A pandemia de COVID-19 mostrou as fragilidades que as organizações tinham em termos de mobilidade. Alcatel-Lucent Enterprise, Aruba, Decunify, Fortinet, Fujitsu, HP, Ingecom, Kaspersky, Lenovo, Palo Alto, Panda, WhiteHat e Xerox partilham a sua opinião sobre o mercado de mobilidade e os principais desafios
A mobilidade sempre foi uma necessidade dentro das empresas. Quer já tivessem políticas de trabalho remoto ou não, muitos eram os colaboradores que precisam de se deslocar aos clientes e levar o seu computador, por exemplo.
Desde o início da pandemia que a adoção de soluções de mobilidade e de soluções de escritório aumentaram exponencialmente. As organizações aceleraram os seus projetos de transformação digital e, numa questão de meses, as empresas deram um passo que, de outra forma, demorariam anos a dar.
“Existiu um impulso grande nalgumas áreas que as empresas estariam a estudar e que foram precipitados com toda esta situação da pandemia”
- Bruno Santos, Diretor Comercial, Decunify
O fator pandemia
No final de fevereiro, início de março de 2020, as empresas foram obrigadas a reagir rapidamente – muitas vezes depressa de mais, nem sempre privilegiando a cibersegurança necessária, por exemplo – para manter os seus colaboradores produtivos e os seus negócios a correr. Joana Carneiro, Category Manager Client Computing Device da Fujitsu, refere que a pandemia “apanhou o mundo todo desprevenido e obrigou, felizmente – de certo modo é mesmo felizmente –, a uma aceleração de muitos projetos que estariam na gaveta dos clientes”.
Apesar de as empresas terem planeado, a curto-médio prazo, o trabalho remoto, “muitas das empresas estariam confinadas aos horários das nove às seis horas, com os colaboradores no escritório, onde eram mais facilmente controlados e o facto é que esta pandemia veio alterar tudo”. As empresas foram obrigadas a reagir rapidamente e deram prioridade à continuidade dos negócios, onde arranjaram o que era possível e não o que era necessário. “Houve uma mudança drástica nas estratégias das empresas”, conclui.
Bruno Santos, Diretor Comercial da Decunify, diz que “existiu um impulso grande nalgumas áreas que as empresas estariam a estudar e que foram precipitados com toda esta situação da pandemia”. Apesar da área dos PC “não ser muito a área da Decunify”, a empresa teve “alguns clientes a pedir ajuda porque precisavam de ter portáteis para colocar as pessoas a trabalhar em casa. No que nos diz mais respeito, notamos uma aceleração nas áreas de securização do acesso às redes, alguns projetos na área da virtualização, na cloud – preocupados com a continuidade do negócio – e, acima de tudo, vimos vários projetos alavancados na transformação digital, isso sim foi verdadeiramente acelerado; uma coisa é ter os papéis à frente, mas a digitalização tornou-se num ponto muito forte”.
“O essencial é a maneira como os clientes conseguem lidar com o facto de o perímetro já não ser aquilo que era”
- António Correia, Diretor de Vendas, Panda
António Correia, Diretor de Vendas da Panda, sentiu que os clientes “não estavam preparados”. “Muitas vezes existiu a preocupação de protegerem corretamente máquinas que eventualmente não eram das empresas. Sentimos o assegurar a ligação à rede, a procura maior por autenticação multifatorial. Diria que há muitos anos que se fala da questão do perímetro, mas a situação veio alterar brutalmente essa realidade e acelerou, em muito pouco tempo, aquilo que seria feito em muitos anos”. Existiu, também, uma preocupação muito grande de garantir a continuidade e a segurança na operação numa realidade nova para todos, com perímetros que se espalharam um pouco por todo o lado.
Élio Oliveira, Territory Channel Manager & SMB da Kaspersky, refere que “há duas realidades” na adoção da mobilidade e do novo posto de trabalho na pandemia. As empresas foram obrigadas a adotar estas soluções e “dar as tais condições do novo workplace digital aos seus colaboradores. Aquilo que infelizmente vejo na maior parte dos casos é que apenas se preocuparam com as soluções de colaboração e deixaram de parte muito outros temas, nomeadamente a parte da segurança. No top enterprise isto não se verificou muito, porque era um mercado mais maduro; nas PME, para além das ferramentas de videoconferência, a mobilidade foi levar o PC para casa. No fim do dia, isto levanta outros problemas de segurança” que ainda não foram endereçados.
Nuno Reis, Cybersecurity Business Development Manager da Ingecom, crê que existiu “uma preocupação muito grande em garantir produtividade, ter equipamentos disponíveis e bons acessos” e estes mercados tiveram um grande crescimento. Na área da segurança “pura”, do ponto de vista de gestão dos endpoints e dados, terá “ficado para segundo plano; muitas empresas, devido à quebra de faturação, não tiveram orçamentos preparados para conseguir com todos os projetos em paralelo; não quer dizer que não os estivessem preparados, mas, efetivamente, estes orçamentos tiveram de ser olhados e não permitiu fazer tudo”. Face a este contexto, a segurança deve ser alvo de uma lista de prioridades onde, no final de 2020 e início de 2021, haverá uma aposta mais estruturada.
“Aquilo que hoje em dia compõe as organizações não é diferente daquilo que acontecia há dez anos, simplesmente agora temos consciência da superfície de ataque”
- Nuno Reis, Cybersecurity Business Development Manager, Ingecom
Rui Pinho, Channel Account Manager da Fortinet, afirma que a grande questão que se levantou “foi a obrigatoriedade de manter os colaboradores produtivos em ambiente caseiro. Acredito que se houvesse tempo para planear, teria sido um desafio mais fácil de alcançar. Ainda hoje, passados estes meses, algumas empresas ainda se estão a organizar para serem produtivas”. Ao mesmo tempo, “havia projetos que estavam em plano e que a pandemia veio alavancar e acelerar a implementação, mas existia sempre a questão das comunicações e essa foi a questão mais complicada”.
Pedro Martínez, Business Development Manager for South EMEA da Aruba, diz que a pandemia “forçou a transição para este novo tipo de posto de trabalho, que chamamos de híbrido. A pandemia, por si só, não trouxe mobilidade. Um colaborador que utilizava um desktop, a pandemia não significa que agora está em mobilidade. Agora, a maioria dos colaboradores enfrenta uma realidade onde tem um desktop fixo, mas esse desktop fixo está agora em casa”. Do ponto de vista da Aruba, é necessário fornecer um ambiente híbrido, o que significa permitir ao colaborador trabalhar de forma igual em qualquer um dos ambientes, seja no escritório ou em casa.
Trabalho remoto
Pedro Dias, Country Manager da Alcatel-Lucent Enterprise, explica que a visão do primeiro impacto é que não foi um processo estudado, foi um processo urgente e de permitir que os utilizadores que passavam a trabalhar de casa tivessem exatamente as mesmas condições que quando trabalhavam no escritório. “Não houve para muitos colaboradores uma alteração significativa da forma de trabalhar, o que houve foi uma mudança do escritório para casa que fosse o mais transparente possível”. Nas grandes empresas, houve o desafio de, por terem ambientes muito densos, tiveram que dispersar os colaboradores para fazer o seu trabalho a partir de casa. Ao mesmo tempo, os colaboradores concorreram pela largura de banda com quem vivem, que, por sua vez, também precisam de realizar os seus trabalhos.
Nuno Mendes, CEO da WhiteHat, refere que “todos fomos empurrados para uma situação onde só um nicho, um segmento de empresas estaria preparado para fazer face a esta urgência de teletrabalho”. Em Portugal, esta situação é particularmente preocupante “tendo em conta que 99% das empresas são PME”. Em linha com a perceção dos restantes participantes, Nuno Mendes também sentiu que a prioridade foi manter a continuidade dos negócios através dos meios que estivessem ao dispor e depois, ao longo do tempo, existiu, então, a preocupação de assegurar os equipamentos e os processos. “No tecido empresarial português, pouquíssimas PME estariam preparadas para enfrentar uma situação destas e foram empurradas para garantir as operações”, diz, ressalvando que foi possível fazê-lo, consoante as capacidades de cada uma.
“Há muitas oportunidades nesta transformação e os Parceiros são uma ajuda fundamental na definição do caminho da transformação das empresas”
- Rui Gouveia, Enterprise & Public Sector Business Manager, Lenovo
Rui Gouveia, Enterprise & Public Sector Business Manager da Lenovo, reforça que “a transição digital foi claramente acelerada”. A parte da mobilidade, com a transformação do posto de trabalho, foi ainda mais rápida. “O trabalho remoto já tinha sido adotado por algumas empresas e era um assunto para o qual as organizações já eram sensíveis, já havia uma tendência para o trabalho remoto, fruto também dos nossos hábitos diários, de sermos cada vez mais colaborativos e tecnológicos; já é muito normal mandar um email para o colega do lado. Fruto disso, o trabalho remoto estava já em crescendo”. Assim, apesar das dificuldades sentidas por alguns colaboradores, atualmente já está implementado junto dos trabalhadores que ainda estão em casa, ou que fazem apenas meio tempo no escritório.
José Manta, Major Account Manager da Palo Alto, explica que, “sem dúvida, houve uma aceleração deste tipo de tecnologias de mobilidade. Foi positivo, por um lado, por outro trouxe um grande conjunto de desafios, tanto pessoais como tecnológicos. Pessoais porque foi necessário habituarem-se a trabalhar em conjunto com as suas crianças, com a escola, com as atividades normais de casa. E depois, tecnológico, porque numa primeira fase, a preocupação foi garantir a conectividade e que os trabalhadores que estavam em casa conseguiam aceder às aplicações e aos seus ambientes de trabalho de modo a garantir a continuidade do negócio, e só depois se abordou a segurança”. No entanto, já existiam empresas que já permitiam o teletrabalho, onde os colaboradores tinham a mesma experiência no escritório e noutros espaços.
“Há quatro pilares na transição para o modelo híbrido e cada pilar é uma oportunidade de negócio para o Canal”
- Pedro Coelho, Gestor Categoria de Computação Profissional, HP
Sandra Andrade, Marketing & Communication Manager da Xerox, diz que “transversalmente, naquilo que foi referido, também tem a ver com o nosso negócio, aquilo que sentimos foi, mesmo nas grandes empresas, que foram apanhadas num conjunto de situações que não estavam previstas e todas – umas mais do que outras – tiveram desafios acrescidos com esta situação” pandémica. Neste sentido, as organizações tiveram que se reinventar para descobrir como podiam chegar com eficiência aos seus clientes finais, continuar o negócio, realizar o maior número de vendas possível num período único para todos para não deixar as operações caírem. Depois, existiu também a necessidade de comunicação à distância e de colaboração entre colegas que já não estão fisicamente ao seu lado, algo que nem sempre foi fácil de atingir.
Pedro Coelho, Gestor Categoria de Computação Profissional da HP, declara que “assistimos às empresas a tentarem manter a continuidade do seu negócio. Para muitas, a transição para o teletrabalho foi facilitada porque a mobilidade já fazia parte dos seus projetos internos, mas também, para muitas outras, passaram para uma mobilidade de contingência”, que não foi devidamente pensada e preparada. “Penso que agora há tempo para consolidar essa transição porque, na verdade, o futuro do trabalho é um futuro híbrido. O teletrabalho veio para ficar como complemento do trabalho presencial e cada empresa encontrará a mistura perfeita entre o trabalho presencial e o trabalho remoto”.
“Tal como há uns meses, tudo o que possamos estar a pensar para o futuro poderá ser radicalmente alterado face à continuação da situação que vivemos”
- Sandra Andrade, Marketing & Communication Manager, Xerox
BYOD ou PCaaS
O Bring Your Own Device, ou BYOD, assumiu agora um papel muito maior em Portugal, fruto das contingências da pandemia. O Device-as-a-Service, ou PC-as-a-Service, começou a ser adotado, tanto por fabricantes como por Parceiros, para dar resposta às necessidades das empresas.
Pedro Coelho partilha a experiência da HP, onde “as pessoas foram para casa, mas continuaram a precisar do conforto de ter um help desk a auxiliá-los nesta transição e a garantir o acesso aos dados corporativos e a garantir o elevado uptime dos seus próprios equipamentos”. Assim, a necessidade de “o IT controlar os equipamentos que estavam na mão dos colaboradores” leva o BYOD a perder alguma relevância. “As empresas procuram ter um parque mais homogéneo de equipamentos que possam gerir e, remotamente, auxiliar os seus colaboradores a manterem-se ativos, isto leva a outros cenários de utilização e gestão dos equipamentos”, explica.
Rui Gouveia (Lenovo) refere que a adoção do BYOD não foi muito significativa, também porque os fabricantes conseguiram dar resposta à necessidade que existia, que era “terem dispositivos com diferentes formatos, com diferentes requisitos”, através da extensão dos seus portfólios.
O representante da Lenovo afirma que a “tendência do PC-as-a-Service é cada vez mais crescente, com mais aceitação. As empresas procuram ter a flexibilidade e a simplicidade de gestão que o modelo possibilita, que lhes permite centrar nos seus negócios e clientes e deixar a gestão dos equipamentos para terceiros”.
Para a Fujitsu, o BYOD sempre foi “uma estratégia um bocado polémica”, diz Joana Carneiro, porque se “por um lado fosse mais apelativo para algumas pequenas e médias empresas”, por outro lado “surgiam outros riscos muito mais difíceis de gerir”, principalmente nas grandes empresas. “Os departamentos de IT estão a ser cada vez mais puxados para o negócio, não para gerir os equipamentos, mas sim para procurar soluções que alavanquem os negócios da própria empresa”.
Gestão de dispositivos
Numa organização, a gestão eficaz dos dispositivos fisicamente presentes e ligados remotamente é um dos pontos mais importantes. Num mundo híbrido, em que os colaboradores tanto trabalham no escritório clássico como nos ‘milhões de novos escritórios’ que nasceram da pandemia, esta necessidade torna-se ainda mais crescente.
“No final do dia, há muitos desafios por causa das conexões que temos atualmente”, explica Pedro Martínez (Aruba). “A chave passa por tornar estes ambientes o mais seamless possível e isto significa que se conseguirmos estender as redes dos escritórios para as casas, conseguimos manter o mesmo tipo de device management applications, o mesmo tipo de ferramentas de monitorização para o colaborador que trabalha a partir de casa”.
O representante da Aruba diz, também, que “o Wi-Fi 6 é uma tecnologia interessante, principalmente em ambientes indoor altamente densos”. Apesar de, agora, não existirem ambientes muito densos nos escritórios, a tecnologia recebe várias informações de dispositivos IoT e torna-se num backbone numa infraestrutura de convergência para a explosão de dados gerados pelos dispositivos IoT”.
Pedro Dias refere que este não é um cenário totalmente novo para a Alcatel-Lucent Enterprise; a oferta da empresa possibilita escolher o equipamento mais adequado para o negócio e para o momento que este atravessa. Atualmente, a utilização de Wi-Fi 6 não se prende com a necessidade de largura de banda, mas será “claramente um passo importante por questões de segurança, de facilidade de controlo e automatização dos processos. É importante porque os dispositivos estão muito mais afastados do controlo das equipas de IT e todos estes novos mecanismos tenham inerentes soluções de gestão e de configuração muito baseadas na cloud e, desta forma, serem muito mais fáceis de manter e gerir”.
Bruno Santos (Decunify) a segurança da conetividade é “muito importante” e “imprescindível” e trazem um acréscimo de preocupação para a equipa de IT, “principalmente no número de recursos necessários para gerir tudo isto. Toda esta panóplia de soluções à volta da segurança traz novas funções, responsabilidades e trabalho acrescido para as equipas que gerem; não faltam soluções, mas trazem algumas preocupações de tudo aquilo que acarreta o posto de trabalho remoto”.
Rui Pinho (Fortinet) afirma que “se as infraestruturas já eram complexas, a questão do teletrabalho tornou-as ainda mais complexas. Recordo-me de um conceito da Gartner, de prever, prevenir, detetar e responder; as empresas acabam por ter que seguir na mesma este conceito para estarem seguras e prevenirem ao mesmo tempo”. Como está tudo mais fragmentado, e os próprios fabricantes de segurança têm uma maior variedade de produtos, coloca-se a questão da gestão, onde se não for possível ver, não se consegue tomar atitudes ou políticas, algo que pode ser importante para a continuidade do negócio.
“Na vertente do Wi-Fi 6, é sem dúvida uma oportunidade porque cada vez mais vamos precisar de mais conetividade e ter uma maior rapidez para aceder às aplicações”, explica José Manta, da Palo Alto. A empresa tem procurado “garantir que, independentemente de onde o utilizador esteja, tenha a mesma experiência de utilização no acesso às suas aplicações e com o mesmo tipo de segurança”. É possível, através da cloud, o utilizador ter acesso a esta segurança e esta conetividade numa única solução.
“Houve uma preocupação de conseguir aceder ao data center, mas quando se acedia à Internet havia duas hipóteses: entrar via VPN, onde se leva todo o tráfego para a rede, ou seguir sem controlo”
-José Manta, Major Account Manager, Palo Alto
Desafios de cibersegurança
Com os dispositivos mais longe da vigilância direta do IT, os colaboradores instalam as suas próprias ferramentas, aumentando a vulnerabilidades das redes e colocando desafios acrescidos em termos de cibersegurança.
Rui Pinho (Fortinet) reforça que “têm de existir a capacidade de o IT gerir independentemente das tecnologias adotadas e cabe aos fabricantes fazer esse trabalho de casa e não terem apenas soluções próprias e também integrarem, com outras soluções, de forma a colmatar” possíveis falhas. Aqui, diz, fala-se de “autenticação multifator, VPN, ter segurança na própria rede; há várias questões que têm de ser ponderadas e, agora que passámos esta azáfama de implementar tudo à última da hora com aquilo que se tem, as empresas têm de olhar e efetuar uma estratégia tendo em conta estes vários fatores”.
“Há um crescimento quase exacerbado do número de dispositivos”, indica Nuno Reis, da Ingecom, que acrescenta que estes dispositivos passaram “a inundar o espaço das organizações, seja on-premises ou em teletrabalho, mesmo cloud. Mais importante que dispositivos, há um conjunto de sistemas operativos e firmwares a falar e a produzir tráfego na rede – o que só por si é um desafio. Ainda há outro ponto que, á data de hoje, tem sido muito interessante e que temos observado que é a convergência em verticais muito específicos”. Deste modo, refere, “aquilo que hoje em dia compõe as organizações não é diferente daquilo que acontecia há dez anos, simplesmente agora temos consciência da superfície de ataque que todo o mercado fala e que todos querem resolver”.
“Quem quer continuar a trabalhar remotamente terá de garantir que os postos de trabalho estão seguros e que remotamente se conseguem minimizar os riscos”
“O shadow IT é inevitável”, afirma Élio Oliveira (Kaspersky), clarificando que “é no endpoint que vamos conseguir garantir algum controlo daquilo que se passa, do que pode acontecer e que é perigoso. Com um perímetro cada vez mais deixa de existir, o que é necessário são soluções que garantam não só que seja impedido que o PC esteja a ser monitorizado e controlado, e essas soluções têm de ser identificadas e claramente inseridas no endpoint”.
“O essencial é a maneira como os clientes conseguem lidar com o facto de o perímetro já não ser aquilo que era”, defende António Correia. “Julgo que o que melhor se adapta são as soluções cloud, em termos de segurança”. O representante da Panda refere, ainda, que os colaboradores dos departamentos de sistemas de informação têm noção quais são os desafios e qual é o caminho, “mas falta, por parte do C-Level, ter essa sensibilidade de libertar o investimento para essas áreas”.
José Manta (Palo Alto) menciona que “as principais dificuldades dos nossos clientes prenderam-se, numa primeira fase, com a vertente da conetividade e, uns melhores do que outros, conseguiram dotar naquilo que já tinham nas suas infraestruturas, nomeadamente VPN, para garantir que os seus colaboradores trabalham e acedem da melhor forma possível às aplicações que estavam habituados a trabalhar no escritório. É evidente que, com o crescer das aplicações que estão na cloud, houve uma preocupação de conseguir aceder ao data center, mas quando vamos aceder à Internet há duas hipóteses: ou entrar via VPN – onde traziam todo o tráfego para as suas redes – ou então deixavam seguir para a Internet, mas sem grande controlo do que estavam a fazer”.
“A prioridade foi dada à conectividade e, posteriormente, onde não existia uma estratégia – ou sequer orçamento – a componente de cibersegurança tem de ser rapidamente endereçada”, defende Nuno Mendes (WhiteHat). “O que verificámos quase instantaneamente, em termos de desafios, foi a gestão dos endpoints com as soluções existentes. Um dos desafios foi ‘como é que vamos gerir e ter visibilidade das ameaças que chegam’. Nem todas as empresas têm condições para comprar portáteis para os seus colaboradores. Houve um modelo completamente híbrido em termos de dispositivos”.
“A prioridade foi dada à conectividade e, posteriormente, onde não existia uma estratégia – ou sequer orçamento – a componente de cibersegurança tem de ser rapidamente endereçada”
- Nuno Mendes, CEO, WhiteHat
O futuro do posto de trabalho
O posto de trabalho, como o conhecemos, está em evolução. Muitas empresas fechavam as portas ao teletrabalho, mas agora é uma realidade em grande parte delas. Neste sentido, a questão que se impõe é se o posto de trabalho atual vai desaparecer e como é que vamos trabalhar no que falta de 2020 e, principalmente, em 2021.
Sandra Andrade (Xerox) relembra que, “tal como há uns meses, tudo o que possamos estar a pensar para o futuro poderá ser radicalmente alterado face à continuação da situação que vivemos”. Ainda assim, as empresas não podem parar. “Sentimos que o trabalho remoto veio para ficar”, mesmo dentro das organizações que não estavam tão habituadas a esta realidade. “Todos os indicadores apontam para que não voltaremos a estar maioritariamente do nosso tempo no escritório físico. O modelo híbrido – no escritório e em casa – veio para ficar”.
Joana Carneiro acredita que “o posto de trabalho já mudou”. A Fujitsu, por exemplo, há alguns anos que trabalhava na sua transformação digital “e uma das coisas que estávamos a fazer era integrar as próximas gerações de trabalho”. As novas gerações “estão mais viradas para o teletrabalho, para poder trabalhar em qualquer hora, em qualquer lugar, com a maior flexibilidade. Acreditamos que é este o espírito que vai trazer inovação para as empresas”.
“As novas gerações estão mais viradas para poder trabalhar em qualquer hora, em qualquer lugar, com a maior flexibilidade. Este o espírito que vai trazer inovação para as empresas”
Pedro Martínez (Aruba) é da opinião que a “pandemia trouxe algumas lições interessantes porque, no final do dia, há um cenário win-win. Os colaboradores podem poupar muito tempo nas deslocações casa-trabalho que traz muito mais flexibilidade, reduz a pegada do escritório e os elevados custos de aluguer e, em termos de sociedade, estamos a reduzir a poluição, é muito mais sustentável”.
Pedro Coelho, da HP, conclui que o futuro do workplace é um ambiente híbrido. “Um estudo recente da Gartner diz-nos que 41% dos colaboradores preferem manter a flexibilidade de trabalhar a partir de casa pelo menos nalgum período durante a semana após este período pandémico. Há também uma mensagem positiva: já existem soluções tecnológicas que suportam a implementação deste modelo híbrido; a indústria está preparada, os fornecedores estão preparados e os fabricantes estão preparados. Compete agora às empresas pensar esse ambiente híbrido e implementá-lo”.
“O posto de trabalho, a curto prazo, não vai desaparecer”, refere Rui Gouveia (Lenovo). “As empresas vão ter que se adaptar e vai existir um foco muito maior na mobilidade e na colaboração”. Haverá, no entanto, “alguns postos de trabalho novos que poderão surgir” para, por exemplo, remotamente monitorizar pacientes com dificuldades crónicas, “é um posto de trabalho que não existia e que teve de ser reinventado e diferente do posto de trabalho atual”.
“Há oportunidades mais tradicionais que os Parceiros fazem há vários anos, como o reselling, mas agora há novos modelos de negócio e de financiamento”
- Pedro Martínez, Business Development Manager for South EMEA, Aruba
Oportunidade para os Parceiros
Como é habitual, o Canal de Parceiros tem, aqui, oportunidades únicas para fazer crescer os seus negócios. Aos Parceiros pede-se, como é habitual, o papel de conselheiro para os clientes finais, de indicar quais devem ser as suas prioridades de investimento.
“Há uma grande oportunidade para os Parceiros para ajudar os seus clientes a abraçar o modern workplace”, reforça Pedro Martínez, da Aruba. “Há oportunidades mais tradicionais que os Parceiros fazem há vários anos, como o reselling, mas agora há novos modelos de negócio e de financiamento, como Networking-as-a-Service. Estes modelos permitem que o Parceiro se torne um novo ator no papel de managed services providers. Neste papel, o Parceiro vai fornecer toda a infraestrutura, toda a conetividade como um serviço ao cliente final e tem várias vantagens; por um lado, permite ao Parceiro tirar o máximo destas novas tecnologias, até porque os ciclos destas tecnologias são cada vez mais rápidas e o cliente não consegue tirar tudo o que é possível das tecnologias. Depois, é importante fornecer estes modelos de financiamento e, em vez de ter algum budget em CapEx por parte dos clientes, os Parceiros podem fornecer o produto como um serviço, em OpEx”.
Élio Oliveira, da Kaspersky, refere que “quem quer apostar na mobilidade e quer continuar a trabalhar remotamente, terá de garantir que os postos de trabalho estão seguros e que remotamente se conseguem minimizar os riscos. Vemos um espaço muito grande para os Parceiros poderem trabalhar em soluções de proteção do posto de trabalho, não só do endpointprotection, mas também a componente de EDR, autenticação multifator, patch management e algo que é muito importante como as ferramentas de consciencialização de segurança”.
“Apesar de as organizações se terem vindo a adaptar, penso que ainda há muitas oportunidades para os Parceiros melhorarem a oferta e toda a segurança inerente à produtividade das organizações”, afirma Rui Pinho, da Fortinet. “Também a consciencialização, o security awareness, dos colaboradores é muito importante nesta fase. Temos, por exemplo, alguns cursos gratuitos na nossa plataforma de training para os Parceiros. Através desta plataforma, os Parceiros podem evoluir no seu conhecimento que precisam de ter; não é apenas ter as tecnologias disponíveis, é preciso o know-how para aconselhar o seu cliente o melhor possível, aliado ao budget disponível que não é igual para todos os clientes”.
“Ainda há muitas oportunidades para os Parceiros melhorarem a oferta e toda a segurança inerente à produtividade das organizações”
- Rui Pinho, Channel Account Manager, Fortinet
Pedro Coelho, da HP, acredita que “há claramente oportunidades de negócio a explorar” por parte dos Parceiros. “Há quatro pilares na transição para o modelo híbrido e cada pilar é uma oportunidade de negócio. O portfólio da HP é extenso em termos de produtos e soluções de mobilidade que se adequam aos perfis de utilizadores das empresas”. Depois, há cada vez mais opções na “oferta de computação profissional para disponibilizar a conetividade, seja o Wi-Fi 6 ou a adoção de 4G”. Também, em termos de colaboração, “há várias tecnologias que estão a ser integradas nos próprios dispositivos para melhorar toda a experiência nas plataformas de colaboração”. Por fim, a questão da segurança, onde a HP inclui várias funcionalidades deste tipo para proteger de raiz os equipamentos.
Rui Gouveia, da Lenovo, reforça que “há muitas oportunidades nesta transformação e os Parceiros são uma ajuda fundamental na definição do caminho da transformação das empresas, com um papel de consultor e onde vão surgir oportunidades de negócio em termos de mobilidade e de segurança”.
“Mesmo com todas as adversidades, o setor do IT continua a apresentar muitas oportunidades para os Parceiros, ao contrário de outras áreas que foram mais afetadas”, diz Pedro Dias, da Alcatel-Lucent Enterprise. Áreas como a segurança, colaboração, Wi-Fi, IoT, inteligência artificial e mesmo no novo workplace apresentam “novas oportunidades” que os Parceiros podem aproveitar e aconselhar os seus clientes sobre quais são as melhores opções ao seu dispor.
Nuno Mendes, da WhiteHat, reforça que “o setor do IT é um setor privilegiado nesta situação pandémica”. A empresa tem vindo a apostar na evangelização, tanto do seu Canal como dos clientes finais, sobre a importância da cibersegurança nas atividades das organizações e reforçado a sua equipa com especialistas para que melhor possam ajudar os seus Parceiros.
Com um papel diferente, “de integrador”, Bruno Santos, da Decunify, confirma que “há oportunidades fantásticas” para ir ao mercado. “Apesar de todas estas oportunidades, vemos que, mesmo na área da colaboração, as organizações aproveitaram o facto de ser gratuito durante um tempo para se habituarem a utilizarem as ferramentas e agora estão a chegar à altura que vão ter de pagar se querem continuar a utilizar. Isso é mais uma oportunidade que pode ser valorizada”.
No entanto, apesar de todas as dinâmicas que existem, o Diretor Comercial da Decunify refere que “há alguma preocupação na capacidade de investimento por parte dos clientes. Se é verdade que existem oportunidades, a continuidade da pandemia e com a possibilidade de as coisas virem a piorar, pode trazer alguma preocupação acrescida relativamente à capacidade dos clientes finais continuarem a investir em soluções fantásticas”.
“Mesmo com todas as adversidades, o setor do IT continua a apresentar muitas oportunidades para os Parceiros”
- Pedro Dias, Country Manager, Alcatel-Lucent Enterprise