Rui Damião em 2022-11-16
Os negócios são digitais e uma empresa pode, virtualmente, vender um produto ou serviço em qualquer altura. A disponibilidade é mais do que necessária para as organizações modernas. Arcserve, Cisco, Furukawa Electric Group, Grenke, Konica Minolta, Schneider Electric e WatchGuard debatem o mercado de business continuity
Depois de um período onde a continuidade das operações das organizações de todo o mundo foi posta à prova, qual é, atualmente, a resiliência das empresas e organizações em Portugal? Ricardo Antunes da Silva, Technical Solutions Architect, Cisco: “Tem existido uma maior consciência dos diferentes fatores que asseguram a continuidade do negócio das empresas. Sabemos que há uns anos as empresas trabalhavam mais na resiliência dos sistemas de informação, onde era preciso suportar falhas de sites e ter a informação distribuída, e a resiliência estava muito associada à disponibilidade dos sistemas”
António Correia, Area Sales Manager, WatchGuard: “Vemos realidades muito diferentes. Por um lado, tivemos exemplos este ano de empresas que supostamente têm um nível de maturidade muito elevada e fazem investimentos grandes em cibersegurança com problemas sérios e dificuldades em recuperar rapidamente. Por outro, quando entramos pelo tecido empresarial que mais caracteriza a nossa realidade, as PME, vemos um bocadinho de tudo e que há um caminho muito grande a percorrer” Ana Carolina Cardoso, Iberia IT Channel Director, Schneider Electric: “Estamos do lado da infraestrutura, muitas vezes a parte não vista que só é lembrada quando há uma paragem, como uma falha de energia. É preciso fazer um trabalho com os Parceiros e os end-users para sensibilizar a utilização de sistemas de gestão de energia ou de backup de energia para infraestruturas de data center. Há uma grande mudança dos clientes para a cloud, para deixarem de ter a sua própria infraestrutura; por conta dos problemas de fornecimento de servidores, as empresas não conseguiram crescer e tiveram de se mover para a cloud” Flávio Marques, Data Center & Premises Connectivity Solutions, Furukawa Electric Group: “Tivemos um desafio muito grande nos últimos anos relacionado com o fornecimento de mais conectividade e aumentar a disponibilidade de resiliência dos ambientes. Tivemos de fazer uma corrida paralela para fornecer disponibilidade na área de conectar o utilizador final e manter a infraestrutura de cloud; na nossa perspetiva, a nuvem é uma porção de pontos globalmente conectados, onde esses pontos são os data centers. Manter isso conectado é um desafio bastante grande” O armazenamento e o backup são um ponto importante para garantir a continuidade do negócio, uma vez que é aí que ficam armazenados os dados e informações da organização. Como evolui este setor no que diz espeito à continuidade do negócio?
Vasco Sousa, Channel Account Manager, Arcserve: “É interessante ver a evolução nesta área. Até há uns anos, os backups eram um mal necessário; era uma tarefa que aborrecida, mas que tínhamos de fazer. Hoje já não é bem assim, felizmente. Os backups são um dos principais alvos dos ciberataques porque são a última linha de defesa e é ali que vamos recorrer na altura de recuperar os nossos dados. Temos os dados primários e os dados de backup; num ciberataque, o objetivo é que os dados de backups fiquem inutilizáveis” Pedro Clímaco, Trade Marketing Specialist, Konica Minolta: “Este é um tema crítico. Nas PME, há cada vez mais a noção de que temas como o armazenamento, o backup e o disaster recovery são fundamentais; é aí que se baseia toda a informação da empresa. A continuidade do negócio está assente nestas premissas e os dados têm de ser salvaguardados. Este tipo de soluções são cada vez mais procuradas e vemos um crescimento exponencial de cloud computing que traz a este tecido empresarial algumas outras garantias, como, em caso de incidente, conseguir recuperar rapidamente os dados” O edge tem vindo a crescer no mercado. Esta é uma forma de garantir a continuidade dos serviços? De que forma é que o edge pode ajudar as organizações a terem o mínimo downtime possível? Flávio Marques, Furukawa Electric Group: “O edge é um caso muito interessante de avaliar. Entrou muito em voga e muitas operadoras estão a investir nisso, a criar data centers edge, e surgiu com uma responsabilidade muito grande; ao edge é atribuído o suporte do 5G, que promete uma latência muito baixa. O data center edge tem uma característica muito interessante porque fica espremido entre a parte de acesso e a parte do core, a parte central da rede” Ricardo Antunes da Silva, Cisco: “Mais ativos, mais superfície de risco e para gerir. Essa é uma das maiores preocupações logo de início quando temos múltiplos sites e vamos desmultiplicar os assets por várias localizações. É preciso garantir uma comunicação segura e resiliente entre os sites para não termos, aí, um foco adicional de incidência. Depois, é preciso ter uma capacidade central para gerir os diferentes sites para permitir, de uma forma ágil, dotá-los dessa capacidade de resiliência”
Ana Carolina Cardoso, Schneider Electric: “Normalmente estamos a falar de ambientes que não foram preparados para receber qualquer tipo de infraestrutura de IT, não tem pessoas capacitadas para fazer gestão e estamos a falar de sites que estão distribuídos. Sem dúvida nenhuma adiciona uma complexidade, mas também um valor importante; do ponto de vista de resiliência, ter um site conectado e próximo de onde o dado está a ser gerado, ele é necessário, já não é uma opção” Bruno Crasto, Branch Leader Oeiras, Grenke: “As empresas têm uma dificuldade nestes planos e na estruturação dos seus sistemas informáticos e essa dificuldade está muitas vezes relacionada com recursos. Esses recursos são humanos – até pela escassez que existe –, mas também recursos financeiros. Muitas vezes, as empresas querem fazer esses investimentos, mas esbarram com aquilo que é a sua capacidade para realizar porque têm de manter a sua empresa operacional e, por vezes, estes investimentos não são a parte operacional da empresa, mas são, obviamente, uma parte necessária” Um ataque bem-sucedido tem o poder de parar por completo uma organização. Os ciberataques do início deste ano trouxeram o tema da cibersegurança para as organizações. As pequenas e médias empresas já investem verdadeiramente no tema e estão preparadas para recuperar com relativa rapidez no caso de um ciberataque? Onde é que ainda têm lacunas?
António Correia, WatchGuard: “Um ciberataque bem-sucedido pode ter consequências devastadoras para as empresas; quanto menos preparada a empresa estiver, mais complicado será recuperar. Vemos uma tendência positiva por parte de quem toma decisões, há uma maior consciencialização de que é necessário fazer estes investimentos. Mas também devemos tentar evitar a tendência de mandar tecnologia para cima do problema; tudo se deve basear – onde os Parceiros têm um papel fundamental – numa política de segurança de raiz e de acordo com o nível de maturidade do cliente” Vasco Sousa, Arcserve: “Quando se fala de cibersegurança, fala-se quase exclusivamente da parte preventiva, na perspetiva de evitar que os atacantes entrem cá dentro. Quanto mais camadas tivermos, mais difícil vai ser para sofrermos um ataque. Os atacantes estão todos os dias a tentar atacar; algum dia vão conseguir. Falamos muito de prevenção – e bem –, mas tem-se pensado menos na recuperação. Essa é uma lacuna que existe” Numa época de energia escassa e cara, a sustentabilidade já é hoje prioridade de topo em muitos clientes. Sistemas que garantem a continuidade de operações são sistemas 24/7 com o seu próprio impacto energético associado. Quais os progressos da indústria nesta área tão importante da eficiência energética?
Ana Carolina Cardoso, Schneider Electric: “Os data centers são um dos principais consumidores de energia em todo o mundo. Porém, o edge tende a ultrapassar o consumo de energia dos data centers porque são muitos sites distribuídos; se não tomarmos cuidado com o que está a ser consumido no edge, vamos ter um problema realmente sério. A redução de energia é um ponto que vem a ser discutido em todas as empresas, estando a colocar a sustentabilidade dentro da sua discussão. Algumas indústrias estão mais sensíveis do que outras” Bruno Crasto, Grenke: “Cada vez mais, começamos a ter em conta aquilo que são as preocupações dos nossos clientes e Parceiros e temos políticas que nos permitem diferenciar as empresas por aquilo que é a sua preocupação social, tecnológica e de termos uma energia limpa. A realidade é que não será estranho conseguirmos ter menos juros se conseguirem produzir ou recorrerem a energia mais limpas. Será um passo a ser tomado, de certeza, na próxima década” Crescentemente as próprias infraestruturas são definidas por software. Como se recupera de uma falha ao nível da infraestrutura e que tecnologias novas existem para dar resposta? Pedro Clímaco, Konica Minolta: “A melhor resposta é a prevenção. Sejam PME ou grandes empresas, cada vez mais a procura por managed services é mais relevante e uma realidade que traz outra segurança e capacidade para assegurar a continuidade do seu negócio. O que é um ponto chave é a procura por empresas e Parceiros de negócio especializados. Hoje existe uma imensidão de fornecedores, mas muito poucos são efetivamente especializados. Esta capacidade de resposta é uma necessidade para todas as empresas” Ricardo Antunes da Silva, Cisco: “O software é crítico para ajudar na continuidade das aplicações. Existia um princípio muito alicerçado na virtualização e no software como apoio à continuidade das VM. As redes são cada vez mais simplificadas para que obriguem a menos alterações. Mas o que vemos mais hoje é a própria transformação da configuração das aplicações, muito alicerçada em micro serviços e onde a resiliência é nativa” Qual é que deve ser a estratégia – em termos gerais – para uma PME que ainda não tenha um plano de continuidade de negócio implementado? Vasco Sousa, Arcserve: “Tudo começa pelas necessidades do negócio. A estratégia deve ser definida a priori, quanto tempo é que o meu negócio tolera estar parado, sem ter acesso a sistemas, e quantos dados é que estou disposto a perder. O recovery time objective tem de definir o tempo que se leva a recuperar os dados perdidos e detetar que os dados foram perdidos e quanto tempo atrás vou ter de voltar para recuperar. Isto é o primeiro passo, definir isto de forma teórica” Bruno Crasto, Grenke: “A maioria das empresas começa agora a consciencializar-se para este tema até porque este não é um tema que surja no dia-a-dia de empresas fora da área tecnológica porque não é essa a sua principal preocupação. De facto, tem existido um maior awareness à medida que são divulgados alguns ataques e falhas de cibersegurança de grandes empresas e as pessoas começam a pensar ‘e se acontece com a minha empresa, como é que vou reagir, quais são os custos que tenho, consigo sequer recuperar?’”
Pedro Clímaco, Konica Minolta: “No caso das PME, é fundamental esta garantia e o selo de proximidade. É aí que os Parceiros conseguem acrescentar valor a esta tipologia de clientes, é através da sua proximidade e é neste tipo de projetos que os Parceiros podem e devem acrescentar valor aos clientes. Muitos deles não têm este nível de maturidade, de priorização de investimento em soluções de segurança, de armazenamento e recuperação de dados. É aqui que entra o papel da rede de Parceiros” Flávio Marques, Furukawa Electric Group: “O plano de continuidade deve ser integrado em todos os níveis. Costuma-se dizer que a infraestrutura ótica é à prova do futuro e a própria tecnologia tem níveis de criptografia que vão até à camada física, do protocolo, o que estabelece um padrão de segurança e de continuidade de aumentar os negócios na camada física. Algumas empresas mantêm data centers pequenos para ter parte dos seus dados próximos da sua utilização” António Correia, WatchGuard: “A nossa abordagem é na prevenção, assumindo que existem outras áreas igualmente necessárias e importantes. O que consideramos é que tudo se deve basear numa política de base sobre aquilo que a empresa quer fazer e associar-se a um Parceiro para que seja capaz de entregar e ter uma visão 360º sobre a realidade da empresa e que, das diversas áreas, consiga ajudar” Qual é a mensagem para os Parceiros? Ana Carolina Cardoso, Schneider Electric: “A oportunidade existe e há um futuro de crescimento para Portugal nos próximos anos. Resiliência, sustentabilidade e eficiência energética estão na discussão e não esqueçam a parte da infraestrutura”
António Correia, WatchGuard: “Estamos, neste momento, num contexto favorável. É um bocadinho perverso, mas o facto de se falar cada vez mais de cibersegurança e de existir mais informação sobre ciberataques a empresas de elevada maturidade traz uma maior consciencialização de quem toma decisões para uma necessidade para estes temas. Os Parceiros têm uma oportunidade de ouro para apoiar os seus clientes” Bruno Crasto, Grenke: “Podem contar connosco para ser um apoio naquilo que é a implementação e a capacidade de tornar mais robustas as soluções dos próprios Parceiros de Canal, juntar uma solução financeira para, num momento de venda, ajudar a desbloquear as necessidades de investimento dos clientes” Flávio Marques, Furukawa Electric Group: “Não se discute continuidade de negócio para as empresas que se querem manter no mercado; não é uma questão de se manter à frente, mas sim de não ficar atrás. A tecnologia está aí, mas como vai ser aplicada a cada cliente e situação é a diferença que o serviço faz” Pedro Clímaco, Konica Minolta: “Temos um conjunto de soluções alargada no setor de IT que dão resposta a muitas das necessidades que falámos aqui. Podemos beneficiar em conjunto daquilo que é a relação e a proximidade e, acima de tudo, acrescentar valor ao cliente com uma abordagem consultiva assente em soluções distintas” Ricardo Antunes da Silva, Cisco: “A oportunidade está aí, existe interesse e fundos que podem ser aplicados – tanto no privado como no público. O facto de uma empresa ter capacidade de resiliência, de continuidade, de segurança de informação e de ter, também, princípios de sustentabilidade vão ser críticos para puder fazer o seu negócio. Isso é um drive para a transformação” Vasco Sousa, Arcserve: “Temos um portfólio muito vasto que vai desde a microempresa até ao segmento enterprise. De qualquer maneira, temos uma política 100% apoiada em Parceiros. O essencial – e é consensual – é que existem oportunidades e não há nenhum gestor de topo que não esteja sensibilizado para o risco e para a necessidade de se preparar” |