Marta Quaresma Ferreira em 2023-11-14

A FUNDO

Mesa-Redonda

Business Continuity: Quando nada pode fazer parar os negócios

Garantir a continuidade dos negócios perante possíveis disrupções implica, ao mesmo tempo, proteger ativos das empresas, minimizar o impacto financeiro e manter os clientes satisfeitos. Arcserve, Cisco, D-Link, Furukawa, IP Telecom e Schneider Electric partilham as suas perspetivas sobre os planos de business continuity das empresas e o papel dos Parceiros de Canal nestas estratégias

Business Continuity: Quando nada pode fazer parar os negócios

A continuidade de negócio implica que as empresas tenham awareness sobre a necessidade de ter um plano de IT e depois aplicá-lo, com a ajuda dos Parceiros. A generalidade das empresas em Portugal tem esta consciência da necessidade de garantir a continuidade dos negócios em IT?

 

Rui Antunes, Cybersecurity Sales Specialist, Cisco

Rui Antunes, Cybersecurity Sales Specialist, Cisco: “Penso que existe uma compreensão do que é um plano de continuidade de negócios e dos seus objetivos, mas é algo que é abordado de uma forma tipicamente pouco estruturada. À exceção das organizações altamente regulamentadas como acontece, por exemplo, no setor financeiro, no setor energético, a maior parte das organizações não tem efetivamente um plano de continuidade de negócios definido ou, pelo menos, completo”

Vasco Sousa, Channel Account Manager, Arcserve: “[As empresas] compreendem a importância dos dados, compreendem que esses dados têm de estar seguros, compreendem que os dados podem ser comprometidos e que têm de ter uma estratégia para recuperar os dados, não é? Portanto, têm de ter os dados redundantes, não basta terem uma ideia de seis em seis meses, levar um disco externo para casa e fazer uma cópia. Percebem que têm de ter ali algumas rotinas que são regulares, ter backups locais e atualmente eu já diria que terem os backups também numa segunda localização”

Filipe Frasquilho, Diretor de Negócio Datacenter & Cloud, IP Telecom: “Ainda há muitas PME em Portugal, com dimensão pequena muitas delas, mas algumas nem tão pequenas quanto isso, que acham que ‘ah, eu comecei, eu coloquei alguns sistemas em cloud, já tenho o meu plano de continuidade de negócios ou o meu DR feito’. Isto, infelizmente, acontece. E, portanto, eu estou convencido de que, com a necessidade de compliance e, principalmente, com a necessidade da cadeia de abastecimento, cadeia de valor, que se vai repercutir das entidades grandes para as entidades pequenas, que isto venha a mudar”

Magnum Garzillo Joaquim, IT Partners Account Manager Iberia, Schneider Electric: “Eu acredito que as empresas portuguesas têm consciência, sabem da necessidade de trabalhar em cima do business continuity, mas não há um plano de negócio estruturado para isso. Ainda não há um plano de negócio. Mas o lado bom é que as empresas estão a fazer isto, eu digo Portugal e Espanha, as empresas estão a fazer isto indiretamente”

O armazenamento e o backup são um ponto importante para garantir a continuidade do negócio, uma vez que é aí que ficam armazenados os dados e informações da organização. Quais são as novidades deste setor no que diz respeito à continuidade do negócio?

Vasco Sousa, Channel Account Manager, Arcserve

 

Vasco Sousa, Arcserve: “O benefício é assegurarmos que, mesmo numa situação de ataque, eu vou conseguir recuperar os meus backups, porque eles não foram nem encriptados, nem apagados, que são, normalmente, as duas estratégias que são utilizadas. Portanto, isto é possível fazer com appliances dentro do data center, é possível fazer o uso de soluções na cloud, com object log, e é também possível fazer com as antigas tapes”

Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Eu diria que o backup é o primeiro passo que as empresas deverão considerar para ter, pelo menos, a sua proteção de dados e conseguir, pelo menos, não perder os dados, e, a partir daí, fazer alguma recuperação. Agora, o backup é muito mais do que isso. O backup permite a recuperação de coisas que são apagadas”

O edge tem vindo a crescer no mercado. Esta é uma forma de garantir a continuidade dos serviços? De que forma é que o edge pode ajudar as organizações a terem o mínimo downtime possível e, por outro lado, como garantir a continuidade a todos esses pontos de processamento descentralizado, parte dos quais de suporte ao 5G?

 

Hernani Szymanski, Outside Plant Solutions Manager, Furukawa

Hernani Szymanski, Outside Plant Solutions Manager, Furukawa: “Portugal tem 91% de cobertura de fibra ótica no país, e 71% de fibra a chegar até cada cliente. Isso é uma rede, é uma quantidade de dados enormes a circular e que precisa cada vez mais de baixa latência, alta confiabilidade, e isso depende muito dos centros de dados distribuídos até à borda, mais perto, para poderem processar em alta velocidade com grande confiabilidade. Então sim, o edge é uma parte da solução para garantir confiabilidade e continuidade do negócio”

Magnum Garzillo Joaquim, Schneider Electric: “Como nós vamos ter uma infraestrutura distribuída, a parte de monitorização remota é muito importante; backup e recuperação dos dados também é outro ponto que nós temos de ter muito em consideração; segurança cibernética; e, por último, uma capacidade de planeamento - avaliar cuidadosamente onde vamos colocar estes dados para serem processados. Ao mesmo tempo que o edge nos traz benefícios, nós temos de ter aqui alguns critérios a serem avaliados antes da implementação”

Anselmo Trejo, Marketing & Communications Manager Iberia, D-Link: “Temos falado muito de edge, de cloud e backups, tudo isto suportado numa infraestrutura de rede conectada ao armazenamento e aos dados, através de uma camada de switching, uma camada de wireless. Muitas vezes, quando as empresas têm problemas nas falhas de infraestruturas de rede é porque falha o switch, é porque falha um ponto de acesso, e isso traduz-se numa interrupção de negócio”

Um ataque bem-sucedido tem o poder de parar por completo uma organização. A NIS 2 vem alargar exponencialmente o número de empresas que estão abrangidas por procedimentos exigentes de ciber-resiliência e recuperação e muitas destas são PME. Qual é o grau de preparação médio para recuperar com relativa rapidez no caso de um ciberataque? Onde é que ainda têm lacunas?

Rui Antunes, Cisco: “Muitas organizações já investiram significativamente em soluções de segurança em vários domínios, firewalls, endpoint protection, proteção de DNS, multi-factor authentication, etc. Mas ainda há muito trabalho para fazer. Desde logo para as organizações que adotaram a cloud pública. É que, quanto ao nível das funções on-premises, já existe muitas vezes a consciência de que qualquer projeto tem de incluir de raiz controlo de segurança; na cloud pública não é bem assim”

Vasco Sousa, Arcserve: “Estamos sempre a falar em formação, ter as pessoas preparadas, dotadas das capacidades. Nada melhor do que fazer testes e percebermos onde é que não estamos a fazer bem as coisas, numa situação sem stress, e evitamos erros depois numa situação em que eu tenha de recuperar dados, porque todos vamos ter de recuperar dados. Não há volta a dar, mais cedo ou mais tarde vamos ter de fazer isso numa situação real”

Numa época de energia escassa e cara, a sustentabilidade ambiental e financeira é, hoje, um tema visível para as administrações. Sistemas que garantem a continuidade de operações são sistemas 24/7 com o seu próprio impacto energético associado. Quais os progressos da indústria nesta área tão importante da eficiência energética?

Magnum Garzillo Joaquim, IT Partners Account Manager Iberia, Schneider Electric

 

Magnum Garzillo Joaquim, Schneider Electric: “Hoje nós podemos ver, por exemplo, que em clientes finais e no segmento público, nalguns cadernos de encargos já saem algumas diretrizes ou algumas decisões que vão ser tomadas em cima do quão sustentável, do quão eficiente é aquela solução. Podemos ver já um mercado muito mais preocupado com a sustentabilidade do que nós vimos há alguns anos”

Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Temos tentado fazer um conjunto de tarefas que levam a que os nossos data centers sejam mais eficientes, começando logo pelo fornecedor de energia garantir que a energia é verde. São garantias, mas tentamos ir por aí. Internamente, utilizamos soluções baseadas em IoT e com aplicação de componentes de inteligência artificial para melhorar os data centers. Temos feito isso numa ótica de sustentabilidade energética, e é aquilo que faz sentido, mas temos o outro lado que é os clientes”

Crescentemente, as próprias infraestruturas são definidas por software. Como se recupera de uma falha ao nível da infraestrutura e que tecnologias novas existem para dar resposta?

 

Anselmo Trejo, Marketing & Communications Manager Iberia, D-Link

Anselmo Trejo, D-Link: “Topologia de rede redundante onde, quando falha um switch, outro entra imediatamente. Nunca se perde a conetividade à Internet, a rede não cai e não se perde a conexão. Prefiro topologias em vez de malhas; numa fábrica, os robôs nunca se podem desconectar e devem ter uma topologia de rede que, se cai o switch, em milissegundos entra outro para que os robôs continuem a trabalhar”

Rui Antunes, Cisco: “As clouds públicas são o exemplo do paradigma do software defined, como infraestrutura baseada em programabilidade, que abstrai a complexidade da infraestrutura, mas esse paradigma também foi adotado nas infraestruturas privadas, as chamadas private clouds. E o que é que isso trouxe de importante no que diz respeito à continuidade de negócio? É que essa tecnologia permite criar com maior facilidade arquiteturas resilientes e, ao mesmo tempo, rentabilizar recursos”

Hernani Szymanski, Furukawa: “Neste mundo tão conectado e que necessita da conexão como prioridade básica, como necessidade básica para o seu funcionamento, é importantíssimo manter a redundância, avançar para um tema de opticalização e uma gestão mais inteligente da rede. São redes inteligentes que precisam de ser geridas de forma inteligente também”

Vamos falar de uma forma um pouco mais holística: como é que os fabricantes e os Parceiros podem ajudar uma empresa a implementar um plano de continuidade de negócios no caso de uma PME, que não está obrigada à compliance das grandes empresas em setores críticos, mas que tem uma obrigação de se manter sempre em funcionamento?

Filipe Frasquilho, Diretor de Negócio Datacenter & Cloud, IP Telecom

 

Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Nós, Parceiros e fabricantes, temos de fazer um awareness com um conjunto de clientes para explicar as vantagens de ter um plano de continuidade de negócio, para além da quase obrigatoriedade que as empresas deviam ter de acordo com as suas necessidades. As empresas têm de perceber o risco e nesse plano de risco a componente do IT e a componente de cibersegurança tem de estar presente e tem de ser bem identificada e depois tem de ser mapeada com os processos do negócio e fazer o impacto que essas situações podem ter”

Hernani Szymanski, Furukawa: “Eu acredito que cada Parceiro, cada marca, precisa de trabalhar de uma forma integrada. São soluções que se complementam e nós temos tido muito êxito ao ajudar neste processo, seja em grandes empresas ou nas PME, trabalhando em pré-projetos, porque esta questão de tendência tecnológica e principalmente a responsabilidade das redes, não só no presente, mas pensando naquilo que vem no futuro, muda muito rapidamente”

Quais são as suas oportunidades e os desafios do Parceiros neste mercado? Como devem endereçar aos clientes finais a necessidade deste investimento?

Anselmo Trejo, D-Link: “Os Parceiros devem, sobretudo, ter uma formação muito boa para as novas tecnologias, para business continuity, para redundância, para backup, porque são eles que devem informar o cliente final, a empresa final. Por isso, insistimos tanto na formação, na formação especializada dos nossos Parceiros, para que depois sejam capazes de desenvolver um projeto adequado em business continuity, em redundância, em assegurar a rede para os seus clientes”

Filipe Frasquilho, IP Telecom: “O cliente tem de nos ver também como Parceiro e não como puro fornecedor. E estas componentes da continuidade do negócio, muitas vezes, temos de ser nós e os Parceiros a dizer aos clientes que temos de fazer os testes. Os testes obrigam, como é óbvio, a custos do lado do cliente, a disponibilidade de pessoas do lado do cliente. Mas, sem fazer esses testes, não é possível verificar se as coisas estão bem implementadas e depois melhorá-las”

Hernani Szymanski, Furukawa: “Nós precisamos de ter infraestrutura, redes e tecnologias preparadas para o futuro. E a mudança é cada vez mais exponencial, em termos de procura por segurança, de estabilidade e de volume de informações. A recomendação seria justamente para que as pessoas e as empresas, principalmente as PME, possam capilarizar o uso da tecnologia e estejam atentas a tendências”

Magnum Garzillo Joaquim, Schneider Electric: “Já não estamos a falar mais de soluções standard ou de caixas, já não são mais vendas de prateleira, aqui nós já precisamos de uma abordagem muito mais estratégica no cliente do que, propriamente, falar de produto. Quando falamos de resiliência, de cibersegurança, tudo isso envolve uma engenharia, envolve uma especialização, e os nossos Parceiros devem estar cientes disso. São oportunidades, porque os Parceiros estão preparados para isso”

Rui Antunes, Cisco: “Os Parceiros são importantes. Primeiro, porque têm o conhecimento das tecnologias que permitem suportar a continuidade do negócio; mas também é fundamental que os Parceiros sejam conhecedores do negócio do cliente. Eu diria que é importante voltar a trazer o conceito de Parceria e não a simples relação de fornecedor-cliente, que, por vezes, domina o mercado. Quando estão em causa fatores críticos para o negócio, é importante uma abordagem de proximidade, é fundamental estabelecer uma relação de confiança”

Vasco Sousa, Arcserve: “Se eu puder ter uma solução chave na mão, em que um fabricante me oferece essa possibilidade de ter backups locais, backups na cloud, eu consigo mais rapidamente ter um serviço para chegar ao mercado, portanto, não tenho de estar eu a construir a minha oferta, criar um espaço em data center, integrar tudo isso. Com tudo isto, o que é que eu tenho? Um desafio. E aqui é aquela parte um bocadinho escondida do iceberg que é eu conseguir internamente, eu Parceiro, ter processos que sejam simples e que sejam escaláveis”

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