2017-1-23

A FUNDO

Cloud Híbrida – o melhor de dois mundos

Em pleno contexto de transformação digital, qual o relacionamento das empresas com a cloud, que benefícios lhes traz a sua adoção e como pode o Canal tirar verdadeiro proveito da nuvem? Em mais um Fórum IT Channel, reunimos a Arrow ECS, a Claranet, a Check Point e a Iten para debater aquele que é um dos mais importantes e complexos paradigmas tecnológicos, na sua vertente pública e privada

Cloud Híbrida – o melhor de dois mundos

O mercado de infraestrutura de cloud, na EMEA, gerou receitas de 1.4 mil milhões de dólares no segundo trimestre de 2016, de acordo com o mais recente relatório da IDC, crescendo cerca de 37%. Face ao IT tradicional, o market share da cloud (pública e privada) situou-se nos 22.5%.

A cloud privada (servidores, armazenamento e switches Ethernet) registou o maior crescimento e volume de faturação: 39.2%. Segundo a IDC, as empresas estão a consolidar as suas infraestruturas de IT e valorizam a facilidade de integração dos deployments de cloud privada com os sistemas já existentes. Dentro de quatro anos o mercado total de cloud (pública e privada) na EMEA deverá ultrapassar os 10 mil milhões de dólares e ter um peso superior a 35%.

 

Os participantes do Fórum: Miguel Sousa (Senior Pre-Sales Consultant na Iten Solutions), Paulo Vieira (Major Account Manager na Check Point), Sónia Casaca (Business Unit Manager da Arrow ECS) e Vasco Afonso (Solution Designer Director da Claranet)

A consultora destaca que esta continua a representar uma “área de tremendo crescimento para o setor europeu de infraestrutura”. No contexto europeu, como se posiciona Portugal? Segundo o Claranet Research Report 2016, que inquiriu 900 líderes seniores de IT em empresas do mid-market (100-2000 funcionários) nos seis mercados em que a Claranet opera (Benelux, França, Alemanha, Portugal, Espanha e Reino Unido), o modo como os negócios portugueses operam está a começar a mudar, apesar do país permanecer atrás no que respeita à adoção de soluções cloud, sobretudo face à França e ao Reino Unido, os países com maior maturidade.

Pequenas empresas mais ágeis na adoção

Nas empresas mais pequenas, cloud é sinónimo de agilidade. Nas maiores, as componentes de desenvolvimento estão a ser exportadas para clouds públicas. Segundo Vasco Afonso, solution design director na Claranet, a cultura organizacional explica esta realidade. Basta olhar para as pequenas empresas e startups nacionais, que já nascem na cloud. “Nem sequer pensam em adotar o IT tradicional. Estamos a falar de uma geração que não considera instalar toda uma infraestrutura para entregar soluções ao mercado. São o oposto das médias e grandes empresas”, referiu. Nestas ainda vigora “um tradicionalismo do IT”, que se explica pelo facto de terem “um elevado número de aplicações internas que têm de ser suportadas”.

Muitas são legacy e não correm nativamente na cloud. As empresas de maior dimensão têm ainda um outro problema: aplicações novas que continuam a depender das aplicações mais legacy e cuja desagregação é igualmente desafiante. As pequenas empresas, além de consumirem serviços cloud, têm tendência a ser multicloud, ou seja, a recorrer a múltiplos prestadores de cloud pública e a soluções complementares. A IDC confirma esta tendência e estima que o ambiente multicloud continue a ser bastante bem-sucedido: mais de 70% das empresas da Europa Ocidental devem adotar alguma forma de multicloud até ao final de 2017.

Maior procura a partir do próximo ano

Também a Iten tem notado que as startups e as pequenas empresas, “por terem um time-to-market apertado, começam sempre na cloud”. Miguel Sousa, senior pre-sales consultant, acrescentou que “grande parte dessas empresas não estão preocupadas em refletir sobre o que é infraestrutura ou sobre como geri-la, porque não lhes faz sentido”. Transportar aplicações legacy para a cloud é “muitas vezes complexo” e por isso algumas empresas estão a fazê-lo progressivamente.

“Na Iten temos 50% de cloud privada e 50% de pública. Tipicamente, estamos a adotar serviços paralelos, de disaster recovery as-a-service e de backup-as-a-service, para colocar as empresas na cloud de uma forma mais gradual. Posteriormente, a componente de infrastructure- as-a-service (IaaS) e aplicacional começa a aparecer”. Em 2016, a Arrow ECS tem encontrado, do lado das PME, “mais vontade de evoluir para a cloud”. Segundo Sónia Casaca, business unit manager, tal deve-se a um maior investimento em infraestrutura. “Também da parte dos fornecedores os produtos têm vindo a adaptar-se a esta nova era e a tendência é para que haja cada vez mais oferta cloud. A transformação digital tem conduzido a uma mudança ao nível de modelos de negócio e de procura. Acreditamos que em 2017 haverá um pulo bastante maior na vertente cloud”.

Modelo híbrido é uma realidade

Apesar da escalabilidade da cloud pública, a cloud privada continua a fazer sentido, sobretudo enquanto infraestrutura. “Há ainda muito espaço para a cloud privada”, garantiu Miguel Sousa. “Os indicadores apontam que 70% do mercado estará on-premises, ou seja, fará parte de uma cloud privada ou híbrida”, destacou. Vasco Afonso chamou a atenção para a existência de “um misto de IT interno, cloud privada e clouds públicas” no seio das empresas, cenário que caraterizou de frequente, até porque, do ponto de vista de compliance, há requisitos legais que obrigam as empresas a manterem os seus dados em Portugal.

“Acreditamos que as clouds públicas, sozinhas, não respondem a 100% dos casos. Para que tal acontecesse, muitas das empresas teriam de transformar-se completamente. É aqui que as clouds privadas, e híbridas, entram”, explicou. O facto de as clouds privadas assentarem em plataformas de virtualização que o IT interno tão bem conhece e no qual confia facilita a transição para a cloud privada, segundo o responsável da Claranet. “De alguma forma as empresas sentem que controlam essa infraestrutura”.

Uma realidade, e necessidade, que a Check Point confirma: “Na ótica da segurança, temos vindo a perceber que os clientes querem continuar a ter a visibilidade que tinham no passado, típica de ambientes e infraestruturas internas, e tendem a querer não perder essa visibilidade nas clouds públicas”, frisou Paulo Vieira, major account manager.

Segundo Sónia Casaca, “vai havendo um ambiente híbrido”. As empresas “veem com muitos bons olhos a cloud privada”, essencialmente porque procuram não abdicar do controlo sobre a rede interna e sobre a infraestrutura, começando a passar áreas menos críticas para a cloud. A “agilidade e criticidade” das aplicações e do negócio ditam, aliás, o que transita para a nuvem. “Para uma empresa o e-mail pode ser crítico e para outra não”, exemplificou, falando numa “transformação faseada e coerente”.

A Claranet tem observado que dentro de cada empresa existem várias velocidades. “Há empresas que utilizam frequentemente a cloud pública para os serviços online”, apontou Vasco Afonso, dando como exemplo a Niantic, responsável pelo fenómeno Pokémon Go, cujas necessidades de infraestrutura aumentaram 50 vezes em poucas semanas, ultrapassando em larga escala as suas estimativas. Se o jogo não estivesse suportado por uma cloud pública, as consequências desta procura massiva poderiam ter sido catastróficas.

“Se um serviço ou produto for lançado sobre uma cloud privada e registar elevada procura, não há capacidade para escalar rapidamente”, realçou. “Quando estamos a falar de plataformas que não mudam e para as quais sabemos que as capacidades de armazenamento e processamento são constantes, pode fazer sentido falar de clouds privadas. Quando estamos perante algo que tem de mudar ao longo do tempo, a cloud pública encaixa melhor”.

 

Vasco Afonso, solution designer director da Claranet e Sónia Casaca, business unit manager da Arrow   ECS
 

Cloud privada é financeiramente competitiva?

Maior performance com menos custos é uma das grandes vantagens da cloud e a variante pública é tendencialmente entendida como mais vantajosa neste âmbito. No entanto, segundo o painel deste Fórum, não existem verdades absoluta quando o tema é cloud. “O que existe numa cloud pública, em termos de modelos financeiros e da respetiva escalabilidade, já começa a existir on-premises”, assegurou Miguel Sousa.

A Iten tem estado a trabalhar no sentido de “habilitar uma cloud completamente híbrida”, na qual o funcionamento da cloud privada é exatamente igual ao da cloud pública. Trata-se de um produto fechado e que, garante, tem “os mesmos modelos de agilidade e financeiros da cloud pública”. Em alguns projetos o “motivador de negócio” obriga a ter uma cloud privada, precisamente pelo fator financeiro. “A cloud pública, do ponto de vista de IaaS, não é competitiva e para cenários específicos de aplicações não é flexível, porque tudo está muito formatado. Com a cloud privada conseguimos oferecer essa flexibilidade”, justificou. “Existem situações específicas em que optamos pela cloud pública para colocar parte dos serviços, em determinados momentos do negócio”.

O responsável da Iten referiu mesmo que existem vários exemplos de empresas que começaram na cloud pública e que, financeiramente, “perceberam que conseguiam passar grande parte do negócio para on-premises”. Chamou ainda a atenção para o “downtime mandatório” da cloud pública, a janela de manutenção de que os providers necessitam para garantir a atualização permanente do serviço, e que tem “muito impacto” sobre os sistemas das empresas. Sobre este tema existe ainda outro fator a ter em conta: os SLAs (Service Level Agreements).

Paulo Vieira, da Check Point, chamou a atenção para o facto de, na cloud pública, os tempos de resposta serem superiores. “Não são bem os SLAs que as empresas têm nas suas próprias infraestruturas. O mercado português está habituado a SLAs mais apertados e quando as empresas vão para uma cloud pública apercebem- -se da diferença”. Para Vasco Afonso, no entanto, o debate cloud privada/pública “não se pode resumir a cenários financeiros” e relaciona-se, sobretudo, “com a atividade da empresa e as suas necessidades”.

Ainda assim, o solution design director da Claranet distinguiu quando uma é mais proveitosa do que a outra. “A cloud privada é mais vantajosa para organizações com mais de mil servidores. Como IaaS, raramente a cloud pública é mais competitiva. Não é esse o seu benefício”, enfatizou. “O seu verdadeiro potencial reside em todos os outros serviços, de Platform-as-a-Service e de Software-as-a-Service, ou seja, em todo o ecossistema de serviços”. Assim, e como resumiu Paulo Vieira, o mais importante no momento de decidir o que fica em cada cloud “é o retorno que advém para o negócio”.

Nos serviços está o ganho

Para o Canal, a cloud significa enormes oportunidades mas, igualmente, grandes desafios. Miguel Sousa partilhou a experiência da Iten, que tem procurado aportar “valor acrescentado” à cloud através dos serviços. “A cloud é só uma base para começarmos a trabalhar o negócio dos clientes”.

O integrador tem implementado camadas adicionais de valor, para lá da componente aplicacional, através de serviços de Software Asset Management, por exemplo, que envolvem uma auditoria às empresas com o objetivo de perceber o que existe ao nível de licenciamento e software para alcançar melhorias de performance e redução de custos. Serviços geridos também têm sido uma aposta: “É fundamental dar ao cliente a possibilidade de ter, num único serviço e numa única fatura, tudo incluído. Deste modo a empresa pode pensar o negócio enquanto nós gerimos a plataforma”.
 

Paulo Vieira, major account manager da Check Point e Miguel sousa, senior pre-sales consultant da Iten Solutions.

Cloud não é ameaça

Apesar de uma parte do Canal estar a evoluir e a acompanhar a transformação digital dos negócios, existem ainda Parceiros que se sentem inseguros e até ameaçados pela cloud. “Os Parceiros ainda sentem dificuldade em adaptar-se às necessidades atuais dos clientes, em passar a sua informação e infraestrutura para a cloud”, realçou Sónia Casaca.

São vários os motivos. Por um lado, ainda estão habituados a comercializar produtos segmentados para as infraestruturas tradicionais. Por outro, ainda existe um défice de know-how do ponto de vista dos recursos humanos. “Já tivemos casos em que a simples mudança de infraestrutura conduziu a um sentimento de incerteza por parte dos técnicos, que temem perder o seu posto de trabalho”, confidenciou. Mas a cloud não dispensa o recurso aos Parceiros de Canal, pelo contrário.

“A cloud implica um investimento e não um desinvestimento no Canal ou nas pessoas. A cloud híbrida também tem elevadas exigências, ao nível da gestão adicional que tem de ser feita, o que traz oportunidades”, frisou a responsável da Arrow ECS. Também Paulo Vieira demonstrou que a cloud é uma importante oportunidade de negócio: “Muitas vezes os Parceiros acreditam que a cloud pública fornecerá todos os serviços e que não haverá mais espaço para eles. Passa-se o oposto: os clientes não querem perder o controlo das suas infraestruturas, mesmo que sejam públicas”.

As competências em cloud são um desafio transversal, mas revelam-se particularmente evidentes na área da segurança. “Os Parceiros têm muito poucos conhecimentos de cloud, porque estão muito agarrados à infraestrutura interna, à firewall. E cada vez mais os clientes falam em Software Defined Network, em equipamentos que se autoconfiguram”. Paulo Vieira disse ainda que as empresas “começam a ter este dialeto com os Parceiros”. Só este ano, a Check Point teve quatro grandes projetos de segurança em cloud. “A banca, por exemplo, quer começar a controlar estes ambientes”.

IT interno também resiste

Se os Parceiros ainda demonstram alguma resistência à cloud, a verdade é que os departamentos de IT das empresas não têm uma postura diferente. “O IT interno é um bloqueio à evolução para a cloud”, defendeu Vasco Afonso. “Também sentem que o seu posto de trabalho está a ser colocado em causa e isso não facilita a evolução”.

Miguel Sousa apontou aquele que é, no seu entender, um dos maiores entraves à adoção da cloud: “Nota-se muito que o IT é, em grande parte das empresas, um silo, ou seja, está completamente desalinhado com o negócio. Quando as empresas perceberem que o IT é parte integrante deste, o caminho será mais fácil”.

O Canal deverá, mais do que nunca, assumir o papel de “facilitador” da evolução. Neste cenário, os fabricantes também têm uma importante responsabilidade. Segundo este painel, já o perceberam, e não por acaso estão apostar cada vez mais na venda de software e de serviços cloud. “Perceberam que se não o fizerem ficarão para trás”, realçou Vasco Afonso.

Aos Parceiros, o representante da Claranet deixou um conselho: “Se o Canal tiver como objetivo prender os clientes ao que conhece, mais cedo ou mais tarde os clientes vão perceber que estão cinco anos atrás face à concorrência e deixam de confiar no Canal”. Os Parceiros devem, assim antecipar-se e dar resposta às necessidades do cliente, mantendo-se e mantendo-o atualizado. “Se os Parceiros não evoluírem o seu modelo de negócio, dentro de cinco a seis anos estarão desfasados do mercado e desaparecerão”, rematou Sónia Casaca.

 
 

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