Rui Damião em 2022-7-13

A FUNDO

Mesa Redonda

A evolução do mercado de servidores, armazenamento e virtualização

Os dados continuam a crescer e os servidores não perderam a sua importância para as organizações. À medida que os negócios se tornam digitais, aumentam as necessidades de investimento na área. Fujitsu, HPE, IP Telecom e Toshiba destacam as oportunidades e os desafios do mercado de servidores, armazenamento e virtualização

A evolução do mercado de servidores, armazenamento e virtualização

Como caracterizam o mercado atual de servidores em Portugal e como é que evoluiu no último ano?

Luís Rilhó, Solution Business Manager, HPE: “Estamos num momento desafiante, com algumas dinâmicas a acontecer ao mesmo tempo. No entanto, o mercado tem estado a crescer de uma forma bastante acelerada no último ano. Apesar de não haver dados concretos do mercado português, sentimos no mercado de servidores um acelerar de implementação de novas soluções e tecnologias. Do lado dos desafios temos vários: aumento do custo dos componentes, dificuldades de produção e há um stress enorme no supply chain, principalmente no transporte de componentes a partir do oriente”

Nuno Leonardo, Data Center Business Development Manager, Fujitsu: “É sempre complicado ter acesso a números fidedignos que se restrinjam puramente ao nosso mercado. Ainda assim, que temos visto é uma recuperação do mercado, embora me pareça que existe uma recuperação a dois tempos; temos o médio-grande cliente que está numa altura de desenvolvimento e de criação de novos projetos e que se traduz em novos negócios, mas, por outro lado, nas pequenas empresas – nomeadamente Parceiros de menor dimensão – tenho ideia de que a recuperação não está a ser tão rápida quanto seria desejável”

João Miranda, Pre-Sales & Innovation Engineer, IP Telecom: “A nossa perspetiva é significativamente diferente, mas, por outro lado, a natureza do nosso negócio é que esse mercado são a nossa base e precisamos para colocar valor e chegar aos nossos clientes. No último ano, as coisas têm estado a recuperar, em alguns casos até a aquecer. Estamos a crescer um bocadinho mais e a perspetiva é que isso se mantenha; no entanto, a questão das entregas é um desafio. A exigência dos clientes não mudou muito; têm noção de que houve alterações com a pandemia e a guerra, mas, em última análise, a exigência dos clientes não muda muito”

“A inflação pode dificultar a criação de algum negócio, mas, por outro lado, há ventos a favor, como o PRR e as verbas que vão ser injetadas”


Marco Vicente, Sales Manager, Toshiba

 

Marco Vicente, Sales Manager, Toshiba: “Olhando para os dados de 2021 em relação ao mercado de HDD, é possível ver duas tendências opostas. Temos uma área client-drive em decréscimo que será a área que estará a ser naturalmente substituída pela tecnologia SSD; depois, as áreas enterprise e de integração registam crescimentos – mesmo comparando com anos anteriores a 2020 – de dois dígitos. Isto reflete a necessidade de armazenamento de cada vez mais informação e essa é a tendência que prevemos. Temos vindo a verificar que os produtos tecnológicos geram aumentos, e não decréscimos, de preços como acontecia há alguns anos”

A necessidade de tratar maiores volumes de dados está a levar à substituição dos equipamentos por parte das organizações?

Nuno Leonardo, Fujitsu: “O incremento de dados, mais do que substituir equipamentos, leva a que o data center seja repensado como um todo. O aumento de dados pressupõe a capacidade de armazenamento nos diferentes tiers. Há um outro tema que está cada vez mais associado ao armazenamento de dados que é a segurança dos mesmos. O próprio crescimento de dados leva a que o ciclo da informação tenha de ser visto de uma forma muito mais homogénea, o que leva a que quer as plataformas, quer as soluções de arquivo sejam repensadas”

 

“[Virtualizar os servidores e processamento] já é, hoje, um dado adquirido; já há muitos poucos exemplos onde não se virtualize por defeito e onde a abordagem não é logo essa”


João Miranda, Pre-Sales & Innovation Engineer, IP Telecom

João Miranda, IP Telecom: “Os volumes de dados estão sempre a crescer; isso já não é uma novidade e não se vê abrandamento à vista. Os workloads que mais crescem são coisas como machine learning e IoT, por exemplo, e tudo isso implica um crescimento enorme dos dados. O mercado de consumo já se habituou a caixas de email e serviços de file sharing sem fundo. O que se vê cada vez mais não é só o crescimento de dados, mas as preocupações com coisas como a continuidade de negócio, segurança e compliance, que estão cada vez mais ligadas”

Luís Rilhó, HPE: “É preciso não esquecer que viemos de uma crise financeira e, depois, tivemos uma pandemia. Houve clientes que não tiveram capacidade de investimento durante um longo período para fazer face às suas novas necessidades de negócio. Por vezes, encontramos clientes que, durante muito tempo, retiveram o investimento e pagaram os contratos de manutenção, mas, em algum momento, é preciso renovar. Encontramos clientes que procuram renovar as suas infraestruturas fruto deste largo tempo com falta de investimento”

Como é que está o mercado de armazenamento em Portugal?

Marco Vicente, Toshiba: “Quando falamos de discos enterprise, estamos a falar de discos para utilização em data centers, NAS, pequenos servidores ou sistemas de vigilância. Estes discos estão a registar crescimentos de mercado acentuados. A nível mundial, em 2019, foram produzidos 41 zetabytes de informação; em 2022, essa produção passa para 97 zetabytes. É mais do que duplicar a informação gerada. A previsão para 2025 é 181 zetabytes. Esta quantidade de informação é uma enormidade e tem de ser armazenada em algum lado”

Nuno Leonardo, Fujitsu: “O que temos feito é integrar nas nossas ofertas os desenvolvimentos tecnológicos que os nossos Parceiros e fabricantes de tecnologia vão disponibilizando para o mercado. Ainda assim, temos visto que é pedido com maior frequência a capacidade de uma integração híbrida dos sistemas de armazenamento, a facilidade de integração daquilo que é o armazenamento on-premises com aquilo que são as ofertas de cloud pública, de forma que sejam transparentes, quer do ponto de vista de utilização, quer do lado de gestão e orquestração”

João Miranda, IP Telecom: “Tecnologicamente falando, o armazenamento tem sido uma das áreas que tem evoluído de uma forma bastante acentuada, mas mais no sentido de uma certa heterogeneidade. Em tempos, havia storage primário e pouco mais. As coisas têm evoluído bastante e temos sentido que essa preocupação não vem sozinha; continuidade de negócio e segurança vêm agarradas e essa tem sido uma tendência muito forte da esmagadora maioria dos nossos clientes nos últimos tempos”

O data center caminha para a virtualização total? Qual é o atual grau de maturidade das organizações portuguesas em termos de virtualização de redes e armazenamento?

João Miranda, IP Telecom: “O data center caminha para a virtualização total, pondo em perspetiva o que é o total. Diria que o que podemos chamar de primeira geração da virtualização começou com os hypervisors há uma série de anos fez-se pela parte dos servidores e processamento e não tanto pelo storage ou redes. Mas diria que essa primeira geração de virtualização já é, hoje, um dado adquirido; já há muitos poucos exemplos onde não se virtualize por defeito e onde a abordagem não é logo essa”

“O aparecimento das clouds públicas não tirou nenhuma relevância nem aos servidores, nem ao armazenamento, da mesma forma que a virtualização não deixou que se deixasse de vender servidores”


Nuno Leonardo, Data Center Business Development Manager, Fujitsu

 

Nuno Leonardo, Fujitsu: “Hoje, serão muito poucas ou nenhumas as organizações que não têm virtualização, mas isso não quer dizer que, ao lado da virtualização, não disponham de um ou outro sistema legacy que, muitas vezes, estão presentes não por uma questão tecnológica, mas por questões associadas a licenciamento, temas que ainda são de alguma forma penalizados por integrarem as aplicações em hardware disperso, em vez de o manter num único equipamento”

As clouds híbridas abrem a porta para que o mercado de servidores e armazenamento se mantenha relevante?

Luís Rilhó, HPE: “O armazenamento e os servidores nunca deixaram de ser relevantes no contexto de data center. De facto, há uns anos a cloud pública era o remédio para tudo, algo que se veio a provar que não é verdade. A cloud pública trouxe um desafio para o mundo on-premises e, graças a esses desenvolvimentos, evoluímos bastante no contexto de data center para equilibrar a experiência, ou seja, o cliente pretende ter uma experiência igual ou parecida no on-premises e na cloud pública. As tecnologias de hybrid cloud vieram tornar essa experiência cada vez mais próxima”

Nuno Leonardo, Fujitsu: “Enquanto fabricante, o aparecimento das clouds públicas não tirou nenhuma relevância nem aos servidores, nem ao armazenamento, da mesma forma que a virtualização não deixou que se deixasse de vender servidores. Estes modelos híbridos vieram trazer um desafio adicional aos fabricantes e aos Parceiros; desde logo, a forma de facilitar, de gerir ou orquestrar um ambiente on-premises com o mesmo tipo de experiência de quem trabalha numa cloud obrigou a ter de olhar para a tecnologia e a forma como a entregamos”

João Miranda, IP Telecom: “Disponibilizamos modelos muito parecidos com as clouds públicas – com as devidas diferenças – do ponto de vista de negócio e tecnológico, mas também conseguimos disponibilizar uma série de outros modelos que, tipicamente, as clouds públicas não têm e não estão vocacionadas para dar. Do ponto de vista híbrido, estamos nessa encruzilhada enquanto provider de cloud; temos muita coisa que podemos chamar cloud pública, muita coisa que podemos chamar de cloud privada, temos mistura das duas coisas, clientes que usam muito on-premises na nossa cloud pública”

Marco Vicente, Toshiba: “Enquanto fabricante de unidades de armazenamento, independentemente do modelo utilizado – seja público ou privado – a relevância é sempre total. Produzimos e disponibilizamos unidades de armazenamento para qualquer um dos modelos; a partir do momento em que existe uma necessidade de armazenamento independentemente do modelo, para nós é sempre relevante fornecer e disponibilizar a solução ao cliente”

Qual será o impacto do Plano de Recuperação e Resiliência nas infraestruturas de IT?

Nuno Leonardo, Fujitsu: “Esperamos que possamos todos embarcar no comboio da modernização e da digitalização que é um dos principais pilares do PRR. Terá existido algum atraso em começar a ver a implementação e utilização destes fundos, também muito por causa dos acontecimentos do final do ano passado. No entanto, este tempo foi usado pelas várias entidades para que tenham a necessária calma para construir os seus planos e para que não seja uma renovação tecnológica simplesmente por renovação, que seja um adicionar de capacidades, de funções e de serviços”

João Miranda, IP Telecom: “Esperamos que seja um impacto muito significativo e julgo que sim; trata-se de uma oportunidade. O PRR tem um foco muito significativo na parte da transição digital e tudo o que acarreta. Mesmo naquilo que não advém diretamente para as infraestruturas de IT diretamente do PRR, de forma indireta também vai contribuir para a dinamização e crescimento do mercado em geral. Nos dias que correm, para construir uma ponte, há um investimento significativo em IT”

Marco Vicente, Toshiba: “O atraso da aprovação do orçamento de Estado atrasou a implementação das verbas do PRR; isso não implica que não sejam aplicadas, significa é que se consiga ultrapassar as burocracias que normalmente estão inerentes a este tipo de processos porque, normalmente, afasta uma grande parte do tecido empresarial que não têm capacidade para cumprir ao detalhe todos os requisitos que são exigidos para serem legíveis para estas vendas. A transição digital irá provocar um aumento da produção de dados e a consequente necessidade do seu armazenamento”

 

“Por vezes, encontramos clientes que, durante muito tempo, retiveram o investimento e pagaram os contratos de manutenção, mas, em algum momento, é preciso renovar”


Luís Rilhó, Solution Business Manager, HPE

Luís Rilhó, HPE: “O tema do PRR está muito focado no setor público, mas é preciso não esquecer os outros fundos da Europa que não são do PRR, para o qual temos direito e são muito relevantes. Se somarmos as duas coisas, a quantidade de recursos financeiros que vêm em direção a Portugal nos próximos anos são muito relevantes. Isto vai ter um impacto importantíssimo no nosso setor, até porque grande parte dos eixos de investimento são na digitalização, na transformação digital e na inovação, todas estas coisas que endereçamos”

Quais são os desafios e as oportunidades para os Parceiros de Canal?

João Miranda, IP Telecom: “Focamo-nos muito naquilo que somos – ou gostaríamos de ser – mais fortes e competitivos e tentamos contar o mais possível com os nossos Parceiros para chegar ao mercado. Temos feito uma aposta grande nos Parceiros e no Canal indireto, até porque há muitas oportunidades que vão chegar e que nós, IP Telecom, consideramos que os Parceiros de Canal são a melhor forma de abordar os assuntos e fazer chegar os nossos produtos aos clientes finais de uma forma que acrescente valor”

Luís Rilhó, HPE: “Se estivesse no setor do turismo e me dissessem que iam chegar imensos turistas, ia ficar muito contente. É isso que vai acontecer no IT. Vamos ter muitos recursos por parte dos clientes, fruto do PRR e dos fundos europeus. Os próximos desafios vão ser pedir novas soluções, estar preparado para entregar essas novas soluções – algumas inovadoras que os Parceiros podem não conhecer tão bem –, tendo de existir um ajuste entre a procura esperada do mercado e uma maior capacidade do nosso lado. Os Parceiros têm de se preparar para o que aí vem”

Marco Vicente, Toshiba: “A situação macroeconómica não parece ser favorável; a inflação pode dificultar a criação de algum negócio, mas, por outro lado, há ventos a favor, como o PRR e as verbas que vão ser injetadas, também da própria informação gerada por todos nós… tudo isto são oportunidades que podem ser aproveitadas. A oportunidade existente no mercado não se limita a Portugal. Temos um país muito bom em determinadas questões, mas há uma realidade: a população é cada vez mais envelhecida o que não ajuda a geração de negócio”

Nuno Leonardo, Fujitsu: “Os próximos tempos são de oportunidade – como o PRR e fundos adicionais que continuam disponíveis. Vai haver oportunidade e o negócio vai-se continuar a fazer. Por outro lado, existe o desafio; nos últimos anos isto mudou muito e, nestas oportunidades, os clientes vão fazer solicitações muito diferentes daquelas que estavam a fazer há dois ou três anos. Isto implica um esforço adicional do fabricante, mas também dos seus Parceiros, para estarem alinhados e dar resposta às necessidades dos clientes”

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