Rui Damião em 2024-12-12
Num cenário tecnológico em rápida evolução, a flexibilidade e a escalabilidade oferecidas pela adoção de cloud híbrida e multicloud permitem que as organizações otimizem recursos, melhorem a resiliência e aumentem a agilidade dos seus sistemas de IT. Numa mesa-redonda conjunta com a IT Insight, a Arcserve, a IBM, a Logicalis, a Schneider Electric e a Securnet partilharam a sua visão sobre o mercado de cloud híbrida e multicloud e as oportunidades para os Parceiros de Canal
Qual o estado atual da adoção dos modelos de cloud híbrida e multicloud em Portugal? Quais são as tendências que observam no mercado?
Vasco Sousa, Channel Account Manager, Arcserve: “Só conseguimos proteger aquilo que vemos e, portanto, temos de saber onde é que se encontram os dados: se estão na cloud, se estão on-prem, se estão espalhados. A adoção de múltiplas clouds criou um desafio grande onde, antes, sabíamos exatamente onde é que estavam os dados e, agora, estão dispersos por um perímetro muito alargado. Isto traz uma série de desafios, mas também dá aqui algumas oportunidades; uma das boas práticas é ter os dados numa segunda localização, replicados off-site” Rodrigo Barone, Azure Sales Specialist, Logicalis: “Tenho visto um movimento bastante mais alargado, principalmente em Portugal, na adoção e movimento para a cloud, a olharem para a cloud não como uma perspetiva de IT, mas como um facilitador estratégico do negócio. O negócio exige inovação e a cloud consegue isso de uma forma muito mais rápida do que os ambientes tradicionais; deixa de ser um ponto de entrega de tecnologia para ser um aliado ao negócio e participar na entrega de resultados para o negócio” Sérgio Reis, Hybrid IT Business Development & Solution Architect, Securnet: “A adoção deste tipo de modelos continua a crescer no nosso país e verifica-se a continuação desta tendência. A grande maioria das empresas, hoje, não tem nem tudo em cloud pública, nem tudo em cloud privada; tem um equilíbrio destes dois mundos. O que mais sinto junto dos clientes é privilegiar cada vez mais modelos que, de alguma forma, integrem modelos de serviços on-prem com serviços de cloud pública para adequar da melhor forma a resposta aos requisitos específicos de cada tipo de workloads” A decisão de manter parte dos workloads on-premises é uma estratégia já consolidada. Quais são os fatores que influenciam os clientes a tomar esta decisão? Como podem ajudar as organizações a avaliar corretamente o que deve permanecer on-premises? Paulo Machado, Principal, Cloud Sales, IBM: “Existem vários fatores que determinam a decisão das empresas de manter os workloads on-premises; as aplicações críticas, aquelas que estão no centro do que é mais importante para a atividade da empresa, essas tipicamente são soluções on-premises. Existe um conjunto de fatores que levam a essa decisão: a segurança – porque se estamos a falar de aplicações críticas, a segurança costuma estar muito no topo das prioridades –, a soberania e governança dos dados, a performance e baixa latência e a tipologia das aplicações”
Rodrigo Barone, Logicalis: “Estamos num momento híbrido e, historicamente, passámos por uma transição do ambiente 100% físico para adotar virtualização. Hoje, a virtualização nos data centers é uma realidade. Agora, estamos num momento de cloud híbrida e olho para isso como um momento de transição, justamente pela cloud estar a ser introduzida. Trabalho com cloud há dez anos e tenho visto a crescente movimentação dos ambientes para a cloud. As empresas novas já nascem 100% na cloud” Sérgio Reis, Securnet: “É incontornável que existem alguns tipos de workloads e alguns tipos de dados que não devem estar em cloud pública. No processo de decisão de o que é que deve transitar para a cloud pública e o que é que deve ficar on-premises, há uma série de fatores que devem ser tidos em consideração. Os mais importantes desses fatores têm a ver, essencialmente, com a questão da performance, da latência, da segurança, o compliance e o próprio total cost of ownership que nem sempre é mais reduzido em cloud do que on-prem” Vasco Sousa, Arcserve: “Há um tema que é quem é que vai tomar a decisão. Se for o CTO, as questões como performance, latência ou segurança estão em cima da mesa, mas se é o financeiro, se calhar tem uma perspetiva diferente e nem sempre a melhor decisão corresponde à mais económica. O volume de dados também parece um ponto relevante e a taxa de crescimento esperada para esse volume de dados, ou seja, quanto mais imprevisível for, mais facilmente consigo tomar uma decisão de beneficiar a cloud” Quais são os principais desafios de complexidade operacional nestes ambientes e de que forma é que a integração das soluções de edge computing com as estratégias da cloud híbrida podem contribuir para a eficiência operacional? André Ribeiro, Data Center Services Sales Engineer, Schneider Electric: “Do ponto de vista mais de infraestrutura física, os últimos anos têm sido marcados pelo rápido avanço da transferência da transformação digital e até o incremento da inteligência artificial generativa – que é aquilo que está com maior expressividade e a exigir recursos às infraestruturas. Isto tem obrigado aos gestores obter eficiência operacional nessas próprias infraestruturas; as empresas têm de avaliar a sua eficiência operacional e encontrar a razão entre os recursos de entrada e o outcome desejado” Rodrigo Barone, Logicalis: “Este movimento traz uma obrigação de aprendizagem, de como passar a utilizar esta tecnologia e o que é que eu – enquanto empresa, enquanto equipas de IT que desenham implementam e gerem essas arquiteturas –, preciso de aprender para adotar a tecnologia da melhor forma. O lift and shift nem sempre é a melhor solução; nesta curva de aprendizagem é preciso aprender e o tema da curva de aprendizagem raramente é falado quando se fala da adoção de uma nova tecnologia”
Sérgio Reis, Securnet: “Um dos grandes desafios dos ambientes de hybrid cloud e de multicloud é a gestão da complexidade. Gerir múltiplas plataformas em interfaces completamente diferentes é algo que é bastante time consuming e exige skills específicas. Outro dos grandes desafios tem a ver com o controlo de custos – que nem sempre é fácil. Existe um certo fator de imprevisibilidade e de dificuldade de controlo de custos. Aliado a isso, também temos temas relacionados com a segurança e compliance” A flexibilidade é uma necessidade vital e cada vez mais importante para as organizações, assim como a remoção de barreiras na adoção de soluções cloud. Como é que a cloud híbrida e multicloud estão a ser moldadas para atender a esta necessidade de flexibilidade, considerando os diversos requisitos de negócios? Rodrigo Barone, Logicalis: “Acho que a flexibilidade é um potenciador. A cloud habilita os negócios a serem mais rápidos, a entregar soluções, aplicações, atender à procura sazonal… ou seja, a flexibilidade da cloud com o ambiente on-premises é um habilitador de negócio. Esse movimento do ambiente on-premises para o ambiente de cloud está a acontecer. Há necessidade dessa flexibilidade, dessa integração da cloud com o ambiente tradicional”
Paulo Machado, IBM: “A flexibilidade começou por ser a génese da cloud; quando se começou a falar de cloud, era vendida pela flexibilidade, pela capacidade de escalabilidade e por ter, sempre que precisamos, a quantidade de recursos necessários. Isto contrata com aquilo que se fazia no passado nos ambientes on-premises, onde tipicamente se comprava a infraestrutura pelo pico de necessidade das nossas aplicações, o que havia um desperdício sempre que não estávamos no pico. No fundo, a flexibilidade da cloud é isto mesmo: ajustar as nossas necessidades de consumo àquilo que são as reais necessidades do negócio” Quais são os principais avanços na área da inteligência artificial e do machine learning para a otimização de recursos em cloud híbrida? Sérgio Reis, Securnet: “A adoção de algoritmos de machine learning em ambientes de cloud para fazer a alocação de recursos de uma forma mais eficiente e ajustá-los de uma forma mais dinâmica de acordo com a procura de cada workload tem sido cada vez mais crescente e preponderante para as organizações, essencialmente tendo em consideração dois vetores; por um lado, a maximização da performance das aplicações e, por outro, a redução dos custos de correr essas mesmas aplicações nos ambientes onde elas estão” André Ribeiro, Schneider Electric: “Temos de nos relembrar que, seja um ambiente multicloud, híbrido ou on-prem, está sempre alojado numa infraestrutura de data center e temos que também dar essa visibilidade que, de facto, a infraestrutura é muito importante; é tão ou mais importante porque é o que dá continuidade e garante a disponibilidade de esse serviço estar a operar. Um downtime de uma hora ou mesmo de cinco minutos pode ter custos muito significativos para uma empresa. Temos de assegurar uma taxa de disponibilidade muito próxima dos 100%” Como é que se garante a conformidade e segurança dos dados em multicloud? Quais as melhores práticas na hora de proteger os dados em estratégias multicloud e como é que é possível ajudar as organizações a garantir a continuidade do negócio e a recuperação rápida em caso de incidentes? Vasco Sousa, Arcserve: “Os próprios data centers e clouds têm de responder às exigências regulamentares que são mais exigentes na Europa, mas também nos dá algum nível de confiança maior. O RGPD e a NIS2, por exemplo, obrigam as organizações a evoluir, e quanto mais críticas são as empresas, mais rápido são obrigadas a fazer essa evolução. Isso também dá-nos, como consumidores e clientes, uma maior confiança daquilo que podemos exigir aos fornecedores” André Ribeiro, Schneider Electric: “As empresas têm de ter a preocupação constante com o deploy físico de uma infraestrutura on-prem que controla, mas, não menos importante, quando adquire um serviço a outro provider é necessário fazer as mesmas questões a esse provider, pedir para mostrar evidências. Quero saber como é que os meus dados estão guardados, se existe segurança física que me proteja de ataques futuros ou algum descuido que a infraestrutura pode ter. A parte física não é menos importante do que a parte virtual” Paulo Machado, IBM: “O problema que temos é o aumento da complexidade que vem inerente com os mundos multicloud. A maior parte das empresas já está neste mundo e quando se fala de segurança e conformidade tem de se lidar com diversas realidades. De uma maneira genérica, costumamos indicar que há três etapas para tentar simplificar ao máximo. A primeira é definir medidas de controlo que enderecem os riscos identificados; o segundo é implementar estas medidas de controlo e automatizar sempre que possível; o terceiro e último é monitorizar constantemente” Quais as recomendações finais que dariam às empresas que estão a considerar adotar uma estratégia de cloud híbrida ou multicloud?
André Ribeiro, Schneider Electric: “A organização tem de definir muito bem o que pretende; se pretende estar on-prem, ir para a cloud, multicloud, uma solução híbrida… definir a sua estratégia a médio prazo é muito importante. A longo prazo não faz sentido porque a área das tecnologias é muito volátil e as coisas mudam muito rapidamente. É preciso escolher os melhores fabricantes e Parceiros para implementar essa estratégia, a ideia do que é melhor para o seu negócio. Por último, ter sempre visibilidade e monitorizar essa mesma estratégia” Vasco Sousa, Arcserve: “Há uns anos, um dos maiores data centers da Europa sofreu um incêndio e a esmagadora maioria dos clientes percebeu que a sua cloud era um data center único e não tinham as redundâncias necessárias para estas catástrofes. Não é por falarmos em cloud que devemos confiar. Devemos ter redundância geográfica dos dados, termos três cópias em dois dispositivos distintos, um deles off-site e um deles imutável. É preciso ter atenção a estes detalhes para termos os nossos dados seguros e, depois, disponíveis” Paulo Machado, IBM: “Quando falamos de estratégias de hybrid cloud ou multicloud, devemos definir três estágios; diria que quanto mais investirmos nos primeiros dois, melhor sairá o terceiro. O primeiro estágio é planear; a segunda fase é testar; por fim, é a fase de implementação. Esta é a maior recomendação que posso fazer às organizações para evitar surpresas desagradáveis no final” Quais são as oportunidades para os Parceiros no mercado de cloud híbrida e multicloud? André Ribeiro, Schneider Electric: “Há uns anos, muito impulsionado pela transformação digital e a parte da desmaterialização dos dados para formato digital, houve uma oportunidade para os Parceiros em melhorar, otimizar e modernizar as suas infraestruturas. A par dessa realidade passada, agora com a inteligência artificial generativa, existe mais uma vez a oportunidade de os Parceiros modernizarem e capacitarem as suas infraestruturas para alojar essa necessidade de processamento de alta capacidade. A Schneider Electric tem as pessoas, o conhecimento e os produtos para que os Parceiros possam endereçar as melhores soluções de mercado aos seus clientes” |