Rui Damião em 2023-6-19

A FUNDO

Mesa-Redonda

Cloud, a impulsionadora da transformação digital

Para muitas organizações, uma abordagem cloud-first é o caminho a seguir. Arcserve, Cisco e Microsoft partilham a sua visão sobre o mercado de cloud e de como os Parceiros podem crescer

Cloud, a impulsionadora da transformação digital

Como é que está o mercado de cloud em Portugal? Sentem que está mais consolidado?

 

Abel Aguiar, Microsoft Portugal

Abel Aguiar, Executive Director & Board Member, Microsoft Portugal: “O mercado de cloud beneficiou de um crescimento significativo nos últimos anos. Em 2020, segundo a IDC, o mercado valia sensivelmente 300 milhões de euros; deve terminar 2023 na ordem dos 640 milhões de euros, que é mais do que duplicar em termos de tamanho e isso mostra muito aquilo que foi a evolução do mercado nos últimos anos. O que é facto é que esta aceleração trouxe uma evolução bastante grande naquilo que é a cloud e aquilo que é o tecido empresarial português”

Rui Antunes, Cybersecurity Sales Specialist, Cisco: “Há mais organizações a quererem fazer a jornada para a cloud. Mesmo organizações que eram avessas à cloud – como organismos públicos e instituições financeiras – estão agora com iniciativas de adoção de cloud. Mas há ainda um caminho a fazer e existem alguns obstáculos que é necessário endereçar; um deles é a falta de competências nesta área. A cloud é algo relativamente recente e ainda há poucos recursos experientes quer nas organizações, quer nos Parceiros, que liderem este processo”

Vasco Sousa, Channel Account Manager, Arcserve: “Vejo, cada vez mais, a adoção da cloud como um repositório último dos dados que têm dentro de portas. Isso tem vindo a ser muito empurrado pela pressão gerada pelos temas da segurança e da proteção de dados, os ataques de ransomware têm desencadeado as necessidades das organizações nesse sentido. Vejo um grande dinamismo, com uma boa margem e um bom ritmo de crescimento”

O que leva as organizações a terem uma abordagem cloud-first para as suas operações?

Rui Antunes, Cisco: “Depende das organizações. Vemos as startups a procurar acelerar o time-to-market e evitar investir numa infraestrutura própria que, no limite, pode ser desmantelada se o plano de negócios for alterado. Já as empresas bem estabelecidas no mercado, também pretendem acelerar o time-to-market com o objetivo de ganhar, ou pelo menos manter-se a par, da concorrência. No fundo, pretendem com a cloud tornarem-se mais ágeis e assumir, de certa forma, uma atitude de startup, embora, para estas empresas, a adoção de cloud apresente mais riscos”

Vasco Sousa, Arcserve: “As organizações já veem e exploram os benefícios da cloud. Desde a vantagem de ter dados que possam estar deslocalizados, a questão da disponibilidade de serviço, a questão da elasticidade e a possibilidade que temos de crescer e escalar muito rapidamente que numa infraestrutura on-premises seria sempre muito mais estática, serão as grandes vantagens que as organizações veem neste serviço. Associado a isto há a questão financeira, de não ter de se fazer um investimento grande à cabeça e podermos ajustar os recursos consoante aquilo que são as necessidades”

Abel Aguiar, Microsoft: “Ainda há muitas organizações que não têm uma abordagem cloud-first e que, no nosso entender, deveriam entender. A escalabilidade é um dos temas críticos quando se fala de cloud versus on-premises no sentido que há a capacidade de escalar e fazer crescer recursos e acesso a recursos que também é um tema crítico numa startup, que tipicamente tem uma capacidade de crescimento bastante significativa. Mas em qualquer grande organização há picos e há momentos onde esta escalabilidade é particularmente crítica e compensadora”

As empresas já têm perceção dos benefícios que a adoção de um modelo as-a-Service na cloud pode trazer para a sua operação?

Vasco Sousa, Arcserve

 

Vasco Sousa, Arcserve: “O modelo as-a-Service, pelo menos na cabeça dos clientes finais, é uma questão financeira, do CapEx versus o OpEx. Os Parceiros podem acrescentar valor para que não seja uma conversa puramente financeira, porque se não acabamos por estar muito centrados naquilo que são as ofertas dos fabricantes; acho que há espaço para os Parceiros se poderem diferenciar uns dos outros em termos daquilo que é o modelo e aquilo que é o serviço que entregam”

Abel Aguiar, Microsoft: “Gerir esta realidade da cloud e a realidade do as-a-Service obriga as empresas a alterarem a sua forma de olhar para os recursos de TI. Tentar gerir e ter modelos de governo de TI tradicionais nesta realidade pode trazer alguns dissabores. Tipicamente, há uma democratização dos recursos de TI dentro da organização a partir do momento em que entramos no as-a-Service, começam-se a discutir coisas como shadow IT, acessos… mas é, no entanto, uma inevitabilidade. É melhor que as áreas de IT percebam que vão ter de alterar o seu modelo de governo para tirar benefícios”

Rui Antunes, Cisco: “As empresas têm noção das vantagens. Há a questão dos desafios e dos receios que é preciso considerar, mas as empresas percebem que ao ter uma abordagem cloud-first podem focar-se no que é essencial para o seu negócio e reduzir o tempo que dedicam a atividades relacionadas com o IT – que não é o seu core. O time-to-market também é muito importante e é agora muito mais fácil lançar uma aplicação”

Qual é a importância dos serviços de recuperação de desastres e de backup serem fornecidos como um serviço e estarem alojados na cloud? 

Vasco Sousa, Arcserve: “A segurança é um dos benefícios que a cloud nos permite. Estamos a falar da última linha de defesa que é a componente de recuperação. A cloud tem este benefício, é preciso ter alguns cuidados e seguir boas práticas. Se os backups na cloud são uma extensão apenas da rede local, não vão servir de grande coisa. Nas PME que estão a fazer este caminho, é preciso haver rotinas para fazer backups, não ter esta abertura que permita que um ataque local se possa propagar à cloud”

Cada empresa é uma empresa. Quais são os passos a dar até chegar a uma solução indicada para uma determinada organização? 

Abel Aguiar, Microsoft: “Cada empresa tem a sua própria realidade e esse é o início: conhecer a própria realidade da empresa, perceber qual é o seu landscape, ver qual é que é a sua estrutura infra e aplicacional e, a partir daí, começar a ajustar isso à sua própria estratégia de negócio porque, na realidade, isso vai ser um tema crítico. Aquilo que é evidente é que hoje a tecnologia é uma parte integrante do negócio, dos processos e do funcionamento da organização”

Rui Antunes, Cisco: “A jornada para a cloud deve começar com a definição dos objetivos que se pretendem atingir. Isso pode ser redução de custos, escalabilidade, agilidade, mas o que é fundamental é que a estratégia de adoção de cloud esteja completamente alinhada com a estratégia de negócio da organização porque isso é o mais importante para se ter um caminho bem-sucedido. Depois de definidos os objetivos, é preciso fazer um assessment ao contexto do cliente e perceber a sua adequação ao ambiente de cloud”

Os clientes têm uma estrutura de IT reduzida e precisam do Canal para fazer a gestão e a integração de todo o portfólio de serviços. Que ferramentas e competências é que os Parceiros devem ter para endereçar o mercado e fazer a gestão dos vários modelos presentes na cloud?

Abel Aguiar, Microsoft: “Aquilo que temos no landscape empresarial em Portugal é desafiante. A última vez que vi dados sobre isto no INE, menos de 20% das empresas portuguesas tinham uma pessoa dedicada ao IT; estamos a falar que 80% das empresas em Portugal não chegam a ter uma pessoa dedicada ao IT na sua organização. Já de si é extraordinariamente difícil. Se depois somarmos a isto o facto de que a complexidade de competências que se pedem a uma organização dentro de uma estrutura de IT só fica mais complicado. A maneira de resolver este problema é exatamente pegar nos Parceiros e assumi-los como alguém que consegue suprir estas realidades de forma mais flexível”

Rui Antunes, Cisco: “As competências tecnológicas são fundamentais. O caso da capacidade de definir arquiteturas engloba não só a componente aplicacional, mas também a componente de networking e de segurança. Mas também são muito importantes as componentes em termos de negócio porque há muitas decisões na jornada da cloud e muitas delas não são exclusivamente tecnológicas. Por exemplo, em FinOps, a gestão do controlo de custos pode fazer toda a diferença entre uma adoção bem-sucedida e uma migração que, no limite, pode ser suspensa e revertida por questões de viabilidade financeira”

Vasco Sousa, Arcserve: “Especificamente na questão dos backups, os Parceiros têm um papel importante na definição do que são os perfis e os níveis de serviço corretos para cada um dos clientes, de terem a conversa com a direção de topo para perceberem que tipo de backup na cloud é que precisam, consoante os objetivos da organização. Se uma organização não tem exigências de RTO e tolera um ou dois dias sem acesso aos seus temas, talvez um serviço de Backup-as-a-Service onde se tem as cópias locais que são sincronizadas para a cloud e tem um histórico relativamente longo confortável na cloud é suficiente”

Como será o futuro do mercado de cloud? As organizações vão continuar a apostar numa abordagem cloud-first?

 

Rui Antunes, Cisco

Rui Antunes, Cisco: “O futuro do mercado de cloud continua a ser muito promissor. A cloud é uma tecnologia transformativa, chegou para ficar e oferece vários benefícios – como a escalabilidade e a flexibilidade – e o modelo pay-as-you-use. Muitas organizações já começaram a sua jornada para a cloud e muitas outras continuarão a fazê-lo durante os próximos anos. No entanto, cada organização tem os seus requisitos únicos e algumas organizações podem ter maiores constrangimentos na adoção de cloud, por exemplo, por questões regulatórias”

Vasco Sousa, Arcserve: “Não vejo propriamente uma revolução; vejo uma evolução. A adoção de cloud já se iniciou há muito tempo e daquilo que vejo ainda hoje falamos e vemos uma adoção grande de, por exemplo, backups externalizados na cloud. Ainda há muito caminho para fazer e acho que as organizações vão continuar a explorar estes benefícios. Há três anos – um pouco empurrados – houve um salto, dos dados estarem acessíveis a partir de qualquer lugar”

Abel Aguiar, Microsoft: “As últimas estimativas da IDC indicam que vamos ter mais três anos a crescer acima de 20% e um mercado que vai chegar a 2026 a valer 1.100 milhões. Estes dados são anteriores aquilo que é o boom que estamos a assistir agora da inteligência artificial e do que é que isto pode significar do ponto de vista de aceleração do crescimento da cloud. Ainda vamos ter muitos anos em modelos híbridos, vamos ter um modelo em que os clientes vão gerir a transição de on-prem para cloud dentro de tudo aquilo que faça sentido”

Quais são os desafios e as oportunidades para os Parceiros neste mercado?

Vasco Sousa, Arcserve: “As organizações têm de utilizar ferramentas de terceiros para fazer backups dos seus dados, independentemente de eles estarem on-premises ou na cloud. Se fazemos a migração para a cloud onde uma das vantagens é não ter de investir em equipamento. Uma das oportunidades que temos visto, e especialmente no segmento médio do mercado, é a questão de fazer backups do 365, por exemplo, para uma segunda cloud, deslocalizada geograficamente e onde temos essa redundância. É uma das áreas onde temos vindo a ver, no último ano, um crescimento exponencial”

Rui Antunes, Cisco: “Criar e utilizar recursos na cloud é relativamente fácil e pode criar a perceção aos clientes de que não é necessário um conhecimento profundo de infraestruturas e segurança; essa é uma falsa perceção porque criar recursos para arrancar o serviço ou aplicação de forma provisória ou inicial até pode ser rápido, mas garantir que essa solução pode escalar e ter os controlos de segurança necessários para não ser colocado em risco é algo mais complexo que exige planeamento onde os Parceiros podem ser mais-valia e posicionarem-se como consultores”

Abel Aguiar, Microsoft: “O futuro é brilhante nesta realidade. A primeira coisa que é preciso perceber é que há um mercado de cloud que está em crescimento e vai continuar a crescer nos próximos anos; isso é uma oportunidade de captura por parte dos Parceiros. A segunda nota é que as dificuldades de captura de talento dos clientes abrem o papel muito relevante para os Parceiros ocuparem porque conseguem rentabilizar recursos de uma maneira que os clientes não conseguem e têm dificuldades” 

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