Vânia Penedo em 2018-6-05
A cloud abriu portas a uma nova forma de consumir IT e à sua democratização. É a fundação da transformação digital, a origem de modelos de negócio disruptivos e o motor de inovação das empresas. Alcatel-Lucent Enterprise (ALE), Claranet, IBM, jp.di, Microsoft e Tech Data apontam os melhores caminhos da cloud
Não existe transformação digital sem a cloud. Num mundo onde só a mudança é uma certeza, a cloud é sinónimo de possibilidades sem fim: recursos on-demand, escalabilidade, agilidade no go to market – tudo o que as empresas mais valorizam, das maiores às menores, das mais às menos tradicionais. Porque todas, sem exceção, enfrentam o mesmo desafio: adaptação constante às tendências do mercado, às expetativas e novos comportamentos dos consumidores, aos movimentos da concorrência. Apesar de facilitar em grande medida a forma como os negócios se mantêm flexíveis e aptos para a mudança, a cloud está longe de ser simples. Porque não existe uma cloud, existem clouds. A “nuvem” é software- as-service (SaaS), platform-as-a-service (PaaS), infracstructure-as-a-service”. E não é somente cloud pública, é também um novo modelo para o data center, a cloud privada. Em Portugal, as empresas estão mais conscientes dos benefícios de adotar este modelo de consumo de IT. “Há claras diferenças na maturidade da adoção da cloud, nos últimos seis meses. Estamos no bom caminho”, reconheceu Vasco Afonso, head of public cloud na Claranet. As nossas empresas já não estão num processo de exploração do conceito, em parte porque a evangelização, do lado dos grandes players de cloud pública, tem sido intenso. “As empresas já não perguntam ‘porquê cloud?’, mas ‘porque não?’”. A fase de eleger aplicações menos críticas para experimentar a cloud tem vindo a ser ultrapassada. “Temos constatado que o primeiro passo tem sido a adotação do modelo cloud para workloads de commodity, como é o caso do e-mail”, indicou Pedro Raminho, director of software sales da IBM. “Passo a passo, com as ofertas mais granulares que têm sido apresentadas, a maioria das empresas começaram a inovar a partir de modelos cloud ready, com um go to market muito mais célere, tendo em vista a experimentação”. As empresas tendem, primeiramente, a criar modelos de desenvolvimento para experimentação, e “só depois transitam para um modelo mais Muitas já têm um lema "cloud first", com as novas aplicações a nascerem indubitavelmente na cloud. Mas falta ainda definir o roadmap de adoção em direção à utilização de serviços que operem verdadeiras transformações. Neste ponto, existe ainda muito trabalho pela frente. “As empresas querem ir para a cloud, mas precisam de ajuda para fazer o planeamento. O nível de consciencialização já é elevado, mas o nível de maturidade ainda é baixo”, frisou Vasco Afonso (Claranet). Abel Aguiar, diretor executivo de PMEs e Parceiros na Microsoft Portugal, identificou duas realidades distintas no processo de adoção da cloud, no nosso mercado: o das grandes empresas e o das PME, onde reina a heterogeneidade. “Uma média empresa, em Portugal, está abaixo das suas congéneres europeias em termos de adoção. Ainda assim, têm feito um caminho interessante nos últimos anos." Se é verdade que apenas 15% das empresas trabalham numa lógica "cloud first", avançou, “uma grande maioria têm cloud incorporada na sua estratégia”. Ainda assim, existem setores muito tradicionais, como é o caso do grande retalho, da indústria e das pequenas empresas, que se encontram em estádios menos avançados de adoção da cloud. No caso das PME, uma eventual resistência à cloud explica-se pela escassez, e até por uma certa imaturidade, dos seus recursos internos de IT. “O último estudo que li sobre esta matéria diz que só 14% das empresas, em Portugal, têm uma pessoa dedicada ao IT. E a maioria das PME têm menos de dez funcionários”, assinalou Abel Aguiar. “Por norma, estas empresas estão muito dependentes de alguém que faz de tudo um pouco, e até acabam por entender esta realidade como uma ameaça”. Do lado das comunicações, a Alcatel-Lucent Enterprise (ALE) tem observado que a adoção da cloud por parte das PME é uma realidade. “Não numa lógica full cloud, e nem é essa a nossa visão do mercado. Há serviços que fazem sentido na cloud, porque podem abrir as empresas à comunidade. Mas há ganhos em manter outros serviços dentro de casa”, sublinhou Luís Coelho, responsável de pre sales and business development. “O mercado está a adotar a cloud em grande parte devido aos modelos de negócio. Começa a haver interesse por comunicações em tempo real – telefonia, videoconferência, instant messaging”. O responsável da ALE apontou a possibilidade de pagar por utilização e a necessidade de não ter infraestrutura como importantes drivers da migração para a cloud, do lado das PME. A distribuição também observa no mercado português margem de crescimento para a cloud. “Numa escala de zero a cinco, Portugal encontra-se no nível três de adoção”, avaliou Jorge César, business development manager na jp.di, que falou num mercado a duas velocidades: “Temos, por um lado, organizações que iniciaram o caminho da migração há cerca de cinco anos e que já obtêm à data de hoje ganhos significativos. Por outro, há organizações que iniciaram o caminho mais tarde, há um ou dois anos, e que estão numa fase inicial. No final deste ano, acredito que já estaremos muito mais bem posicionados nesta escala”. João Cunha, division manager & cloud lead, na área de software, na Tech Data Portugal, foi categórico: “A oportunidade é gigantesca, para o Canal. Existe muito trabalho pela frente, precisamente porque muitas empresas só têm uma pessoa dedicada ao IT, enquanto outras nem uma pessoa têm”. Os Parceiros podem e devem entrar em cena, chamando a si a responsabilidade do IT destas empresas, que “têm de estar preocupadas em desenvolver o seu negócio”. Segundo o distribuidor, a cloud tem tido no SaaS a principal porta de entrada nas organizações. “É onde o cliente identifica imediatamente mais-valias, em termos de produtividade. O maior desafio está no IaaS ou no PaaS. Existe muita infraestrutura legacy, que dificulta a migração”. A cloud híbrida será o caminho, o que significa que haverá mais trabalho, do lado dos Parceiros, "no auxílio à transição".
Híbrida, certamenteOs investimentos em IT tradicional não estão a abrandar, em Portugal, o que confirma que a realidade das organizações não é nem cem por cento pública nem cem por cento privada. Além do mais, o próprio IT tradicional atravessa uma grande mudança, em direção a uma maior flexibilidade. De acordo com a Tech Data, as áreas de negócio de infraestrutura e data center permanecem saudáveis. “Tão pouco observamos um desequilíbrio. Há muito investimento realizado recentemente que, subitamente, não pode ser substituído”, indicou João Cunha. “A movimentação tem de ser gradual e inteligente, e passa por identificar as mais-valias dos dois mundos”. Este ano, avançou Abel Aguiar (Microsoft), 50% dos gastos devem continuar a ser destinados ao IT tradicional. “O mundo vai ser claramente híbrido. Conheço muito poucos casos cem por cento cloud e não conheço uma empresa que esteja a cem por cento na cloud pública”. Deste modo, acrescentou, cabe a fornecedores e Parceiros “encontrar soluções que permitam aos clientes, da melhor forma possível, compatibilizar o que está on-premises com as novas realidades, facilitando todo o processo de transformação”. As empresas full cloud, reconheceu Pedro Raminho (IBM), são “pouco representativas”, e tendem a ser as que já nasceram neste modelo, como as startups. “As que têm processos que vêm de trás terão sempre um modelo híbrido. Haverá um equilíbrio entre o que se coloca numa cloud pública e o que permanece dentro de casa. É preciso que cada organização defina o caminho que pretende para as suas aplicações”. Luís Coelho (ALE) realçou que “nem tudo o que vem da cloud traz mais valor a uma empresa”, havendo aspetos em que, realçou, “não se deve abdicar de ter as infraestruturas de comunicações on-premises, em formato de cloud privada, com o complemento de serviços de cloud pública”. O mais importante é definir o tipo de serviços que, do ponto de vista operacional ou financeiro, ficam na cloud. “Por exemplo, ter plataformas de gestão das infraestruturas de comunicações na cloud tem benefícios diretos, nomeadamente o facto de poderem se acedidas em qualquer local e a qualquer momento”. Por outro lado, o facto de, na economia digital, as empresas existirem num contexto de abertura permanente também leva a que seja necessário disponibilizar serviços a terceiros, a um parceiro de negócio ou cliente, “o que é mais difícil de conseguir quando se instala tudo no data center”, sublinhou o responsável da ALE. É, portanto, inegável que a cloud pública não é resposta para tudo, motivo pelo qual o edge computing está a impor-se em determinados contextos. Por questões de latência, setores como a indústria, ilustrou Vasco Afonso (Claranet), “necessitam que o processamento continue a existir on-premises, próximo dos equipamentos”. Nos próximos três anos, afirmou, teremos certamente um mundo híbrido. "E não sei se alguma vez deixará de o ser”.
A cada empresa a “sua” cloudA variável decisiva, e o motivo pelo qual a cloud não tem uma fórmula matemática, é o negócio do cliente, que está a ditar o modo como as empresas investem na cloud e a utilizam para serem mais competitivas. “O negócio como driver da tecnologia é um ponto de absoluta importância”, notou Abel Aguiar (Microsoft). “As primeiras preocupações têm de ser a identificação dos objetivos de negócio e os pontos críticos de diferenciação”. A partir desta definição, que inclui aspetos como a intenção de internacionalização da empresa e o seu ritmo de inovação, por exemplo, é possível delinear um plano de evolução tecnológico. Importa, também, que as organizações conheçam o que têm dentro de casa. “Se desconhecem o ponto de partida, não conseguem comparar o antes e o depois, não conseguem perceber os benefícios”. O diretor executivo de PMEs e Parceiros da Microsoft apontou “o apego do IT” aos seus recursos como um problema. “É por isso que este é um tema de gestão da mudança". A verdade é que não há uma receita simples para os investimentos em cloud. Precisamente pelas especificidades do negócio, referiu Pedro Raminho (IBM), que apontou o que as empresas derradeiramente procuram na cloud: “No fim de contas, esperam ganhar um modelo de governo de IT mais simples e ágil”. Existe ainda outro ponto comum, independentemente do tipo de negócio. “No passado, os gestores tinham um mindset voltado para a propriedade da infraestrutura. Hoje, a perspetiva encaminha-se para a contratação de um serviço”. No momento de determinar o que fazer com a cloud, há um elemento particularmente decisivo. E não é tecnológico. “Sem as pessoas não se faz a transformação. Não há um botão que faça a conversão para a cloud. As empresas têm de decidir se pretendem um centro de competências cloud interno, ou se pretendem externalizar isso em entidades que os podem ajudar com a gestão da infraestrutura”, indicou Vasco Afonso. Quando uma empresa abraça a cloud, tem sobretudo de perceber que está a adotar um novo compromisso. "Significa que tem de estar preparada para a mudança constante, porque os ciclos de renovação e de inovação, na cloud, são cada vez mais reduzidos. Não basta fazer lif & shift, essa parte representa apenas 10% da equação”. Adoção tem de ser acompanhada de mudança culturalA verdade é que nem todas as empresas estão no mesmo patamar de utilização da cloud enquanto ferramenta de transformação digital. “Temos os followers e os inovadores”, sinalizou Vasco Afonso (Claranet). “Os primeiros, com elevada resistência à mudança, olham para a cloud na esperança de baixar custos”. Estas empresas não entendem a cloud como uma ferramenta de transformação e inovação, antes como um substituto do IT on-premises. “Tendem a utilizar a cloud como um data center normal, o que resulta num aumento de custos, efetivamente. Isto acontece porque não estão preparadas para mudar processos, nem procuram investir na formação das suas pessoas. Nestes casos, a cloud não é financeiramente viável, porque as empresas não estão preparadas para a gerir”. Do lado oposto estão as empresas que estão a tirar verdadeiro partido da cloud, os inovadores, que olham para a ‘nuvem’ como oportunidade para criar. “Quem apenas pensa em sobreviver, e não em liderar, vê na cloud um centro de custos. Quem está a inovar vê na cloud um mar de recursos e serviços”. Tomemos como exemplo o Office 365, a suite de produtividade na cloud da Microsoft. A adoção desta solução SaaS é um ponto de entrada para a cloud, já que pouca transformação produz, sobretudo se não for acompanhada de um verdadeiro processo de mudança organizacional. “A tecnologia, sozinha, não cria competitividade”, reforçou Abel Aguiar (Microsoft). “Os processos têm de mudar, para ser possível tirar partido do trabalho em mobilidade, da colaboração, para conhecer melhor o cliente, para melhorar a sua experiência”, enumerou. Subutilização é realidadeJoão Cunha (Tech Data) lembrou que a ‘nuvem’ tem tido o mérito de levar as empresas a repensar o seu negócio, mas que, no caso do SaaS, “há quem não utilize todas as potencialidades dos serviços para ganhar competitividade”. O facto de uma solução cloud ser um bundle ready to use, englobando um conjunto de funcionalidades – governo de dados, segurança, resiliência – “também está a potenciar uma adoção mais célere”, sublinhou Pedro Raminho (IBM). No passado, recordou, uma solução on-premises tinha de contemplar todas estas dimensões de forma adicional. No que diz respeito aos investimentos que a cloud deverá gerar nos próximos tempos, as oportunidades, para os Parceiros, advêm da análise dos dados. João Cunha (Tech Data) realçou que este tipo de ferramentas ainda são pouco utilizadas pelas empresas e que são vitais para compreender o que fazer com toda a informação que está a ser massivamente gerada. “É uma das principais oportunidades para utilizar a cloud como potenciador da competitividade. Já não estamos somente no domínio da redução dos custos, trata-se de tomar as decisões mais corretas”. As PME, em particular, podem beneficiar sobremaneira deste tipo de serviços. “Com a cloud há uma democratização do acesso a aplicações que até agora não estavam acessíveis a empresas mais pequenas, caso do CRM. Até a pequeníssima empresa pode comportar-se como uma grande empresa”. Graças à cloud, qualquer empresa pode beneficiar de recursos de inteligência artificial e machine learning – a IBM, por exemplo, está a incorporar na sua oferta SaaS capacidades do Watson –, o que lhe permite competir com as maiores, de igual para igual. Como resumiu Jorge César (jp.di), a cloud coloca ao alcance das PME “aumento de agilidade, de produtividade e um tempo de resposta reduzido”. Estas empresas estão, de acordo com o distribuidor, a planear cada vez mais investimentos na componente da segurança para a 'nuvem'.
Canal, a chave para o sucesso na cloudGrande parte do nosso tecido empresarial não tem condições para ser bem-sucedido na cloud sem a ajuda das empresas que prestam serviços de IT – Parceiros com know-how são fulcrais para que as empresas decidam o que deve permanecer on-premises e que encontrem na cloud a resposta certa para as suas necessidades. “Para serem competitivas, as PME têm de ter boas soluções e boas parcerias”, sublinhou Jorge César (jp.di). No mercado português, “existem muitos bons Parceiros com a capacidade de ajudar as empresas a alinhar os seus investimentos”, segundo João Cunha (Tech Data). O Canal tem de manter-se atualizado em relação à oferta tecnológica que existe no mercado e, enfatizou, “ser conhecedor do cliente – dos seus processos, desafios e riscos”, para aconselhar as melhores práticas e soluções. A complexidade crescente do IT, onde a cloud tem a sua quota parte, levanta desafios às empresas e aos Parceiros, levando a que se assista, no Canal, a “parcerias improváveis”. “A cloud toca em muitas áreas, é muito difícil que um só Parceiro consiga endereçá-las por inteiro. Tornam-se cada vez mais críticas as parcerias dentro do Canal, uma cooperação entre Parceiros de diferentes áreas, que sejam mais especializados em segurança ou na análise de dados, por exemplo”. As competências,sem surpresas, são o grande desafio: “Se o Canal pretende encontrar soluções que ajudem verdadeiramente os seus clientes, tem de munir-se de parcerias que englobem várias competências. Não podemos esquecer que o objetivo é que o cliente se foque no seu negócio, que contrate quem sabe para pensar a tecnologia e em como pode utilizá-la a seu favor”. Abel Aguiar (Microsoft) falou em sintonia entre o Parceiro e o negócio do cliente para estabelecer a tão vital relação de confiança. “Nas grandes empresas e nas PME, quando existe este alinhamento, a relação mantém-se ao longo do tempo”. A adoção de uma estratégia de especialização foi também apontada por Jorge César (jp.di). “É importante modernizar as vendas, recorrer ao marketing digital. Com a cloud, os Parceiros, têm de diferenciar-se, para se destacarem”. |