Rui Damião em 2022-2-17
O computador ainda é uma ferramenta útil e necessária para os colaboradores. Nem o tablet nem os smartphones substituíram os PC, como era previsto há alguns anos, e o computador vive uma nova vida, com o mercado a atingir o melhor ano desde 2012
O PC ainda não perdeu a sua importância. Ao contrário do que tinha sido previsto quando os tablets começaram a ser vendidos, e numa altura em que o smartphone já começava a ter sucesso comercial, os computadores continuam a ser uma parte importante da experiência de utilização de vários serviços. Nas empresas, pelo menos, o computador é a principal maneira de comunicar com o mundo. É raro encontrar um colaborador que não utilize um PC para realizar – direta ou indiretamente – as suas tarefas. Mercado (continua) a crescerO mercado de PC continua a crescer. O quarto trimestre de 2021, sozinho, ultrapassou as 90 milhões de unidades vendidas pelo segundo ano consecutivo. Para a totalidade do ano, 2021 atingiu as 341 milhões de unidades vendidas, 15% a mais do que em 2020, 27% acima de 2019 e, de acordo com a Canalys, o maior total de vendas desde 2012. Todos estes dados mostram que o PC está bem e de boa saúde. A Lenovo, a HP e a Dell continuam a figurar no pódio das fabricantes que mais vendem em todo o mundo, com quotas de mercado de 24,1%, 21,7% e 17,4%, respetivamente. Apple (8,5%) e Acer (7,1%) preenchem o resto do top 5 dos principais fabricantes de computadores, segundo a Canalys. A verdade é que, de acordo com Rushabh Doshi, analista principal da Canalys, a aquisição de computadores não vai necessariamente descer em 2022, apesar dos últimos dois anos especialmente positivos. “A procura por tecnologia cresceu nos últimos dois anos, cujos efeitos continuam a atrapalhar a cadeia de fornecimento, afetando não apenas a disponibilidade de PC, mas também de smartphones, de automóveis e de servidores. À medida que os fornecedores de PC enfrentam uma situação cada vez mais complicada, os padrões de gastos dos consumidores estão a mudar. Veremos o crescimento da receita no setor com gastos em PC, monitores, acessórios e outros produtos de tecnologia premium que nos permitem trabalhar de qualquer lugar, colaborar em todo o mundo e permanecer ultraprodutivos. A importância de PC mais rápidos, melhores, mais resilientes e mais seguros nunca foi tão grande, e a indústria está disposta a inovar e ultrapassar os limites para manter esse impulso”, explica o analista, acrescentando que se 2021 foi “o ano da transformação digital”, então 2022 vai ser “o ano da aceleração digital”. Mercado atualPara Carlos Cunha, Diretor Comercial da Dynabook Portugal, o mercado de PC empresarial teve, em 2021, “um novo fôlego devido ao motor de mudança de transformação digital que as empresas se encontram a efetuar”. Neste sentido, é possível assistir ao “setor a apresentar soluções empresariais focadas na segurança, na total disponibilidade de dados e mobilidade dos recursos. Juntamente com o mercado de PC empresarial clássico, vemos o ascender do mercado de acessórios e soluções de Realidade Assistida que vêm permitir ainda uma maior mobilidade dos utilizadores”. Jaume Pausas, Marketing Manager Acer Ibéria, refere, por sua vez, que a “hibridização do posto de trabalho e do ambiente educativo” levaram a que o mercado de PC em geral, e do mercado profissional em particular, tivesse o crescimento que teve nos últimos dois anos. Para 2022, a Acer espera “um crescimento mais moderado, mas também muitas oportunidades para atualizar os equipamentos com a solução mais adequada”, até porque, “no início da pandemia, a compra de dispositivos foi feita de forma urgente e ‘só para umas semanas’ e, agora, vemos que os ambientes híbridos chegaram para ficar e que as necessidades para este cenário permanente são diferentes das iniciais”. Pedro Coelho, Area Category Manager na HP, indica que, em 2021, as organizações consolidaram novas formas de trabalhar e onde os modelos de trabalho híbridos se impuseram no mercado de trabalho. “Se trabalhamos de forma diferente, procuramos PC que sejam capazes de se adaptar aos novos contextos e locais de trabalho”, explica. “Ao longo de 2021, observámos em Portugal uma forte procura pelo PC empresarial, que deverá rondar os dois dígitos de crescimento face a 2020”, afirma Pedro Coelho, que já exclui do número “o elevado volume registado para o segmento da educação”. Esta procura, continua, “comprova a necessidade de renovar o posto de trabalho para responder às crescentes exigências de produtividade, mobilidade, colaboração e segurança. Ao mesmo tempo, com o diluir da fronteira entre os horários de trabalho e os momentos de lazer e entretenimento, as pessoas procuram um PC que as acompanhe ao longo do dia e com capacidade para executar tarefas profissionais e pessoais”. João Moura, Surface Business Group Lead da Microsoft Portugal, indica que “o mercado de PC Empresarial tem dado sinais de não abrandar, reforçando a visão de que o contexto atual é cada vez mais alicerçado em cenários de trabalho híbrido. Estes cenários acentuam a necessidade de providenciar ferramentas que permitam aos colaboradores de empresas e entidades governamentais trabalhar em mobilidade e, ao mesmo tempo, de forma segura”. Com base nos dados da Canalys mencionados anteriormente, João Moura acrescenta que “este cenário demonstra bem que, apesar das dificuldades sentidas ao longo das cadeias de abastecimento, com dependências do mercado de semicondutores, não tem sido fator impeditivo” e que se continua “a registar uma forte procura no mercado”. O que é mais procuradoEm 2021, os dispositivos portáteis foram – claramente – o tipo de equipamento mais procurado; Carlos Cunha, Jaume Pausas, João Moura e Pedro Coelho indicam o mesmo sobre o que é que as organizações mais procuraram num computador para os seus colaboradores durante o último ano. Pedro Coelho diz que esta procura tem por base a vontade de “garantir a continuidade de negócio e a produtividade dos colaboradores em regime de teletrabalho ou em alternância entre o escritório e casa”. Neste sentido, foi dada uma preferência a “dispositivos que tivessem a capacidade de proporcionar boas experiências de colaboração, o que implicou uma maior exigência sobre as tecnologias de áudio, vídeo e câmara integradas nos equipamentos pessoais. Acentuou-se ainda a preocupação com as soluções de segurança implementadas ao nível do computador pessoal, percebido como a primeira linha de defesa contra ataques maliciosos e tentativa de roubo de dados pessoais e de negócio. Com um maior número de colaboradores a trabalhar remotamente e perante os desafios de gerir parques informáticos mais distribuídos, os departamentos de IT reforçaram a proteção dos endpoints”. João Moura afirma que a implementação de modelos de trabalho híbrido tem levado a uma maior valorização do posto de trabalho, que é cada vez mais móvel. “Sente-se uma preocupação crescente das organizações em providenciar dispositivos mais leves, com características que promovam uma maior interação, produtividade e colaboração entre equipas, como é o caso dos ecrãs táteis, tinta digital, câmaras e microfones de elevada qualidade ou ecrãs com resoluções superiores. Há, também, a necessidade de garantir que as pessoas têm acesso aos recursos da organização de forma segura e que o seu endpoint está devidamente protegido.”, acrescenta o representante da Microsoft. Jaume Pausas reforça que o “trabalho ‘fixo no escritório’” passou à história em 2021 e, assim, as organizações perceberam que é necessário equipar os colaboradores “para que pudessem trabalhar com comodidade e produtividade nos diferentes ambientes de trabalho”. Assim, “os equipamentos portáteis e os periféricos que permitem equiparar as condições de trabalho em casa às do escritório, como os monitores, tiveram grande procura”. Para Carlos Cunha, uma das diferenças de 2021 para 2020 foi o facto de os líderes das empresas já estarem mentalizados para a realidade que os esperava. Assim, a segurança, a mobilidade e as funcionalidades de colaboração estiveram entre as características mais valorizadas pelos gestores de IT num computador. De acordo com um estudo da Dynabook, os responsáveis de IT indicaram que a segurança (81%) do dispositivo era a componente mais importante, seguida da conectividade (80%) e do desempenho (76%). O caminho futuroDepois do crescimento da procura por PC, importa perceber para onde vai caminhar o mercado e como é que os fabricantes o vão abordar. Carlos Cunha acredita que “o perfil de computador empresarial seja cada vez mais valorizado entre as organizações. A cibersegurança não está para brincadeiras e hoje é preciso contar com dispositivos que se adequem às exigências profissionais. A decisão de compra de um computador é, hoje, muito mais pensada do que antes da pandemia”. Para além da urgência de “cobrir todas as necessidades que surgiram nesta nova realidade – mais complexa – de forma simples e flexível”, Jaume Pausas afirma que algo “muito importante é a questão da sustentabilidade. As empresas, e neste caso também a Acer, querem ser Parceiras de fornecedores comprometidos com o respeito pelo meio ambiente e a luta para mitigar as alterações climáticas”. Para João Moura, é possível ver uma tendência crescente “para dispositivos cada vez mais leves, com particular incidência em form factors que permitam ao utilizador ser produtivo a partir de qualquer local, nomeadamente notebooks e dois-em-um” e também o “segmento premium tem vindo a ganhar espaço pela necessidade de providenciar soluções robustas e que ao mesmo tempo valorizam o colaborador”. Pedro Coelho esclarece que, “em 2022, o PC não será somente avaliado pelo seu peso, pelo seu processador, pela autonomia da bateria, entre outras características técnicas mais tradicionais. O PC será também julgado pelas experiências de colaboração que proporciona – com características de áudio e vídeo como as câmaras 4K, a eliminação do ruído ambiente, ou até a projeção dinâmica da voz do utilizador que compense o facto de estar a usar máscara, entre outras funcionalidades –, pela segurança intrínseca que incorpora e, com uma importância crescente, pelo seu comportamento energético e pelo impacto que tem sobre a sustentabilidade ambiental”. Ao mesmo tempo, acrescenta o representante da HP, “continuará a exigir- se que o PC incorpore, de forma nativa, tecnologias que assegurem a proteção dos dados corporativos e credenciais dos utilizadores, e que comuniquem com ferramentas centralizadas que permitem a monitorização em tempo real de eventuais ameaças de segurança”. Papel do CanalComo noutros mercados, os Parceiros de Canal têm oportunidades que podem endereçar no mercado de computadores junto dos seus clientes finais. João Moura, da Microsoft, refere que “oportunidade para os Parceiros é clara e mais abrangente do que o PC em si”, permitindo que se crie “soluções completas em cima do posto de trabalho”. “Não só se verifica a necessidade de renovação do parque informático de muitos organismos, como também assistimos a uma crescente preocupação com a gestão do próprio parque, cada vez mais descentralizado. É esta a grande oportunidade para os Parceiros de Canal – a complementaridade dos serviços de gestão, em conjunto com a venda ou disponibilização de dispositivos em modelo Device-as-a-Service. Significa isto que o negócio no Canal terá, forçosamente, de se focar na entrega de valor acrescentado, afastando-se de cenários mais transacionais e investindo na aquisição de competências complementares à da indústria dos dispositivos enquanto negócio individual”, explica. Com a alteração do posto de trabalho, com organizações a já não considerar o escritório como o local de trabalho por defeito, Pedro Coelho partilha que “as organizações vão precisar de Parceiros com conhecimento e soluções para redefinir o workplace e mesmo redesenhar os escritórios com a proliferação de mais salas de reunião dedicadas à colaboração presencial e remota”. Neste sentido, explica o representante da HP, “haverá oportunidade de negócio a explorar na renovação do parque informático para equipamentos mais móveis, seguros e com melhor suporte para colaboração; no desenho de espaços colaborativos que as organizações suportarão nas casas dos seus colaboradores; e no planeamento e implementação de serviços de segurança que complementem a ação dos departamentos IT”. Carlos Cunha refere que os Parceiro de Canal “têm aqui uma oportunidade de ouro para criar ofertas personalizadas de parques informáticos novos e adaptados às reais necessidades de mobilidade e segurança das empresas”. Device-as-a-ServiceA contratação de produtos como um serviço tem crescido um pouco em todos os setores do IT e o mercado de PC também tem assistido a esta realidade. João Moura explica que o Device-as-a-Service, ou DaaS, é, “cada vez mais, uma solução que gera interesse por parte das organizações nacionais, com particular incidência naquelas que privilegiam o modelo assente em custos operacionais versus custo de capital. A tendência será de crescimento, face à flexibilidade que este tipo de serviço oferece – a possibilidade de adaptar eficientemente o parque informático às necessidades da organização seja em situação de crescimento ou o contrário”. Jaume Pausas indica que “a contratação como serviço tem grandes vantagens e muitos setores de compra transacional têm visto como esta opção tem crescido significativamente. Isto também sucede no mercado de PC”. Pedro Coelho acredita que “o DaaS tem crescido nas preferências das organizações por ser um modelo que permite garantir um suporte adequado, ainda mais em contextos de teletrabalho, sobre um parque homogéneo de PC que permite um uso profissional e também pessoal dos equipamentos, alinhado com as políticas corporativas e processos de segurança. Sendo um modelo de subscrição, oferece escalabilidade para acomodar picos de negócio e vem frequentemente associado a ferramentas analíticas que possibilitam acompanhar o ciclo de vida dos equipamentos”. Oferta de DaaS em PortugalNo caso da Acer, Jaume Pausas reforça que a empresa “oferece para o mercado português o programa DaaS, Device-as-a-Service, onde o cliente pode selecionar os dispositivos, software e serviços de que necessita e integrá-los numa só renda mensal. Máxima facilidade e também flexibilidade”. Já a HP “dispõe de uma oferta vasta de DaaS em Portugal, que começa nos equipamentos, dimensionados de acordo com as necessidades dos diferentes perfis de utilizadores e escala para vários serviços de assistência técnica, monitorização e gestão remota que acompanham todo o ciclo de vida dos equipamentos”. Pedro Coelho acrescenta, ainda, que, “com o crescimento do teletrabalho e a dispersão geográfica dos parques informáticos, as organizações precisam de mais apoio na gestão dos equipamentos pessoais, libertando recursos para tarefas mais críticas e próximas do seu negócio. Assim, perspetiva-se um crescimento da procura de soluções DaaS, onde os Parceiros podem integrar a venda de hardware e um vasto conjunto de serviços desde a instalação dos equipamentos, à configuração e manutenção recorrendo a ferramentas analíticas que sugerem assistências preventivas ou antecipam necessidades de upgrades e terminando na reciclagem de equipamentos em final de ciclo de vida”. Por último, a Microsoft aborda o cenário de DaaS “em conjunto com a sua rede de Parceiros, através da qual tem vindo a reforçar a oferta do portfólio de toda a gama de mobilidade Surface, em modelos como o Surface Go 3, Surface Laptop 4 ou o mais recentemente anunciado em território nacional Surface Pro 8”, explica João Moura. |