo CCTV.

Isto, relata o Engº João Paulo Fernandes, já é muito comum em aplicações relacionadas com a mobilidade – como a deteção de veículos parados em segunda fila ou objetos caídos sobre a via publica – bem como situações relacionadas com a segurança das pessoas, como abandono de objetos e formação de aglomerações anormais de transeuntes.

Segurança, cibersegurança e privacidade

Por um lado, a segurança física é uma importante componente da cibersegurança: por muito sofisticadas que sejam as soluções e políticas adotadas para proteger uma rede, se um agente malicioso tiver acesso a um data center ou componente infraestrutural, os sistemas podem ser mal facilmente comprometidos.

Por outro, ao passar de sistemas de segurança analógicos para dispositivos IP, frequentemente conectados a soluções cloud e integrados com sistemas mais alargados, qualquer problema de cibersegurança poderá comprometer a segurança física.

Simultaneamente, como acontece frequentemente com a IoT, a existência de um grande número de dispositivos não seguros em rede deixa-os passíveis de serem portas de entrada para um ciberataque de larga escala contra a organização.

“Um ataque físico a uma instalação pode provocar danos materiais numa vedação, numa janela, no roubo de um bem; um ciberataque pode ferir a imagem e a confiança numa instituição com prejuízos muito elevados”, alerta María Santafé.

O problema da privacidade dos dados adjacente à crescente captura de dados por sistemas de segurança torna-se muito sensível no contexto do RGPD, podendo inviabilizar projetos inteiros se não existir um domínio adequado da legislação.

“O RGPD pode criar conflitos entre a necessidade de utilização e a proteção dos dados das pessoas; esse conflito poderá nem sempre ser esclarecido, atrasando os projetos ou mesmo inviabilizá-los”, alerta Ivan Couras, realçando a importância de dominar os temas regulamentares para poder ajudar os clientes a desenhar as soluções sem constrangimentos futuros com o tratamento dos dados pessoais.

Oportunidades para os Parceiros

Como área em crescimento, este setor apresenta diversas oportunidades para o Canal nas suas diversas aplicações. Por um lado, na troca e modernização de equipamentos em instalações pré-existentes, mas, principalmente, no desenvolvimento de soluções de valor acrescentado.

“As oportunidades são as mais diversas visto que é o próprio cliente que nos desafia a apresentar soluções para temáticas que muitas vezes desconhecíamos”, refere María Santafé. “Para o Parceiro, é muitas vezes a possibilidade de fazer um cross-selling de valor acrescentado visto que, para além das soluções de rede, comunicações, colaboração, pode acrescentar outras soluções para o negócio dos seus clientes e, obviamente, criar uma maior relação com o próprio cliente final”.

“Os clientes finais procuram soluções e não um determinado produto específico”, concorda Norberto Barroca, acrescentando que de uma importância extra “ter uma oferta de alto valor acrescentado onde técnicos altamente especializados irão dar um contributo importante para o setor”.

Adicionalmente, Ivan Couras frisa o benefício de associar contratos de manutenção com a possibilidade de gerir e acompanhar o sistema do cliente remotamente, com acesso previamente autorizado. O responsável acrescenta ainda a importância de conhecer a potencialidade e os limites do equipamento, para saber adequar a tecnologia certa à necessidade do cliente, bem como procurar conhecer novas tecnologias ou aplicações para estar apto a acompanhar questões de clientes.

“Para os Parceiros de Canal, um dos aspetos mais significativos é a integração entre sistemas, garantindo um maior retorno dos investimentos em qualificação e formação das equipas, traduzindo-se em projetos de valor acrescentado e de relevância para os nossos clientes”, acrescenta ainda Ricardo Duarte, Business Development Manager da Decunify.

Contudo, alerta Norberto Barroca, a introdução de altos níveis de computação faz com que este mercado, onde já existe escassez de recursos humanos, precise de um nível cada vez mais alto de especialização. “Os Parceiros de Canal devem apostar cada vez mais na formação sobre estas novas tecnologias”, conclui.

O responsável aproveita ainda para reforçar novas tecnologias e soluções deverão conter protocolos abertos e permitir uma integração simples com os sistemas já existentes.

Visão do futuro

Com a evolução da analítica e a crescente sofisticação dos algoritmos, a evolução prevista é para a utilização disseminada da analítica de vídeo, tanto na segurança como nas operações e na gestão de espaços urbanos. “Pelo grau de eficiência que permite alcançar, as novas implementações de CCTV serão tendencialmente acompanhadas pela introdução de analítica de vídeo que permita a automatização da deteção e resposta às principais situações de interesse que se pretenda detetar,” refere Engº João Paulo Fernandes.

Outro vertical em que esta área terá certamente muita relevância é no âmbito das cidades inteligentes, dotando as mesmas de “serviços integrados e de maior capacidade para servir o cidadão, com interação e disponibilização de informação relevante ao quotidiano das cidades e das pessoas”, acrescenta Ricardo Duarte.

Outra tendência, prevê Norberto Barroca, será o crescimento da gravação de vídeo e dos metadados na cloud, em detrimento de soluções de gravação local “que muitas vezes se traduzem em elevados custos de manutenção e sem qualquer tipo de redundância”, diz, acrescentando que, “com o avanço tecnológico do hardware e da conectividade, existe uma tendência para o aparecimento de soluções na cloud, e a remoção equipamentos físicos das instalações dos clientes”.

Contudo, e apesar do rápido desenvolvimento da analítica, o Engº João Mira, da Thales, alerta para a gestão das expectativas associadas a estas aplicações. “Por vezes, ainda há expectativas que não podem ser cumpridas. Estas são máquinas, algoritmos com qualidades limitadas, e basta que uma pessoa olhe para o lado para que o reconhecimento facial não funcione”.

Contudo, refere, o que pode ser facilmente detetado são os comportamentos, através da deteção de determinados movimentos, interações com objetos, presença prolongada e suspeita em locais de passagem, o que tem grande potencial com níveis elevados de precisão.

Adicionalmente, acrescenta o Engº João Mira, é necessário ter em mente que a videovigilância corresponde apenas a um sentido e no futuro deveremos procurar complementar esta informação.

“No que toca à segurança, focamo-nos muito na visão porque é intuitivo para nós, humanos. No entanto, há muitas fontes de informação que nos podem dar o contexto necessário para compreender as situações, principalmente em situações em que a visibilidade é comprometida, como em dias de mau tempo”, indica.

Mais do que tentar ditar ou prever a direção em que a componente visão vai evoluir será necessário focarmo-nos na integração de várias fontes de informação e como estas estão relacionadas – principalmente no que toca a prever em vez de reagir, conclui o responsável.

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