2015-11-27

A FUNDO

Cloud híbrida, onde está o negócio?

As organizações tentam encontrar um equilíbrio entre ter todos os serviços computacionais on-premises e conseguir disponibilidade de armazenamento, largura de banda e recursos flexíveis a baixo custo oriundos da Cloud. Face a esta necessidade, um meio termo lógico acabou por surgir: a Cloud híbrida

Cloud híbrida, onde está o negócio?

O conceito de Cloud híbrida entrou no léxico e no pensamento da comunidade de IT como um relâmpago, mas a sua adoção, sendo que na indústria é consensualmente assegurado o seu sucesso, está a revelar-se mais lenta do que o inicialmente esperado.

Em setembro passado a Gartner reviu as suas previsões sobre a velocidade de adoção, prevendo que em 2020 a maioria das organizações tenham implementado uma solução balanceada entre on-premises IT, cloud privada e serviços de cloud pública, havendo outros estudos que antecipam esta meta para 2017. Na atualidade, a Gartner estima que a adoção seja de menos de 15% em grandes organizações e menos de 10% no segmento das PME.

Parte deste arranque mais lento que o estimado está relacionado com uma atitude muito cautelosa por parte dos decisores de IT, sendo que a Cloud híbrida é o mais seguro dos caminhos para a nuvem, e em parte tal pode ser explicado pela oferta da indústria, porque só agora começam a ser reais as condições de transformação dos recursos on-premises numa verdadeira Cloud privada.

O que é a Cloud híbrida?
Cloud híbrida é por definição uma política de gestão de recursos computacionais que mistura a Cloud privada ou interna e a Cloud pública. Ou, dito de outra forma, uma agregar dos recursos computacionais on-premises das organizações e dos serviços externos de fornecedores de Cloud computing. Ambos os tipos de recursos computacionais deverão estar sincronizados de forma a garantir a portabilidade de dados e de aplicações através de uma ligação encriptada. É importante entender que não podemos designar de Cloud híbrida o simples aluguer de recursos externos de capacidade computacional ou de armazenamento e usá-los de forma arbitrária. Se não existir uma verdadeira integração entre os recursos on-premises e a Cloud não estamos a falar de Cloud híbrida.

 

As vantagens da Cloud híbrida

A adaptação de soluções de Cloud híbrida implica necessariamente um esforço de
transformação por parte das organizações, que só será realizado se os benefícios
forem claros e quantificáveis.

fabricantes ou integradores, é simultaneamente a que menos esforço exige
de transformação, e por isso é um bom ponto de partida para as organizações
iniciarem o caminho da Cloud: o backup e o armazenamento.
Os preços do armazenamento em ambiente Cloud transformaram-se numa commodity, com gigantes como a Amazon Web Services ( AWS) a colocarem o ticket
do terabyte a níveis impensáveis há poucos anos.
É, sob todos os pontos de vista, lógico que o backup seja feito para um serviço
Cloud, sendo a melhor proteção contra desastres no ambiente físico do data
center, evitando uma multiplicidade de suportes físicos de cópia cuja localização é
falível e que constitui sempre uma potencial quebra de segurança.
O armazenamento, sobretudo da informação massiva, como a gerada pela gestão
documental, tem constituído o grande volume dos fornecedores Cloud, com empresas da área financeira e outras organizações cuja carga do processamento burocrático gera grandes quantidades de dados. Nestes casos, e usando uma
imagem do mundo físico, a Cloud é o “metro de prateleira” mais económica para guardar documentos.

 

Outra grande vantagem da Cloud híbrida é o desenho de cargas de trabalho dos recursos on-premises de valor médio. Em atividades que impliquem sazonalidade ou picos de carga de trabalho, não é mais necessário desenhar os recursos on-premises
para estes momentos anómalos de exigência, ficando para a Cloud pública a tarefa de resolver a carga de trabalho adicional. Os modelos de custo por parte dos fornecedores de Cloud são hoje muito flexíveis, funcionando por débito de hora por armazenamento, por milhares de query à base de dados ou por carga de processamento.

Mais controlo

Mas a grande vantagem da Cloud híbrida é o controlo por parte dos decisores de IT do tipo de dados e de recursos que se mantêm on-premises face aos que se externalizam.

Não existirá, num futuro próximo, uma velocidade de acesso pela Internet pública similar à que se obtém com o baixo tempo de latência dentro da organização, entre os colaboradores e o data center on-premises. Também não há garantias de fiabilidade na conectividade como as que obtemos dentro das próprias instalações ou por redes fisicamente privadas, e o quadro de consolidação crescente das telecomunicações, das divergências entre ISPs e Cloud providers, assim como a ameaça do rompimento da Net Neutrality, pode elevar os riscos de uma solução
cem por cento Cloud a um nível inaceitável para muitas organizações.

Existem ainda duas razões de peso para muitos CEOs, CTOs e outros decisores de IT não avançarem para soluções cem por cento Cloud.
A primeira é a confiabilidade na privacidade e na segurança de dados entregues a terceiros, especialmente em dados críticos do negócio ou da organização.
Os grandes Cloud providers alegam que têm mais recursos para contratar os melhores peritos em segurança e terem os melhores equipamentos e software nesta área, dispondo de níveis de certificação ISO 20000, 27001 e ISO/IEC 27018 que
constituem uma base prática para induzir confiança nas plataformas desta indústria emergente. No entanto, mesmo que todas as objeções contra a Cloud pública sejam removidas por fatores lógicos (o que não é tão certo assim), a perceção na opinião pública sobre a salvaguarda dos dados é similar à ideia que um depositante de um banco tem sobre o “Grande Cofre”, mesmo que em boa medida todos saibamos que nos dias de hoje não é no cofre físico que reside o dinheiro. Clientes que confiam em organizações e empresas podem mudar rapidamente de opinião se uma sombra se abater sobre a segurança dos seus dados. Esse é um fator a ter em conta por um
CIO. Existe ainda o facto de que o tráfego de dados entre a organização e o Cloud provider, mesmo que encriptado, circula pela Internet pública. Logo, teoricamente,
pode ser interceptado.

A questão legal
Por último, existe mais um obstáculo que trava muitas organizações na mudança para uma solução total de Cloud pública, que é o enquadramento legal.
Nenhum CIO quererá responder por uma quebra legal dos dados a si confiados. Neste aspecto, a indústria está a responder mais depressa, com vista a uma solução, do que os políticos ou os juristas. Exista ou não um acordo Safe Harbor 2.0, os gigantes da
Cloud estão a regionalizar os seus data center na Europa.
A AWS, por natureza da sua origem logística e retalhista, já tinha recursos independentes em vários pontos da Europa e beneficiou disso em grandes contas europeias. A Microsoft acaba de anunciar a abertura no imediato de data centers Azure, Office 365 e Dynamics CRM Online na Irlanda, Reino Unido e Holanda, apenas para clientes da União Europeia.

Principais conclusões
A adoção da Cloud híbrida pode ser uma estratégia eficaz para uma conjunto de empresas e organizações que têm políticas mais rígidas de segurança e privacidade ou necessidades mais prementes de terem o data center fisicamente em conjunto com a organização.
Embora os riscos de segurança da Cloud sejam grandemente reduzidos no modelo de Cloud híbrida, essa mitigação não exclui por completo as ameaças inerentes à componente pública, embora isso seja verdade para qualquer tipo de rede pública de telecomunicações. Manter os recursos vitais on-premises significa maiores custos, mas também um controlo inestimável dos responsáveis IT sobre essa Cloud privada e
a sua adequação às necessidades específicas de cada empresa e organização.
Ao encarar os recursos on-premises como uma Cloud privada, os responsáveis de IT ganham uma flexibilidade e rapidez de resposta únicas ao utilizar a Cloud pública para os objetivos concretos que se propõe solucionar, seja a simples solução de backup, o armazenamento de dados e gestão documental pesada, seja o processamento da carga de trabalho extraordinária sem necessidade de aumentar o
hardware local - o que pode ser a melhor solução custo-benefício possível.
Em última análise, a Cloud híbrida permite que as organizações aproveitem a oferta dos Cloud providers sem “entregar” os seus dados críticos a um fornecedor externo. A Cloud híbrida permite criar uma flexibilidade na capacidade de processamento e armazenagem, mantendo os dados vitais dentro do perímetro de segurança da organização.

Como vê o mercado da Cloud híbrida?

“Esta opção tem sido, de facto, a que tem registado maior crescimento, o feedback dos clientes tem sido muito positivo pois permite uma evolução contínua sem momento disruptivos, com as aplicações a serem movidas da estrutura legacy do cliente para ambientes cloud em momentos-chave”.
Javier de la Cuerda - Itconic

 

“Temos apoiado os nossos clientes e parceiros na definição e implementação
de soluções de Cloud híbrida no sentido de responder à necessidade de soluções
on-premises pela existência de Aplicações Críticas de Performance Intensiva, Workloads Específicos, Segurança e Informação Sensitiva, IP e temas de Compliance.
Simultaneamente, dotamos as empresas de plataformas tecnológicas que permitam
incorporar de forma ágil e dinâmica as mais variadas soluções nativas em Cloud,
protegendo os investimentos realizados e garantindo opção e escolha das melhores
soluções que o mercado disponibiliza”.

Jorge Queiroz Machado, Iten Solutions

 

“Uma parte significativa das organizações nacionais já avaliam a Cloud Híbrida
como possibilidade para suportar algumas aplicações e tipos de dados. É esta a
abordagem recomendada pela EMC, por entender quais as vantagens operacionais e
financeiras a médio prazo que podem advir da passagem de aplicações e dados para a Cloud. Esta estratégia deve ser equilibrada e bem planeada, começando antes de mais por uma transformação interna, através da criação de uma Cloud Privada".

António Jerónimo - EMC

 

“Grande parte dos clientes já começam a avançar com a colocação de certas cargas
de trabalho na Cloud pública, reforçando em paralelo a sua Cloud privada.
Workloads como o e-mail, por exemplo, têm sido os primeiros candidatos à evolução para a Cloud Híbrida”.

Daniel Cruz, NetApp

 

“Nas PME de maior dimensão e que já tenham realizado alguns investimentos,
continua a ser uma boa solução, dado que permite uma transição suave, à cadência
do próprio negócio, permitindo uma modernização e evolução para os serviços
de Cloud, IoT, Big Data, Mobilidade sem necessidade de investimentos consideráveis.
Na prática as PME poderão aceder a Tecnologias de Informação superiores em condições semelhantes à das grandes corporações”.

José Pinto - Fujitsu Portugal

 

“A Cloud híbrida desempenha um papel fundamental nas TI, principalmente no
que ao mercado diz respeito, prevendose que 50% de todas as empresas tenham
implementações híbridas até 2017. Para garantir o sucesso desta operação, é
fulcral a atenção dada a um conceito de infraestrutura definida por software. Mais
do que nunca, as empresas verão os seus recursos definidos pelas necessidades das
aplicações e utilizadores através de uma camada aplicacional de orquestração”.

Alexandre Santos, Intel

 

“Os decisores começam a olhar para os modelos de Cloud como uma das opções
que lhe proporcionarão atingir os objetivos de negócio com maior rapidez. Esses
objetivos e preocupações estão a levar os clientes, em todo o mundo, a implementar
o modelo de Cloud Híbrida que faz todo o sentido do ponto de vista dos custos, da
segurança, da privacidade e da eficiência.”

Manuel Piló, Cisco

 

"A maioria das PMEs portuguesas aposta na especialização para se posicionar em determinados nichos de mercado. Esse mercado de nicho, bastante reduzido em Portugal, tem que se procurado além-fronteiras. Para estas empresas, as soluções de Cloud híbrida são ideais, uma vez que permitem, através de Cloud Service Providers (CSP), disponibilizar um conjunto de serviços, suportados nas suas aplicações de negócio em qualquer parte do mundo. As Clouds híbridas são a alavanca que permite às PMEs de forma simples (sem necessidade de recursos especializados) e rápida (time to market) subscrever (com previsibilidade nos custos) serviços que se adaptam às necessidades do seu negócio (flexibilidade escalabilidade)".

Daniel Vilabril, Cilnet

 

"As empresas portuguesas ainda olham para a Cloud com alguma desconfiança. Por um lado, reconhecem os claros benefícios financeiros: menor investimento na criação de infraestruturas para instalação das soluções de IT da empresa e menores custos operacionais associados à manutenção, gestão e operação resultantes da redução do número de equipamentos in-house e complexidade do datacenter. Mas por outro lado, ainda colocam algumas questões relativas à segurança da informação. A modalidade da Cloud híbrida é atualmente a mais utilizada pelas empresas e a mais adequada para a maioria dos modelos de negócios. No entanto, é necessário analisar quais os sistemas que deverão ficar em cada ambiente (privado ou público), como será essa arquitetura e qual a conectividade indicada".

José Manuel Oliveira, Decunify

 

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