Rui Damião em 2020-10-15
O software empresarial deixou de ser apenas o ERP ou o CRM e evoluiu para um conjunto de soluções que, consoante o setor de atividade, são indispensáveis para as organizações. Blink IT, EasyVista, Esri, Infor, JP.DI, Microsoft, Noesis, Procensus Oak Peak, Qlik e SAS partilham a sua visão sobre o mercado de enterprise software
As organizações estão a evoluir e, com elas, o seu software. As empresas já não utilizam apenas o ‘simples’ ERP – Enterprise Resource Planning, ou Sistema de Gestão Empresarial – ou o CRM – Customer Relationship Management, ou Gestão de Relacionamento com o Cliente –, mas sim uma panóplia de aplicações de negócio que são cada vez mais relevantes. Com este crescimento de software surgem outros problemas. Os silos de informação são um desses desafios, mas também a falta de formação aos colaboradores, que pode impedir que se tire o máximo partido do software.
“Focar numa determinada área sem ter a organização como um todo pensada não faz muito sentido”- Paulo Magalhães, VP Sul da Europa, EasyVista
Aplicações de negócioCom a evolução a que o mercado está a assistir, falar em software de gestão pode já não fazer sentido em determinados casos. Para muitas organizações, é preferível falar das aplicações de negócio, em vez do ‘simples’ software de gestão. Paulo Magalhães, VP Sul da Europa na EasyVista, considera que, atualmente, “focar numa determinada área sem ter a organização como um todo pensada não faz muito sentido. Já não faz sentido falar de software de gestão; faz sentido falar de aplicações de negócio que possam, nesta transversalidade, responder às várias áreas que interagem com o mesmo negócio”. No entanto, Paulo Magalhães salienta que, seja software de gestão ou aplicação de negócio, “desde que se garanta que o objetivo final – que é o negócio – está sustentado e está a ser respondido”, não é tão relevante que tipo de solução – ou o nome que se dá a essa solução – se utiliza no dia-a-dia das operações da organização. Rui Sabino, CEO na Esri, refere que a empresa trabalhou sempre numa lógica de aplicações de negócio. “Hoje temos cada vez mais aplicações de negócio. São imensos os sistemas que existem nas organizações e o que nos compete responder e trabalhar com essas organizações são as suas estratégias de localização e, para nós, todos esses ecossistemas são relevantes”. Apesar de o foco da Esri ser muito específico, a empresa acaba por trabalhar de uma forma transversal dentro das organizações, desde a tomada de decisões até à parte da operação. Neste sentido, Rui Sabino menciona que o termo aplicações de negócio fazem muito mais sentido para o negócio da Esri e para os clientes que procuram os seus serviços.
“Hoje temos cada vez mais aplicações de negócio. São imensos os sistemas que existem nas organizações”- Rui Sabino, CEO, Esri
Para Teresa Canário, Solution Consultant na Infor, “aplicações de negócio não são mais do que software de gestão, mas dirigidos a determinados setores verticais. Atualmente, as empresas não procuram tanto um ERP genérico porque sabem que, potencialmente, vão ter um projeto mais longo, vão gastar mais tempo, mais dinheiro e, quando chegar ao final, ficará – seguramente – aquém das expetativas”. Assim, explica, “as empresas procuram um ERP que esteja desenhado para o seu negócio”, sendo esta “a fronteira” entre “o que são as aplicações empresariais”. As organizações já não procuram um ERP especificamente, “procuram uma solução para o seu negócio”. Pedro Pinto Lourenço, Diretor de Business Applications na Microsoft, indica que o caminho passa por “soluções modulares”. “Cada vez mais uma especialização e ter um foco muito mais verticalizado, mais orientado por indústria, tem sido o foco da grande maioria dos players que se encontram nesta área”. “Aquilo que vemos é uma necessidade muito grande das empresas em garantir uma agilidade muito maior”, diz o representante da Microsoft, acrescentando que as organizações procuram “garantir uma resiliência operacional quase constante”, e garantir, ao mesmo tempo, “um nível de interoperabilidade com novos sistemas que vão surgindo porque a tecnologia evolui a uma velocidade muito grande”. Ricardo Ramos, Global Market Intelligence na Qlik, explica que “qualquer fabricante de software de sucesso faz aquilo que o mercado está a pedir”. Neste sentido, as empresas estão à procura “de resolver problemas que têm nas suas organizações e os desafios que encontram no dia-a-dia. Todos os fabricantes que continuam a tentar impor as suas estratégias de tecnologia aos clientes vão – mais cedo ou mais tarde – ter alguns problemas daquilo que é o mercado; os clientes não querem que lhes venham impor uma forma de trabalhar ou de desenvolver as suas estratégias, querem é resolver os problemas que têm”. O Global Market Intelligence na Qlik refere, também, que “com as soluções orientadas para as integrações de dados cada vez mais evoluídas e fáceis de implementar e desenvolver, é mais simples para um cliente escolher o best of breed e escolher aquele que é o melhor do mercado para conseguir trabalhar”. João de Oliveira, Data Management & Decisioning Leader for SW Europe no SAS, refere que se está apenas “a discutir semântica”. “As aplicações de negócio vão gerir alguma coisa e, se vão gerir alguma coisa, acabam por ser software de gestão”, explica. Neste sentido, o conceito de software de gestão estava, há uns anos, muito ligado à gestão financeira e recursos humanos, “coisas muito contidas num determinado espaço e eram muito vistas dessa forma. Hoje não. São aplicações de negócios que gerem fluxos de negócios, end-to-end. Aplicações de negócio são um termo mais abrangente, mas não deixam de gerir alguma coisa”.
“O conceito de software de gestão estava muito ligado a um determinado espaço. Hoje, são aplicações de negócio que gerem fluxos de negócios”- João de Oliveira, Data Management & Decisioning Leader for SW Europe, SAS ERPO ERP ainda é um ponto importante no software empresarial das empresas, mas, atualmente, existem outras aplicações que são indispensáveis para os negócios. Simultaneamente, o ERP também se está a flexibilizar do ponto de vista da utilização. Jorge Carvalho, Managing Partner na Procensus Oak Peak, explica que os ERP se têm alargado para áreas que, até há uns anos, estariam “off-limits”. “Se olharmos hoje para um conjunto de aplicações ou tecnologias, como Internet of Things, análise em tempo real ou analítica preditiva, tudo isto são áreas que nem todos os ERP cobrem estas necessidades dos clientes”, esclarece. No entanto, “se pensarmos no que tem sido a evolução dos produtos e a tendência dos fabricantes, diria que a tendência é de que o ERP estenda o footprint e tenhamos cada vez mais soluções que são modulares, que podem ser adotadas e alteradas, mas que no seu todo constituem soluções únicas para o problema do cliente de uma forma integrada”. No que diz respeito à flexibilização, Jorge Carvalho defende que “todos somos utilizadores de tecnologia” e, consequentemente, “esperamos que as aplicações, incluindo as de gestão de negócio, sejam tão simples de utilizar como as várias aplicações que utilizamos nos smartphones. Essa é a expetativa dos clientes e os produtos têm evoluído nessa direção”. Rodolfo Luís Pereira, Enterprise Solutions Director na Noesis, afirma que existem “vários tipos de necessidades” nas organizações que “não orbitam necessariamente à volta só do ERP”. Atualmente, este tipo de software tem de garantir a produtividade, a colaboração entre os diferentes intervenientes e a interoperabilidade de maneira a que as várias fronteiras existentes entre aplicações se esbatem. Assim, explica o representante da Noesis, “falar só do ERP ou da facilidade que pode ter de utilização, é falar também de como é que ele se insere na organização como um todo, em conjunto com todas as outras aplicações” que estão presentes no dia-a-dia das empresas. “Passamos de uma vertente de software experience, em que é importante ter uma boa usabilidade, para uma lógica de quase organization experience em que tudo tem de falar com tudo, e isto é um grande desafio para garantir a interoperabilidade de todos os sistemas”.
“Já não faz sentido falar só do ERP per se, temos de falar sobre as várias aplicações que compõem a necessidade de responder aos desafios que as empresas têm”- Nuno Pereira, CEO, Blink IT Nuno Pereira, CEO na Blink IT, diz que, na prática, “já não faz sentido falar só do ERP per se, temos de falar sobre as várias aplicações que compõem a necessidade de responder aos desafios que as empresas têm”. As aplicações necessárias para cada empresa dependem do seu próprio negócio. Cada organização tem de perceber quais serão “as aplicações que vão ajudar o seu negócio, vão responder a eventuais requisitos legais e crescer e prosperar naquilo que são as dificuldades do dia-a-dia”. No passado, o ERP acabou por ter relevância porque “legalmente” as empresas foram obrigadas “a preencher alguns requisitos e porque havia uma necessidade de centralizar a informação num único sítio e a tecnologia não estava desenvolvida ao ponto de permitir tão facilmente como agora que todas as aplicações que existiam e que eram desenvolvidas por vários fabricantes comunicassem entre si. Houve uma necessidade de embeber numa única aplicação tudo aquilo que era necessário para gerir o negócio”, explica Nuno Pereira. Mauro Bastos, Enterprise Value Business Manager na JP.DI, menciona que, na ótica do Canal, “temos procurado seguir a estratégia que, na opinião da JP.DI, está muito bem montada da Microsoft. Temos uma panóplia de aplicações que se interconetam como um puzzle e que fazem com que tenhamos uma interdependência entre elas. Hoje, um diretor de vendas tem de saber exatamente a mesma informação que um diretor de marketing ou que o gerente do armazém. A informação tem de estar harmonizada e o ERP não pode, efetivamente, ser a única aplicação; temos várias aplicações que fazem parte deste conjunto de aplicações de negócio, como o CRM, com todos os módulos ao redor do ERP que fazem com que a base de dados e os data lakes sejam alimentados”. Esta interconexão entre aplicações leva a que os clientes tenham sempre a melhor decisão possível a tomar baseada nos dados disponíveis.
“Temos uma panóplia de aplicações que se interconectam como um puzzle e que fazem com que tenhamos uma interdependência entre elas”- Mauro Bastos, Enterprise Value Business Manager, JP.DI InteroperabilidadeCom o crescimento do número de aplicações, cresce, também, a importância de existir uma interoperabilidade entre as mesmas para que seja possível – de alguma maneira – eliminar os silos de informação. Rodolfo Luís Pereira partilha que a Noesis, enquanto integrador, tem uma elevada procura em, para além de fornecer as soluções de negócio, que podem ou não ser apoiadas em automação, garantir comunicação entre as várias áreas. É preciso “garantir que, de end-to-end, as coisas fluem e isso só é possível com a capacidade de integração”. Para isto acontecer, as ferramentas têm de ter API (Application Programming Interface) – que podem nem sempre funcionar da forma como os clientes querem – que trazem desafios. Apesar de os clientes não serem todos iguais, o Enterprise Solutions Director afirma que “não é possível encontrar um projeto em que não seja necessário falar de integração e interoperabilidade sobre aplicações, sejam elas utilizando ferramentas mais democratizadas e de perceber tudo aquilo que funciona e não funciona”. As organizações têm a necessidade de ter informação útil para o seu negócio e procuram – cada vez mais – reduzir os silos de informação, sejam eles organizacionais ou aplicacionais, e pôr os dados a trabalhar em função do negócio e não o inverso. É importante relembrar, também, que só se tiram valor dos data lakes se estes forem colocados a trabalhar em prol daquilo que são os objetivos de negócio das empresas, e não há nada melhor do que testar e fazer pequenos pilotos, e depois ir escalando à medida dos resultados e das necessidades. Jorge Carvalho refere que “a interoperabilidade pode estar à partida disponível nas próprias aplicações e existir essa facilidade de comunicação. No entanto, ela muitas vezes não existe, não é nativa nas várias aplicações que constituem o landscape do cliente e o trabalho do integrador é construir uma solução que assegura essa capacidade de comunicação, de standardização, de consolidação da informação para que, só assim, as organizações possam tirar partido dos sistemas e dos dados de que dispõem”. O Managing Partner acrescenta, também, que “há soluções que podem simplificar este processo, como a criação de standards de comunicação em determinadas indústrias – como acontece na saúde, por exemplo – onde depois os fabricantes de equipamentos como de software têm a tarefa facilitada quando se pretende integrar a informação que daí advém”. No entanto, ainda não existe esta criação de standards em todas as indústrias e a alternativa aos silos de informação que existem pode passar por “soluções de MDM [Master Data Management] que permitem criar um layer de tradução e de alinhamento da informação”. Jorge Carvalho defende, ainda, que os silos de informação “são os maiores destruidores de valor dos dados que as organizações dispõem e a forma como se pode ajudar os clientes é criar soluções e mecanismos que permitam a integração dessa informação”. Nuno Pereira indica que tudo aquilo que pode ser comum à organização deve estar centralizado, atualizado e disponível, algo que “é crítico” para as empresas. “No passado, o objetivo sempre foi manter uma coerência na utilização do software ou da aplicação que os utilizadores vão ter de usar nas organizações”. O CEO da Blink IT menciona, também, que “com o surgimento de cada vez mais aplicações desenvolvidas por vários fabricantes – e agora, inclusive, com as frameworks de desenvolvimento de low code ou no code onde os próprios clientes podem desenvolver aplicações – há novos desafios, uma vez que a gestão dessas mesmas aplicações se vai tornar mais difícil e temos de arranjar maneira de as manter, gerir e de garantir a evolução constante, se não vamos voltar ao passado, de ter uma série de aplicações desconexas e desatualizadas nas organizações. Simultaneamente, também é preciso ter o cuidado para manter o ambiente gráfico de todas elas para garantir uma rápida adoção e utilização por parte dos utilizadores sem grande dificuldade e com uma curva de aprendizagem” relevante para a organização.
“Cada vez mais uma especialização e ter um foco muito mais verticalizado, mais orientado por indústria, tem sido o foco da grande maioria dos players que se encontram nesta área”- Pedro Pinto Lourenço, Diretor de Business Applications, Microsoft
Data-drivenOs dados comandam os negócios. Poucas são as empresas que não aproveitam os dados nas suas decisões de negócios; as organizações que ainda não utilizam os dados terão de o fazer muito em breve sob risco de ficarem para trás. João de Oliveira explica que a tecnologia já chegou ao ponto em que as empresas conseguem ser data-driven. “O problema para as organizações serem data-driven tem a ver com a mentalidade e com as pessoas, e só depois com a tecnologia”, esclarece. O Data Management & Decisioning Leader for SW Europe do SAS diz que “a criação de catálogos de dados permite-nos servir as aplicações e áreas de negócio”. Depois, a democratização de inteligência artificial, machine learning e analítica vão ter um papel cada vez mais fundamental para as empresas. “Para mim, ser data-driven não é relevante; é mais interessante que decisões é que se tomam a partir dos dados. Podemos ter os dados todos, mas, no final, precisamos dos dados para tomar decisões”. Por vezes, os decisores podem ter acesso a todos os dados e não conseguir extrair daí nenhuma informação relevante, daí a importância de outras tecnologias de apoio, como a inteligência artificial. Pedro Pinto Lourenço concorda que o facto de as organizações não serem mais data-driven “não será certamente uma questão de tecnologia”, uma vez que a tecnologia “está mais do que apta a transformar as organizações”. Neste sentido, para além da interoperabilidade, as empresas também têm de ter um modelo semântico de informação sobre aquilo que são os sistemas de informação, independentemente dos fabricantes, para perceber quais são os dados relevantes da organização. Do lado da Microsoft, tem existido “um esforço muito grande para garantir que as ferramentas” disponibilizadas são, “acima de tudo, acessíveis a toda a gente, que são de fácil utilização, que é possível generalizar o acesso a inteligência artificial e que as pessoas que têm conhecimento dos processos de negócio estejam a tirar proveito das várias ferramentas”. Só assim é possível capacitar os colaboradores a tirarem o máximo de informação dos dados gerados por uma empresa. “Acho que, atualmente, temos, por vezes, um problema de desadequação entre os softwares e as necessidades dos utilizadores finais”, diz Ricardo Ramos, que acrescenta que “há muitos projetos que são iniciativas de IT que não levam em consideração as especificidades dos utilizadores”. Essa desadequação terá uma consequência visível: a fraca adoção por parte dos utilizadores, que leva a que as empresas não sejam tão data-driven. “Uma componente importante é a data literacy”, explica. O representante da Qlik relembra que a literacia ‘normal’ – de ler e escrever – foi crucial para a revolução industrial, uma vez que permitia passar instruções por escrito aos funcionários. “A literacia de dados vai ser fundamental para que as pessoas possam, de facto, tirar proveito desses dados. Se tiverem reais ferramentas de self-service, em que qualquer utilizador liga o seu computador, acede a um browser e consegue manipular a informação com a ajuda de ferramentas de inteligência aumentada”, vão conseguir tirar informações mais relevantes para o negócio. Na opinião de Teresa Canário, “a tecnologia existe, mas as empresas ainda não estão a tirar partido dela”. Para que as empresas sejam mais data-driven, deve-se democratizar o acesso aos dados. “Deve-se fazer com que os utilizadores possam ver o ‘what’s in need for me’, porque se tivermos a tecnologia e tivermos acesso a big data, mas continuamos a trabalhar com as folhas de Excel porque com aquelas é que se entendem e vão diretamente à informação, então as empresas vão continuar a não ser data-driven. As empresas são pessoas e tem de ser dada a possibilidade de os colaboradores dos vários departamentos entenderem que existe tecnologia para que os dados possam chegar aos micro silos, aquela informação que, tradicionalmente, todas têm”, até porque as empresas ainda continuam a trabalhar nas folhas de Excel, algo onde, segundo a Solution Consultant da Infor, tem de ser alterado o paradigma. Rui Sabino refere que a Esri “não vive sem os dados”, até porque, sem eles, “não conseguimos colocar as nossas soluções ao dispor dos nossos clientes e utilizadores”. “Um ponto diferenciador para que as empresas possam ser data-driven é a simplicidade. Temos visto a alargar a utilização de tecnologia dentro das organizações e quando levamos informação de valor, às vezes muito simples, as pessoas percebem a importância dos dados que têm nas suas organizações e sentem-se motivadas a fazer uma gestão, a criar os catálogos, a serem proativas na gestão de informação e à procura de informações para que os dados comecem a fazer sentido e acrescentem valor”, afirma. Deste modo, explica o CEO da Esri, a simplicidade é, muitas vezes, “o fator chave”. Levar coisas simples aos decisores tem sido importante para que as organizações percebam que têm de ter uma dimensão e fazer uma aposta nos dados.
”As empresas não procuram tanto um ERP genérico porque sabem que vão ter um projeto onde vão gastar mais tempo, mais dinheiro e, quando chegar ao final, ficará aquém das expectativas”- Teresa Canário, Solution Consultant, Infor Stack empresarialO software mínimo indispensável evoluiu. Ainda que varie consoante as empresas, as organizações já não podem ter apenas o ERP e o CRM, mas sim um conjunto de outros softwares que vão melhorar as operações da empresa. Pedro Pinto Lourenço indica que definir qual é o software mínimo indispensável é difícil. “Depende de empresa para empresa, de negócio para negócio, de indústria para indústria. Diria que o software para gerir o seu dia-a-dia tem de existir, seja a componente de recursos humanos ou financeira. Depois, há outros temas mais estruturais. Muitas vezes, desvaloriza-se a parte colaborativa, mas, atualmente, as ferramentas de colaboração são fundamentais; aliás, se não fossem estas ferramentas, como é que teríamos feito numa situação de pandemia, como teríamos garantido que a empresa continuava a trabalhar”. O Diretor de Business Applications acrescenta que “o stack tecnológico é tão alargado que não diria que uma empresa precisa de um CRM ou um ERP; se calhar precisa de um conjunto de serviços para suportar aquilo que é a sua atividade e nem sequer necessita de ter esses serviços [CRM e ERP] na sua organização”. Assim, a tendência passa por criar um modelo comum de informação que está integrado na empresa. Teresa Canário concorda que o stack mínimo empresarial “depende muito de empresa para empresa”. Ainda existe uma diferença entre o stack empresarial que existe nas empresas e aquele que, idealmente, deveria existir nessas mesmas organizações. “Acho que o stack empresarial atual – e falo das empresas de manufatura – não difere radicalmente daquilo que existia há dez ou 20 anos; acho é que a wishlist é cada vez mais poderosa. Continuamos a ter uma grande base no ERP, as empresas continuam a precisar de fazer a gestão de recursos humanos, processamento de salários, entre outros”. A Solution Consultant da Infor acredita que “a conjuntura atual da pandemia foi um catalisador da transformação dessa wishlist em realidade, principalmente nas plataformas colaborativas, a importância de interagir com soluções mais interativas que alertam os utilizadores para as notificações que lhes são mais importantes e, preferencialmente, até de uma forma mais móvel, seguindo uma lógica de ‘work the way you live’”. Mauro Bastos é da opinião que “a cloud é a grande facilitadora do processo de adoção do que se está a passar hoje no ambiente de software”. O Enterprise Value Business Manager defende que “hoje, com uma facilidade enorme, o Dynamics [365, da Microsoft] e toda a plataforma está disponível numa oferta – através do Canal – de CSP, Cloud Solutions Provider. Isso fez com que muitas empresas pudessem ganhar o gosto pela oferta e onde os clientes finais não têm mais que fazer investimentos muito altos; a cloud foi uma disrupção no mercado. Para além disso, hoje, qualquer pessoa pode capacitar-se gratuitamente em Dynamics 365 independentemente do módulo, seja do mais básico ao mais avançado”. As organizações têm assistido à democratização da informação e não se sentem, em determinados momentos, muito afrontados por conta da diluição dos custos quando estes softwares, necessários para as suas atividades, estão disponíveis na cloud. Ricardo Ramos refere que a questão do stack empresarial é muito interessante “porque há muitos fabricantes que começam a diluir a abordagem aos stacks tradicionais. Como se referia atrás, a questão da semântica está a diluir-se e há cada vez mais ferramentas que tocam em mais do que um ponto e resolvem mais do que um problema”. O representante da Qlik diz, também, que “há muitas organizações que estão dependentes de algumas soluções – como de faturação –, mas depois, a partir daí, é uma questão de gestão. Mesmo a questão da faturação é porque há imperativos legais com obrigações que têm de ser cumpridas. Há organizações, mesmo com alguma dimensão, em que os sistemas eram ficheiros que partilhavam nas redes. Há espaço para tudo”. Neste sentido, a cloud veio agilizar o processo e “veio trazer um time-to-value muito mais acelerado para as organizações”.
“As empresas estão à procura de resolver os problemas que têm nas suas organizações e os desafios que encontram no dia-a-dia”- Ricardo Ramos, Global Market Intelligence, Qlik PersonalizaçãoUm dos pontos distintivos do software empresarial é a sua extensibilidade e capacidade de personalização. Contudo, com a necessidade de implementação de novas versões de forma cada vez mais acelerada, esta personalização nem sempre se verifica e, por vezes, opta-se pela padronização. Rui Sabino, da Esri, partilha que, há alguns anos, “fizemos uma grande transformação tecnológica neste sentido, isto é, a plataforma pode ser utilizada de várias maneiras, pode ser estendida, mas aquilo que foi o foco foi a capacidade de configuração e a simplicidade. Os nossos clientes não são muito tecnológicos, mas têm um conjunto de necessidades de negócio e tivemos de fazer essa mudança para dar uma plataforma tecnológica para as pessoas para, rapidamente, pegar num conjunto de informação, integrar com outras plataformas, e garantir que o stack tradicional não era um problema e passámos a ser mais transversais. Deixámos de ter aqueles projetos que demoram um, dois ou três anos para implementar um sistema; hoje temos projetos que demoram dois dias, 15 dias, três meses, seis meses… mais do que isso já é um projeto de maior complexidade”. João de Oliveira, do SAS, menciona que tem de existir um balanço entre a rapidez de implementação e a personalização à medida do cliente. “Por um lado, está pré-configurado e os projetos são mais rápidos” de serem implementados; por outro, a capacidade de extensão. O SAS tem feito Parcerias com outras empresas para que ambos possam utilizar as plataformas. “É poder ter um pré feito, mas ter a capacidade de estender através de plug-and-play, a capacidade de estender, mas sem ter de desenvolver num projeto de meses”. Assim, as empresas podem adquirir um software padronizado e complementar com plugins ou aplicações que façam sentido para as suas operações.
“Todos somos utilizadores de tecnologia e esperamos que as aplicações de gestão de negócio sejam tão simples de utilizar como as apps que temos nos smartphones”- Jorge Carvalho, Managing Partner, Procensus Oak Peak
Jorge Carvalho, da Procensus Oak Peak, refere que “temos assistido a uma evolução drástica no que era um pacote de ERP há 25 anos e na aversão que alguns clientes tinham às aplicações, na dificuldade de adoção e na necessidade de fazer um esforço adicional para facilitar essa adoção”. Atualmente, “as aplicações são realmente focadas e têm evoluído na facilidade de utilização e em garantir que são facilmente personalizáveis ao processo de negócio ou às necessidades específicas do cliente”. As aplicações têm disponibilizado camadas de framework que permitem a construção de soluções cuja integração com o core já é nativa. Paulo Magalhães sente que o primeiro passo é olhar “até que ponto é que o que os clientes têm dentro de casa pode ser reutilizado”. Dentro das organizações, o sentimento é de que “há muita tecnologia – tecnologia a mais – e uma necessidade de utilizar essa tecnologia”. Há outras organizações que “acabam por apresentar uma suite tão completa que, de alguma forma, é incentivador para os clientes”. O representante da EasyVista acredita que “estender mais do que aquilo que é considerado normal, é difícil” para algumas empresas. A padronização, com o seu time-to-market reduzido, é uma das coisas que os clientes atualmente procuram numa solução. Segundo Rodolfo Luís Pereira, da Noesis, os clientes têm-se apoiado no ‘fail fast’. “Fazer projetos curtos, onde se implementa tecnologia, onde se testam resultados e se aprendem com os mesmos, e se não funciona troca-se por outra coisa, mas sempre apoiado no que as plataformas de base têm, ou que possam ser estendidas com soluções – como conetores, plugins ou widgets –, é onde vemos que os clientes se têm apoiado e fazem esse trabalho. Ao mesmo tempo, muitos dos fabricantes têm trazido para o mercado um rapid pacing de entrega de produtos e soluções, seja em modelos SaaS ou release, já não estamos a falar de esperar um ano ou mais por uma major release que traz um conjunto novo de coisas e onde, nesse interregno, as empresas tinham de agir, tinham de desenvolver”. Nuno Pereira, da Blink IT, acrescenta que “a verdade é que enquanto não mudar a cultura – neste caso a portuguesa –, os clientes são todos diferentes, especiais. O objetivo de qualquer fabricante é que as suas aplicações sejam utilizadas como são – ainda que com muita flexibilidade de configuração. Mesmo as empresas, explica, “querem um projeto rápido de implementar, usar os standards, adotar as melhores práticas que os grandes fabricantes estudaram, desenharam e testaram, mas depois, ao longo da implementação, vamos sempre debater-nos com surpresas, onde algo tem de trabalhar de determinada maneira porque a empresa está habituada a trabalhar assim. O desafio para quem desenvolve software é disponibilizar as soluções de maneira a que possam continuar a crescer facilmente, a acoplar alguns verticais e funcionalidades, sem colocar em causa aquilo que é o core da aplicação em si”.
“Falar só do ERP ou a facilidade que pode ter de utilização, é falar também de como é que ele se insere na organização como um todo, em conjunto com todas as outras aplicações”- Rodolfo Luís Pereira, Enterprise Solutions Director, Noesis Oportunidades para o CanalÀ semelhança de outros mercados, há várias oportunidades que os Parceiros podem aproveitar no mercado de software empresarial. Pedro Pinto Lourenço (Microsoft) refere que a grande oportunidade é, “olhando para a base instalada que os clientes têm atualmente, potenciar os modelos de desenvolvimento ágil. É aí que vemos a grande oportunidade e temos feito uma aposta muito significativa para possibilitar aos Parceiros estender aquilo que são as plataformas de gestão através de mecanismos de low code”. Nos últimos anos, a Microsoft tem apostado na simplicidade para levar a tecnologia a todos. Neste sentido, a empresa integrou vários modelos nas diferentes plataformas e os Parceiros podem expandir as aplicações atuais ao criar soluções à volta dos ERP e CRM. Mauro Bastos (JP.DI) reforça que há “muitos incentivos” por parte da Microsoft na migração do negócio para a cloud e de toda a estratégia do Dynamics 365. “Acho que os Parceiros têm, atualmente, uma grande oportunidade de rentabilizar os negócios através de soluções Microsoft, não só pela venda do produto, mas pela prestação de serviços de valor acrescentado”, explica. Esta rentabilidade chega, também, porque a plataforma Dynamics 365 requer um nível de serviços que “não é simples, é realmente avançado”. “Estamos a evoluir mais do ponto de vista de analytics”, que é o negócio da Qlik, indica Ricardo Ramos. Esta é uma área onde “há grandes oportunidades para o Canal. O IT já entendeu o seu papel e não pode centralizar todas as tarefas, mas, por outro lado, o negócio não pode criar estruturas completas de IT independentes do IT central. O que existe atualmente é uma ligação onde o IT tem um controlo mais do ponto de vista de governance e integração de dados para o negócio trabalhar a partir daí. Acho que o grande desafio – e oportunidade – para os Parceiros é conseguirem entender esta diferença e não ficarem presos apenas nos projetos do IT, uma vez que há muitos outros projetos que ficam perdidos nas áreas de negócio”. Nas áreas de analítica avançada, machine learning e inteligência artificial, “o Canal de Parceiros é fundamental para o SAS”, diz João de Oliveira. “O SAS está a investir imenso na área de intelligent decisioning, ou seja, o objetivo de tudo o que fazemos nas organizações é tomar uma decisão servida por modelos que requerem muito conhecimento do negócio porque todas as árvores de decisão podem fazer recursos analíticos e altamente complexos e isso é muito importante; é uma área onde os Parceiros podem – e devem – abraçar porque é o futuro” para a tomada de decisões nas organizações. Teresa Canário partilha que, desde abril deste ano, a Infor assistiu a um aumento de 112% em subscrições SaaS em todo o mundo, assim como um aumento de 200% de atualizações para a cloud. Existe, assim, uma “grande oportunidade – e os números falam por si – para os Parceiros”. A Infor conta com um grande número de soluções, como ERP, asset management e aplicações financeiras, entre outros, e a estratégia da empresa passa pelos Parceiros. “Existe um capital enorme, uma oportunidade e um momento de passagem de clientes com modelos on-premises para cloud”, refere. As soluções da Infor estão verticalizadas e conta com “tudo aquilo que se quer e tudo aquilo que as empresas que estão no mercado têm de ter”. Para as Esri, os Parceiros “são um pilar, são muito importantes naquilo que fazemos”. Rui Sabino afirma que a empresa está “avidamente a recrutar Parceiros internacionais e nacionais que tenham interesse em explorar este novo conceito de location intelligence”. A organização tem tido “a felicidade de perceber que as empresas entendem a localização como algo estratégico porque tudo acontece num sítio e tudo tem de ser gerido em algum lugar, que é algo que temos feito bastante. Há um grande whitespace para que os Parceiros venham trabalhar connosco”. |