Inês Garcia Martins em 2025-3-13

A FUNDO

Mesa-Redonda

A evolução dos data centers e o impacto do edge computing nas infraestruturas de IT

Num contexto de acelerada transformação digital, os data centers e o edge computing estão a redefinir a forma como as infraestruturas de IT são concebidas e geridas. No live event “Data Centers & Edge Computing: Um presente conectado ao futuro”, promovido pelo IT Channel, especialistas da Fujifilm, IP Telecom, PortugalDC, Toshiba e Vertiv debateram as tendências emergentes, a inovação tecnológica e os desafios energéticos, sublinhando novas oportunidades para os Parceiros de Canal

A evolução dos data centers e o impacto do edge computing nas infraestruturas de IT

Como avaliam o crescimento do mercado de data centers em Portugal? Quais são as principais tendências e desafios que os Parceiros de Canal devem ter em conta para os próximos anos?

 

“A conjugação e o planeamento estratégico de vários stakeholders, como investidores, governo, operadores e até as próprias universidades tem de acontecer, porque só mesmo com esse ambiente colaborativo é que Portugal se pode diferenciar de outros países”


Rita Lourenço, Vice-Presidente, PortugalDC

Rita Lourenço, Vice-Presidente, PortugalDC: “O setor de data centers em Portugal está realmente num período de crescimento muito significativo, onde parece que tudo se alinha na perfeição. Estamos aqui numa indústria privilegiada em grande crescimento, isto obviamente pelas tendências de mercado como o grande crescimento dos dados e a inteligência artificial. Portugal está situado no sudoeste da Europa, portanto é um ponto muito estratégico de ligação aos vários continentes e diria que a localização estratégica de Portugal coloca-nos numa posição em que podemos ser facilmente o novo hub de liderança tecnológica digital da Europa. Se falarmos de uma perspetiva de crescimento para 2030 – que é muito permissora –, facilmente podemos chegar aos 500 megawatts”

Marco Vicente, Sales & Business Consultant, Toshiba: “De acordo com os últimos dados da IDC, o mercado mundial tem um crescimento na ordem dos 10% em quantidade e 14% em valor. E é uma tendência que se espera que venha a existir pelo menos até 2028. É um mercado saudável e é também o resultado de uma tendência que tem a ver com o aumento constante das capacidades disponibilizadas pelos discos rígidos. Portugal representa menos de 1% do mercado europeu de distribuição de discos rígidos, o que demonstra que existe de facto uma enorme oportunidade em Portugal para toda a indústria. O mercado em Portugal, não sendo ainda enorme, apresenta uma enorme oportunidade para todos os empreendimentos para esta indústria”

Como é que os Parceiros de Canal podem apoiar os clientes na transição para infraestruturas híbridas, combinando cloud privada, pública e edge computing?

“Os Parceiros são o braço armado para conseguirmos chegar a uma maior fatia de clientes, uma vez que têm mais proximidade e a maioria dos negócios passa muito pela confiança que existe entre as pessoas”


Filipe Frasquilho, Diretor Serviços de TI, IP Telecom

 

Filipe Frasquilho, Diretor Serviços de TI, IP Telecom: “O mundo é híbrido e para isso é necessário ter um planeamento estratégico para definir realmente aquilo que deve ser colocado e principalmente olhar para as necessidades de cada negócio. É fundamental ter um plano definido em termos de controlo da parte da monetização. Nós podemos utilizar cloud interna, cloud pública, a ligação às duas e ter componentes de edge, mas temos de ter um controlo sobre o custo e perceber onde é que podemos fazer otimização. Eu não posso ter uma estratégia de cibersegurança para a minha componente on-premises que será diferente da minha componente na cloud pública ou no edge. Tenho de ter uma estratégia global e só assim é que as coisas podem funcionar e isso depois permite fazer a alteração de providers”

Anna Baldrís, Business Development Manager, Fujifilm: “Podemos oferecer suporte estratégico e tecnológico através da oferta de gateways de integração com a cloud pública e privada. Um caso concreto é o desenvolvimento de software que permite a replicação de dados armazenados em tape local ou em disco para permitir essa expansão e diretamente para a cloud pública, seja na Amazon Web Services, Glacier, Azure Archive, Google Cloud Storage, e para a cloud privada. Permitir também a movimentação de dados do edge computing para sistemas de armazenamento de forma automatizada para tornar muito mais ágil todo este trabalho, fornecer ferramentas avançadas de gestão com inteligência artificial e API de integração, para a correta integração dessas plataformas, reduzir os custos operacionais e promover armazenamento sustentável”

Rita Lourenço, PortugalDC: “A transformação digital está a redefinir a maneira como as empresas operam, assim como a necessidade emergente de diferentes modelos de data center, bem como toda a parte de colocation ou de soluções mais de retail. Com base neste panorama tão diverso e, sim, claro que o mundo é completamente híbrido, diria que realmente Portugal destaca-se como tendo potencial, para acolher estes diversos modelos de data center. Aquilo que nós, como PortugalDC, fazemos é dinamizar o setor através da diversidade de conhecimento e a partilha de informação, o que é muito interessante. A nossa missão é realmente impulsionar a competitividade de Portugal lá fora e trazer para o país os três modelos - hyperscaler, retail e edge. Creio que Portugal tem potencial para albergar estes três tipos de data centers”

De que forma é que a adoção de inteligência artificial e AIOps está a transformar a gestão dos data centers? Quais os desafios e oportunidades para os Parceiros de Canal?

 

“Cada vez mais, as empresas, as instituições e os nosso clientes sentem a necessidade de adequar a sua infraestrutura edge, de forma a ser mais sustentável, mais económica e de forma que o investimento seja o mais ajustado possível, mas que, ao mesmo tempo, permita que a sua experiência e a sua utilização seja a melhor possível”


Isabel Pinto, Channel Distribution Manager, Vertiv

Isabel Pinto, Channel Distribution Manager, Vertiv: “A adoção da inteligência artificial e dos AIOps, Artificial Intelligence for IT Operations, está sem dúvida a revolucionar a gestão dos data centers, uma vez que consegue melhorar de forma substancial a eficiência operativa, consegue reduzir custos e otimizar rendimento. A inteligência artificial, ao detetar anomalias e ameaças em tempo real, vai permitir melhorar a cibersegurança dos centros de dados. Enquanto as AIOps vão ajudar a minimizar o tempo de inatividade mediante as respostas automatizadas aos problemas e a vários acidentes que possam ocorrer. Ações preventivas e preditivas permitem que todo o ecossistema de serviços associados ao centro de dados funcionem de forma muito mais adequada e evitem problemas maiores e aquela correria à resolução de emergências que por vezes acontecem”

Marco Vicente, Toshiba: “Assim como já aconteceu no passado, quando houve o lançamento das redes sociais, em que se começaram a gerar enormes quantidades de informação que necessitavam de ser guardadas, como aconteceu também aquando do lançamento da IoT. Esta é somente mais uma tecnologia que vai obrigar a um aumento das capacidades de armazenamento de toda a informação que é processada e eu creio que é inegável que, hoje, todas as organizações estão a adotar ferramentas de gestão e a utilizar a inteligência artificial para retirar proveito operacional desta tecnologia. Portanto, creio que não há dúvidas que existindo este aumento enorme de produção de informação, os data centers vão necessitar obrigatoriamente de ter capacidades para armazenar mais informação”

Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Utilizamos essa tecnologia e realmente tivemos melhorias de eficiência, tanto na parte energética, como na componente operacional e do ciclo de vida dos equipamentos. E isso é fundamental porque permite, como é óbvio, levar a que nós tenhamos a capacidade de prever com maior certeza quando é que podem acontecer situações e, portanto, antecipar essas situações para que elas não possam acontecer. A utilização deste tipo de tecnologia permite obter um conjunto adicional de dados que ajuda os decisores a decidir para poderem avançar com novos investimentos e melhorias. Vemos a inteligência artificial a ajudar-nos na componente da eficiência, tanto na parte operacional como na parte preditiva. Por outro lado, temos um desafio enorme: os clientes também querem começar a utilizar essas componentes e nós temos de salvaguardar as capacidades para responder a essas necessidades”

Numa era de ransomware e falhas de infraestrutura, como é que as empresas podem garantir a máxima resiliência doa seus dados?

“A tecnologia de tape permite também esse armazenamento com formatos imutáveis, encriptação de dados desde o ponto de vista de hardware e uma proteção offline”


Anna Baldrís, Business Development Manager, Fujifilm

 

Anna Baldrís, Fujifilm: “As soluções de armazenamento em tape oferecem o AirGap físico que é uma das melhores garantias de proteção, promovendo a camada de arquivo em tape como a máxima proteção. A tecnologia de tape permite também esse armazenamento com formatos imutáveis, encriptação de dados desde o ponto de vista de hardware e uma proteção offline – os dados podem permanecer desconectados da rede por mais de 30 anos, dando uma camada muito mais segura. Além disso, permite recuperação confiável com baixo custo e também integração híbrida com cloud e edge computing. Podemos aplicar a estratégia habitual das empresas, que consiste em ter três cópias dos dados, em dois formatos diferentes. Uma cópia deve ser armazenada off-site, enquanto a outra deve ser mantida offline, garantindo assim a segurança e a redundância das informações”

Quais são as principais inovações em eficiência energética (como liquid cooling e energia renovável) e que impacto terão na estratégia dos data centers?

 

“Portugal representa menos de 1% do mercado europeu de distribuição de discos rígidos, o que demonstra que existe de facto uma enorme oportunidade em Portugal para toda a indústria”


Marco Vicente, Sales & Business Consultant, Toshiba

Marco Vicente, Toshiba: “O HDD continua a ter uma relação terabyte/preço muitíssimo mais vantajosa e essa diferença, quando multiplicada por milhões de unidades que são necessárias para serem instaladas em data centers, resulta num investimento muitíssimo inferior. Sendo inevitável a utilização de HDD em ambiente data center, a preocupação é reduzir o consumo energético. Se calhar existe a ideia, de uma forma genérica, de que nada tem sido feito para reduzir essa pegada, mas não é verdade. Em 2011, um HDD consumia cerca de 2.6 watts por terabyte, e atualmente apenas 0.46, portanto houve uma redução de cinco a seis vezes na redução de consumo energético nos HDD nos últimos 15 anos por via do desenvolvimento tecnológico”

Isabel Pinto, Vertiv: “O desenvolvimento é constante: equipamentos de SAI cada vez mais eficientes; a nível de refrigeração, a adoção de tecnologias ou de liquid cooling ou até mistas, dependendo da necessidade e da situação do cliente, de forma a tornar a solução o mais eficiente possível. No entanto, temos sempre de pensar na recuperação de parte da infraestrutura, diminuindo os resíduos que uma reestruturação da infraestrutura possa causar. Para além das soluções tecnológicas, a adaptabilidade e escalabilidade das nossas soluções fazem com que o consumo cresça exponencialmente. O facto de as infraestruturas serem cada vez mais adaptáveis e escaláveis, também tem um peso muito grande na questão da eficiência da eficiência energética”

Rita Lourenço, PortugalDC: “É completamente inquestionável que a sustentabilidade lidere e é um tema importantíssimo para a competitividade, e falamos para todos os setores de atividade, nomeadamente nos data centers. A eficiência dos data centers depende de uma comunidade de Parceiros e empresas do ecossistema. Trabalhando em conjunto, é possível criar soluções muito mais eficientes a todos os níveis. Dessa forma, creio que a solução deve passar precisamente por essa colaboração, pois os data centers são estruturas extremamente complexas e não podem ser desenvolvidos por um único fornecedor. É fundamental uma ligação entre várias soluções para criar uma solução mais comprometedora e ir ao encontro de eficiência energética e daquilo que os clientes também necessitam”

Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Portugal tem uma oferta de energia renovável bastante superior à maioria dos países na Europa. É uma oportunidade que temos de potenciar. Os custos não são tão elevados quanto a outros países. Portanto, o potenciar isto será um fator bastante decisivo para, neste caso, a área global dos data centers. Porque, lá está, parte do compliance obriga a que utilizemos e sejamos eficientes em termos energéticos, mas por outro lado também exige que a energia consumida seja energia verde”

Anna Baldrís, Fujifilm: “É importante ter em conta que o armazenamento em tape, ao contrário do HDD ou do disco em estado sólido, não requer alimentação contínua e, por isso, não exige refrigeração ativa contínua, podendo ser armazenado sem necessidade de energia ou refrigeração. Além disso, o custo de armazenamento é extremamente baixo. Se estamos a gerar maiores emissões de CO2, é necessário aumentar o esforço por parte do data center para reduzir essa pegada ecológica e tentar ser neutros em carbono, o que resultará em custos mais elevados”

Que setores e aplicações estão a impulsionar a adoção do edge computing? Como é que os Parceiros de Canal podem apoiar os clientes na construção de infraestruturas descentralizadas?

Isabel Pinto, Vertiv: “Eu diria que é uma abordagem transversal, não conseguimos, neste momento, identificar outra situação que se aplique da mesma forma. Não é o mais adequado, que um cliente opte exclusivamente por uma solução de cloud pública ou on-premises; o ideal é sempre uma abordagem híbrida. A nossa responsabilidade, enquanto vendors, e a dos nossos clientes de Canal é exatamente demonstrar aos seus clientes que todos fazemos parte do mesmo puzzle e do mesmo ecossistema. Cada vez mais, as empresas, as instituições e os nosso clientes sentem a necessidade de adequar a sua infraestrutura edge, de forma a ser mais sustentável, mais económica e de forma que o investimento seja o mais ajustado possível, mas que, ao mesmo tempo, permita que a sua experiência e a sua utilização seja a melhor possível”

Que novas oportunidades de receita estão a surgir para os Parceiros de Canal no ecossistema dos data centers? Como podem diferenciar-se da concorrência?

Rita Lourenço, PortugalDC: “Embora o mercado e o setor dos data centers em Portugal beneficie de infraestruturas cada vez mais inovadoras, no fundo temos de continuar a trabalhar em várias áreas. Portanto, diria que a conjugação e o planeamento estratégico de vários stakeholders, como investidores, governo, operadores e até as próprias universidades tem de acontecer, porque só mesmo com esse ambiente colaborativo é que Portugal se pode diferenciar de outros países. Portugal tem uma boa vantagem competitiva: mais ou menos 80% da energia é renovável. É uma vantagem competitiva importante e diria que temos aqui a conjugação para a chave do sucesso, mas temos que continuar a trabalhar e este trabalho tem que ser contínuo e colaborativo”

Filipe Frasquilho, IP Telecom: “Os Parceiros são o braço armado para conseguirmos chegar a uma maior fatia de clientes, uma vez que têm mais proximidade e a maioria dos negócios passa muito pela confiança que existe entre as pessoas. A confiança que existe cria-se e tem de estar solidificada num conjunto de serviços robustos e resilientes e nós conseguimos oferecer aos nossos Parceiros essa componente, tanto pela presença em Portugal de três data centers como pela rede nacional de fibra ótica que temos para sustentar as comunicações”

Anna Baldrís, Fujifilm: “A Fujifilm está a expandir o portfólio para oferecer novas oportunidades de receita para os Parceiros de Canal, no ecossistema dos data centers. Todas essas soluções destacam por serem completas, seguras e sustentáveis, diferenciando-se da concorrência em vários aspetos-chave. As nossas soluções vão oferecer aos Parceiros do Canal uma oportunidade significativa para ampliar as suas ofertas, diferenciar-se no mercado e atender as crescentes necessidades de arquivamento seguro e sustentável de dados nos data centers modernos”

Marco Vicente, Toshiba: “Os Parceiros são essenciais no desenvolvimento do negócio. A Toshiba tem um modelo 100% indireto de distribuição, portanto nós não participamos diretamente em nenhum tipo de projetos, portanto dependemos 100% desta relação. Assim como necessitamos dos Parceiros, os Parceiros também vão necessitar de soluções de armazenamento e é aí que nós entramos. A Toshiba é o único fabricante de discos rígidos com presença local em Portugal, capaz de dar apoio comercial e técnico a todos os seus Parceiros, portanto essa é uma enorme vantagem para os nossos Parceiros”

Isabel Pinto, Vertiv: “A Vertiv é uma empresa de Canal e, por isso, os Parceiros são efetivamente o nosso braço armado também. A nossa missão não é mais do que empoderar os Parceiros para que possam reconhecer as necessidades e desenvolver um conjunto de soluções adequadas financeiramente, ajustadas e sustentáveis para os seus clientes. Utilizamos todo o conhecimento que fomos adquirindo nos grandes data centers no nosso portfólio, para a implementação de projetos em grandes data centers”

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